Representantes do governo federal, sociedade civil e administradores privados de ferrovias e hidrovias se encontraram para debater a logística do agronegócio durante a 28ª edição da Intermodal South America, em São Paulo. Essas conexões estratégicas entre o setor público, o privado e os cidadãos são consideradas fundamentais para um país que tem quase 30 milhões de m² de condomínios logísticos, e o encontro ainda aconteceu no local certo, já que 80% dos condomínios inaugurados no ano passado foram no estado paulista.

O Ministério dos Transportes esteve representado no painel “Conexões Estratégicas: Logística do Agronegócio” da Intermodal com José Eduardo Guidi, diretor de Infraestrutura Ferroviária do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Ele explicou como o governo “virou a chave” para investir em diferentes modalidades de circulação de cargas, e não apenas as rodovias, o que é um gargalo antigo do nosso país.

“A intermodalidade é fundamental para que o Brasil tenha competitividade e entre de vez para os maiores players no cenário mundial de transporte. Isso porque as áreas de pastoreio estão se transformando também em áreas para cultivo de grãos, então é preciso aumentar a capacidade de escoamento, senão é o frete quem vai aumentar. Para encontrar a solução, o produtor tem que dialogar com o caminhoneiro, que tem que dialogar com o operador de trem, depois com o aquaviário, o responsável pela cabotagem e pela exportação. Nessa cadeia, o papel do governo é o macro, da política pública”.

O que falta para utilização maior de ferrovias e hidrovias?

A malha ferroviária brasileira, que já chegou a ter 34 mil km de extensão nos anos 1950, hoje ainda é robusta, com 30 mil km espalhados por 22 estados – e por isso é uma opção viável para desafogar tipos específicos de carga. O vice-presidente Comercial da companhia ferroviária Rumo Logística, Eudis Furtado Filho, ressaltou as soluções que estão sendo adotadas hoje nesse modelo de transporte, considerando que o Brasil já figura entre os maiores exportadores de soja e milho do mundo, competindo diretamente com a China e os Estados Unidos.

“Neste momento, por exemplo, ainda estamos com valor de 2 a 3% mais barato para colocar uma tonelada de soja na China do que o preço cobrado pelos Estados Unidos. E o segredo é termos uma rede de infraestrutura com capacidade adequada para o volume de produção de grãos, já que o Brasil é responsável por 45% do trade global de soja e milho. A cadeia é muito sensível a qualquer movimento de grande performance, então temos iniciativas de investimento para destravar gargalos, seja nos pontos de descarga dos caminhões, no transbordo para os vagões ou no agendamento de entregas”, explicou Eudis Furtado.

Para que as hidrovias brasileiras sejam melhor aproveitadas, Gleize Gealh, COO da Hidrovias do Brasil, acredita que é preciso atacar a burocracia, simplificando o sistema de notas fiscais e documentos de circulação e reduzindo o preço do frete, o que “traria maior capacidade para esse modal sem necessitar um maior investimento”.

“Esforços sem harmonia”

Para o diretor de Supply Chain da Cargill América do Sul, a intermodalidade de transportes não basta. Ricardo Nascimbeni, acredita que a cadeia de suprimentos é uma conexão de várias logísticas que precisam ser harmônicas entre si, e o Brasil precisa crescer sua infraestrutura urgentemente, ou irá colapsar diante dos competidores.

“Investir em logística demanda um capital extremamente elevado, e é necessária eficiência associada à velocidade de carga e descarga para recuperar o capital. A competitividade do Brasil está em jogo, e por isso precisamos de alinhamento que permita crescer em solavancos. Hoje o nosso país cresce em ondas. Falta sentar e conversar, como estamos fazendo aqui neste painel, porque há esforços do governo e das empresas, mas sem harmonia entre eles”, afirmou o diretor da Cargill.

O painel “Conexões Estratégicas: Logística do Agronegócio”, realizado durante o ciclo de debates Interlog Summit, na 28ª edição da Intermodal South America, foi mediado pelo diretor-executivo do Movimento Pró Logística de Mato Grosso, Edeon Vaz Ferreira.

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