Alternativa de transporte que envolve a navegação pela costa entre portos do país, a cabotagem é uma excelente alternativa para um país de dimensões continentais e com uma extensa costa como o Brasil.
Com o título “Cabotagem: uma opção logística”, o assunto foi um dos temas abordados na Intermodal 2023, principal evento dedicado ao setor da logística e supply chain na América Latina, recentemente realizado em São Paulo.
Participaram da apresentação Luis Fernando Resando, diretor-executivo da ABAC – Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem, e Simone Oliveira, assessora de Relações Internacionais da Log-In Logística Intermodal.
Confira mais do que os especialistas falaram sobre a cabotagem neste artigo!
O potencial da cabotagem brasileira e o atual cenário do segmento
Resando iniciou o encontro com a apresentação de um filme que fala sobre a atuação e importância da cabotagem no Brasil. Como destaque, o modal tem à disposição 8 mil km de rotas livres de trânsito que conectam o país por seu litoral.
“Nós da cabotagem vendemos um serviço. Quem escolhe o modal, como vai mandar sua carga, são os clientes. Você escolhe e sabe quanto vai pagar, então não somos competidores com outros modais, mas sim como uma opção para o usuário”, observou o representante da ABAC.
Além da cabotagem, o palestrante comentou que a ABAC também tem entre seus associados empresas que realizam navegação de longo curso focada especialmente na América do Sul, como Argentina, Uruguai e Chile.
Resando comentou a importância do uso de navios de bandeira brasileira, o que garante a soberania do país, minimizando a dependência dos fretes praticados por empresas estrangeiras, que podem variar por impostos e tarifas monetárias.
Ele também relembrou que a agência alerta para a presença da cabotagem brasileira nesse mercado de longo curso, em especial para commodities, cujo frete por vezes costuma ser mais caro que a própria carga, gerando déficit na balança de serviços.
“Hoje o transporte de longo curso exercido pelas empresas brasileiras de navegação é o de petróleo, pois ele precisa ser exportado por uma empresa brasileira de navegação, então quem faz isso é apenas a Petrobrás”, situou.
Segundo Resando, a ABAC embarca 10 grupos econômicos associados que possuem mais de 70 navios de bandeira brasileira. O palestrante citou um estudo do ILOS que mostra que o Brasil é um dos países líderes em cabotagem ao lado de grandes potências globais.
Outro ponto abordado por ele foi a BR do Mar, regulação criada pelo Governo Federal que visa incentivar o grande potencial da cabotagem no país. Porém, Resando acredita que ainda há problemas para que a medida seja efetiva.
“A BR do Mar permitirá que possamos fretar navegação estrangeiro, mantendo ele com sua bandeira, mas com tripulantes brasileiros”, relembrou.
Ele prosseguiu: “A nosso ver trocamos seis por meio dúzia, pois o problema que se tentou atacar era questão de custo, mas quando você coloca o tripulante brasileiro com nossas leis trabalhistas, você não resolve o problema quando comparado com a navegação de longo curso.”
Case de sucesso do uso da cabotagem por uma grande montadora
Começando sua participação na palestra, Simone Oliveira abordou um case da Log-In sobre um cliente da indústria automotiva que realizou seus primeiros testes com envio de cargas por cabotagem em 2015.
Ela destacou que, conforme as relações avançaram, o cliente começou a transportar insumos em 2017, e em 2020 houve a implementação da logística reversa, com todo o ciclo dentro da cabotagem.
“Hoje mais de 80% da logística desse cliente é feita com a cabotagem usando a multimodalidade. Esse cliente também vai até o Paraguai, fazemos a distribuição da carga dele em Assunção, e a cabotagem permitiu com que sua atuação logística crescesse bastante”, refletiu a convidada.
Entre os pontos apontados por Oliveira como vantagens da opção pela cabotagem, ela reforçou a segurança, já que a ocorrência de roubos de carga nesse tipo de modal é praticamente inexistente, assim como a menor emissão de CO2, o que torna o transporte mais sustentável, e a regularidade do despacho dos fretes.
Segundo Oliveira, antes havia uma grande demanda de clientes do Sul enviando cargas ao Norte e Nordeste, mas que esses voltavam vazios, e que isso foi equilibrado, com maior volume de cargas descendo, fazendo um reposicionamento natural dos contêineres e com a logística portuária reversa.
“A operação porta a porta dele e de quase todos os nossos clientes é assim: nós vamos até a fábrica, fazemos o transporte rodoviário com o caminhão da Log-In, chegamos no porto de origem, fazemos o transporte com um navio brasileiro, o que traz regularidade para a cabotagem, chega no porto de destino e então fazemos a entrega com o caminhão ou no armazém ou no cliente direto”, exemplificou.
Vantagens competitivas de se optar pela navegação litorânea
Simone Oliveira também falou do atendimento personalizado e maior aderência aos prazos devido às escalas semanais dos navios com datas fixas de embarque e desembarque como outras vantagens competitivas da cabotagem.
“O cliente sabe que toda sexta-feira tem um navio em Santos, toda terça-feira um em Suape, então ele sabe onde a carga está, que dia ela vai chegar, e pode acompanhar pela nossa nova plataforma e que tem tido uma excelente resposta dos clientes”, ponderou a palestrante.
Ainda citando este case, Oliveira destacou que houve uma redução de custos logísticos e na emissão de carbono das operações deste embarcador, o que vai de encontro com as diretrizes ESG e a pauta da sustentabilidade tão importante hoje.
“Nos últimos cinco anos foram 761% de volume de TEUs embarcados para esse cliente. Somente em 2022, essa estratégia permitiu com que ele deixasse de emitir 7.771 toneladas de CO2, com zero ocorrências de sinistros”, relatou ela.
Ao longo da apresentação, Oliveira também apresentou outro interessante case realizado pela empresa por meio da cabotagem. Quer conferir mais do que os especialistas falaram no evento? Confira a palestra completa em nossa plataforma!