Desde o início da pandemia, diversos setores econômicos no Brasil e no mundo se viram diante de uma turbulência jamais vivenciada nos últimos anos, o que ainda suscita por incertezas e desafios para o futuro próximo.

No Comex também não foi diferente. Ao longo dos meses passados, os efeitos da crise foram sentidos de perto pelas empresas, e as previsões de importações e exportações para 2021 inevitavelmente precisaram ser revistas. E ainda hoje é difícil de prever tais impactos com exatidão.

Para abordar o assunto com mais conhecimento, quem participa hoje do nosso conteúdo é o especialista em Comex Paulo Paiva, vice-presidente de produtos e consultor da Becomex.

Vamos conferir um pouco mais sobre sua visão e opiniões sobre o futuro das importações e exportações para 2021? Boa leitura!

O que mudou no Comex com a pandemia e quais as perspectivas do setor para 2021?

A atual pandemia de Covid não afetou somente os hábitos e costumes das pessoas ao redor do mundo. As economias também sentiram – e ainda sentem – na pele, os efeitos da crise em seus mercados, e o Comex foi um destes setores mais afetados no início.

Apesar de hoje o Comex ter conseguido se adaptar à nova normalidade, pelo menos no que se refere aos fatores operacionais e de transporte, ainda é notório o desafio econômico de muitas empresas que lidam com importações principalmente.

“Assim como toda a economia, o COMEX foi duramente afetado no início da pandemia pela queda nas vendas, que gerou um efeito cascata em toda a cadeia, principalmente quando falamos de produtos manufaturados”, explica Paulo Paiva.

Porém, o especialista complementa, destacando que nem todos os setores sentiram o mesmo baque da atual crise: “Em se tratando do Agronegócio, por exemplo, tivemos um efeito contrário, pois com a pandemia a demanda aumentou e foi um dos poucos segmentos com este comportamento no Brasil.”

Já para as previsões de importações e exportações em 2021 no Brasil, Paulo também nos explica que a alta do dólar tem sido um ponto positivo para os negócios que vendem seus insumos e produtos para fora. Porém, ao mesmo tempo, tal cenário pode dificultar os planos de empresas que dependem de importar matérias-primas.

Ele ressalta: “Como nossa indústria depende muito de insumos importados, existe uma grande tendência de alta nos preços em função dos custos de importação. Neste aspecto é fundamental as empresas utilizarem na sua plenitude os Regimes Especiais disponibilizados pelo Governo, que podem retirar a pesada carga tributária das nossas importações e tornar ainda mais competitiva as nossas exportações.

Estratégias que permeiem toda a cadeia produtiva precisam ser implementadas com este objetivo. Hoje a exportação de um carro beneficia a redução tributária das compras dos fornecedores envolvidos na cadeia automotiva. Este mesmo recurso se aplica a todos os demais segmentos de mercado, mas infelizmente menos de 10% dos exportadores brasileiros aplicam estratégias de maior eficiência tributária em toda a sua cadeia produtiva”, explica.

Como o comércio exterior pode seguir crescendo com o cenário atual?

Para responder a essa questão, o porta-voz da Becomex destaca o potencial pouco usufruído do país no que se refere à sua capacidade de importação e exportação no comércio exterior.

“Nosso país tem uma capacidade instalada de produção subutilizada em alguns segmentos que permitiriam aumentar suas produções, gerar mais empregos no Brasil e exportar para o mundo os seus produtos.

Novamente neste aspecto, o dólar alto favorece tal estratégia. Recentemente uma grande montadora de veículos comunicou que a produção a partir do Brasil de seu novo modelo de veículo passará a ser exportado para 22 países. Isso é um marco para o País e nos transforma numa plataforma mundial de produtos manufaturados”, aponta Paiva.

Já em relação ao Agronegócio, como bem destacado pelo especialista no tópico acima, as expectativas de exportações para 2021 são promissoras, mas dependem de determinadas estratégias segundo ele.

Para defender sua visão, ele nos compartilha o seguinte: “Quanto aos agronegócios a tendência é de crescimento contínuo, pois a demanda mundial é cada vez maior. Mas isso nos coloca o desafio de buscar, mesmo dentro do setor, a exportação de produtos com maior valor agregador e com alguma industrialização envolvida.

Exportar somente grãos, por exemplo, nos coloca num nível muito primário. Um outro aspecto é deixar o nosso produto mais competitivo no mercado internacional.

E para finalizar, Paiva destaca um fator essencial que caracteriza ainda nosso modelo de exportação neste setor: “Atualmente, apenas 40% das exportações de manufaturados utilizam os Regimes Especiais disponibilizados ao exportador. Isso quer dizer que estamos exportando imposto e que poderíamos ser ainda mais competitivos no exterior. Quanto isto representa? Cerca de US$900 milhões em impostos foram exportados em 2019.”

Que dificuldades foram enfrentadas pelo ramo logístico e como estão sendo contornadas?

Quando se fala em Comex e sobre as expectativas para as importações e exportações em 2021, o desafio do transporte ainda soa como um problema interno e que precisa de muito investimento para se tornar uma referência a nível internacional.

Concordando com isto, Paulo destaca sua opinião: “Infelizmente um dos nossos grandes problemas ainda é a questão logística. Nossa infraestrutura ainda é limitada e os investimentos não são suficientes para a grande demanda que temos.”

“Além disso, temos as questões tributárias que afetam ainda mais a logística no Comex no país. Hoje, em função do grande problema de ICMS que as empresas possuem, muitas delas com acúmulo de créditos, uma das alternativas que se apresenta é a mudança da sua importação para outros locais, a maioria da vezes mais distante do importador e sobrecarregando as malhas logísticas dos estados onde a carga tributária é menor”, complementa o convidado.

Paulo ainda arrisca sugerir o que poderia ajudar para melhorar essa questão da logística e transporte, que favoreceria o fluxo das importações e exportações do país.

“Por mais que se diga que a Guerra dos Portos acabou, isso não é verdade no dia a dia das empresas. Uma medida que deve auxiliar a melhorar essa questão logística e reduzir custo é o transporte de cabotagem, ainda pouco utilizado no País, mas que talvez possa ser uma opção.

O projeto assinado no ano passado chamado de BR do Mar visa criar regras e facilitar este tipo de transporte, além de reduzir os custos atuais”, aposta nosso entrevistado.

Que números podem ser destacados desse período?

“Em grandes números, considerando os manufaturados, as exportações brasileiras tiveram uma redução na ordem de 20% enquanto as importações caíram cerca de 25%”, aponta Paulo em relação aos números mais recentes do Comex no Brasil.

Ele ainda complementa, destacando alguns possíveis motivos para estes percentuais: “Grande parte destes números foram influenciados pelas significativas reduções de produção no período de março a junho de 2020. É logico que estes percentuais retratam uma situação pontual e que já vem se normalizando, mas a grande questão é como podemos melhorar o nosso comércio exterior e fomentar as importações e exportações em 2021?”

Respondendo a própria questão, Paulo Paiva é direto: “Neste sentido temos que trabalhar na redução dos custos dos importados, principalmente os tributários e logísticos, e tornar o nosso produto exportado maior competitivo a partir destas ações!”, conclui.

Segundo as visões e opiniões de um especialista em Comex, entre desafios e incertezas inerentes à atual crise, ainda é possível vislumbrar saídas e soluções viáveis para a retomada normal – e até crescente – das importações e exportações em 2021 para determinadas setores econômicos.

E você? Tem alguma opinião a deixar sobre o assunto? Então, não deixe de compartilhar o artigo em suas redes sociais e compartilha-lho com seus colegas. Até a próxima!