Conhecido como “corredor bioceânico”, o projeto de ligação entre os oceanos Atlântico e Pacífico é um dos grandes objetivos logísticos da América do Sul. 

Com a ideia de conectar o porto de Santos, na costa brasileira, até o porto de Arica, na costa chilena, o corredor rodoviário deverá englobar cerca de 4400 km de extensão, passando pela Argentina, Paraguai e Bolívia.

A iniciativa pretende fornecer uma maneira mais prática para o transporte de mercadorias entre o continente, beneficiando também outras áreas, como o turismo.

Entrevistamos Jorge de Mendonça, Presidente da Associação Intermodal da América do Sul (AIMAS), que nos falou mais sobre o tema. Leia abaixo!

O que é o corredor bioceânico?

Jorge de Mendonça: “Como título, significa muitas coisas para pessoas diferentes em lugares diferentes. 

Para o que nos interessa na América do Sul, resulta sobretudo numa mera ponte de terra que não se preocupa com a economia do interior dos territórios mas, para alguns, ‘uma ponte de terra utópica’ em que um navio descarrega de um lado e o outra carga na outra ponta, enquanto para outros é um trabalho técnico que serve apenas para extrair mercadorias de baixo valor de dentro do continente para os oceanos.

Para nós que olhamos para o desenvolvimento econômico de cada canto do território, a logística e a mobilidade devem ser duas ofertas que possibilitam o intercâmbio local, nacional, regional e, claro, também transoceânico.

A diferença substancial é que essas duas primeiras visões não são colocadas no benefício capitalista em todos os cantos, enquanto a terceira visão sim, e isso vai gerar muito mais exportações de valor muito maior para muito mais investidores que vão gerar muito mais empregos.

No caso do corredor bioceânico de Capricórnio, tomado como uma faixa econômica territorial e não como uma mera rodovia ou ferrovia, o desafio é finalmente ligar cada esquina a qualquer outra entre Paranaguá / Santos – Antofagasta / Arica, onde cada ponto, além para ter mais opções de conexão com outros pontos do interior, todos terão opções de comércio transoceânico para o leste e oeste.”

Quais são os benefícios da integração viária nos países do Mercosul?

Jorge de Mendonça: “A pergunta deveria ser ao contrário: como nos prejudicou essa estranha filosofia que nos invadiu desde os anos 1960, quando multidões de conselheiros e consultores questionavam a necessidade de conectar nossos territórios?

A resposta concreta é que deixará de ser uma aventura ir de uma zona a outra, sair por um porto ou outro ou combinar com um caminho de ferro ou pelo rio.

Além disso, a agilidade em circular por estradas em bom estado e com cada vez menos dificuldades de condução vai também ajudar a reduzir a Pegada de Carbono, muito importante face à ameaça de barreiras não tarifárias na Europa aos produtos do resto do mundo pelas sanções e restrições conforme a redução ou não das emissões.”

Quais são as oportunidades de comércio exterior com a integração oceânica?

Jorge de Mendonça: “Ampliando as oportunidades de embarque por um ou outro oceano e por diversos portos, o território interior terá mais alternativas diante das constantes mudanças de frequência, oferta e preço de frete impostas pelo universo das frotas marítimas.”

Por que vivemos em um cenário de estagnação e quais são as previsões para o corredor bioceânico no continente?

Jorge de Mendonça: “Sem logística e mobilidade não é possível que a economia se desenvolva. Maior conectividade para a logística e mobilidade não é uma garantia de desenvolvimento, mas sem isso nada funciona.

O corredor Capricórnio, assim como tantos outros, surgiu do primeiro acordo em 2000 entre os então presidentes do Brasil e da Argentina, Cardoso e De La Rúa, sobre o desenvolvimento rodoviário no Mercosul. Mas, se tomarmos apenas o resultado, a conjugação dessa iniciativa em um gigantesco (e tecnocrata) conglomerado burocrático de consultorias e mais consultorias para projetos que pareciam cada vez mais fantasiosos (apesar de não o serem), deram origem a esta autoestrada Leste-Oeste que ainda precisa ser terminada 20 anos depois de definidas pelos países através de seus presidentes.

Com a implementação do corredor continuamente conectado, não há potencialidades pela frente, mas sim oportunidades que finalmente poderão desenvolver a economia de nossos territórios.

A conclusão da rodovia aumentará a febre bioceânica que, finalmente, terá esmagado o vírus que nos manteve doentes devido à desconexão por seis décadas.”

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