“O Brasil avançou muito nos últimos anos, principalmente com investimentos do Governo Federal no desenvolvimento das ferrovias. O próximo governo terá um novo desafio para ampliar as fronteiras logísticas: impulsionar o modal hidroviário, fundamental para a expansão do agronegócio brasileiro”. A opinião é do presidente da CNT (Confederação Nacional do Transporte), Vander Costa, que proferiu nesta quinta (17) a palestra de abertura da programação do terceiro e último dia Intermodal South America 2022, encontro de logística, intralogística e transporte de cargas que aconteceu no São Paulo Expo, na capital paulista.
O executivo considera que o país caminha, finalmente, para a consolidação de um ambiente multimodal e, se investir futuramente na expansão do transporte de cargas por hidrovias, novas oportunidades de negócios vão acontecer e haverá a diminuição do Custo Brasil. No entanto, faz algumas ressalvas: “O novo marco regulatório das ferrovias e o Pro Trilho lançado pelo governo recentemente trazem uma avalanche de investimentos, mas ainda há falta de estímulo à concorrência, por meio do direito de passagem. Se queremos reduzir os gastos, isso é fundamental”.
Para Vander Costa, o marco regulatório das ferrovias falha neste aspecto. “Veio em boa hora, mas é preciso evoluir mais. Hoje, o dono dos trilhos é o mesmo dos vagões e até das cargas. Isso afeta a concorrência e impede a evolução do segmento. Defendemos o direito de passagem compulsório, como ocorre em outros países. A ferrovia da Vale, por exemplo, que liga Minas Gerais ao Espírito Santo, só transporta minério, quando poderia transportar cargas da importante indústria automobilística mineira”, salientou.
Eleições em 2022
Sobre as eleições para a Presidência da República e o Congresso Nacional, o presidente da CNT espera que haja um debate programático sobre propostas e lamenta que haja uma polarização. “O ideal é que pudéssemos conhecer diferentes visões sobre o país. A CNT será neutra e vamos promover conversas com os candidatos, pois o nosso partido é o do transportador. No entanto, esperamos que a futura composição do congresso seja reformista, pois é lá que é decidido o destino do país. Peço muita atenção às eleições para deputados e senadores”, concluiu.
Presidentes da ABTRA e ABTP defendem ajustes no processo de desestatização do Porto de Santos
A desestatização do Porto de Santos é necessária, mas o modelo previsto precisa ser aperfeiçoado para evitar conflitos de interesse e insegurança jurídica. Isso é o que defende Angelino Caputo, diretor executivo da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (ABTRA), e Jesualdo Silva, diretor presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP). Eles participaram da Conferência Nacional de Logística (CNL), na tarde desta quinta (17), e discutiram pontos importantes que precisam de ajustes no processo, que está em fase de audiência pública.
“Os benefícios da desestatização superam em muito os riscos, mas precisamos de atenção com questões como limites da atuação do privado. É muito importante que haja uma blindagem para que arrendatários ou TUPs, que já atuam no complexo, não venham assumir a administração portuária. Mesmo que o edital já preveja uma limitação disso, vamos propor um ajuste para evitar que isso aconteça e provoque conflitos de interesse”, explicou Caputo, que foi diretor da Codesp entre 2014 e 2015.
Para Jesualdo Silva, são vários os pontos que exigem cuidado no processo de desestatização, principalmente com o modelo escolhido: “Não é exatamente igual, mas inspirado no modelo australiano. Lá, acabaram acontecendo alguns abusos econômicos, com aumentos abusivos de taxas e outorgas. Aqui, temos a ação da agência reguladora para mitigar riscos como este, mas é preciso ficar atento e evitar esse risco já no edital para evitar aumentos irreais de tarifas e no custo da operação”.
Consulta pública
A ANTAQ prorrogou para o dia 23 de março o prazo limite da consulta pública para o recebimento de contribuições sobre a Audiência Pública nº 01/2022, que trata da desestatização do Porto de Santos, em São Paulo. As minutas jurídicas e os documentos técnicos estão disponíveis no menu “Participação Social”, no portal da agência. As contribuições poderão ser dirigidas à ANTAQ até às 23h59 do mesmo dia, exclusivamente por meio e na forma do formulário eletrônico disponível no site.
Reflexos da pandemia e guerra na Ucrânia vão impulsionar as estratégias nearshoring e onshoring
A pandemia da Covid-19 e a guerra na Ucrânia estão promovendo uma reconfiguração no comércio global, impulsionando as estratégias de nearshoring e onshoring, avaliou Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura, Supply Chain e Logística da Fundação Dom Cabral, durante palestra na Conferência Nacional de Logística (CNL). “Há uma pressão sobre os operadores logísticos globais em aumentar a participação doméstica nos países de origem, reduzindo ou até eliminando fontes de renda de alto risco em outros países”, explicou.
O especialista reforça que a pandemia mudou a equação do custo/benefício e puniu aquelas empresas que tinham cadeias longas de suprimentos, como, por exemplo, entre China e EUA. “Há um movimento para atrair fornecedores para o México, neste caso, para diminuir os riscos. O fator decisivo para a logística é, portanto, geopolítica, e os players terão que tomar um posicionamento sobre o que é mais importante no atual cenário: ativos próprios ou inteligência logística?”, afirmou.
Players do mercado discutem perspectivas e tendências para o setor de logística no encerramento da Intermodal 2022
Para encerrar a 26º edição da Intermodal South America, players do mercado foram reunidos em uma mesa redonda para discutir “Perspectivas e Tendências para o Setor da Logística”. Coordenado por Pedro Francisco Moreira, presidente da Abralog, o encontro contou com a presença de Anaia Bandeira, diretora de Logística das Lojas Riachuelo; Leonardo Romano, diretor de Supply Chain da Natura & Co; Ricardo Ramos, gerente nacional de Transporte – Lojas Físicas e E-commerce do Carrefour; Ramon Alcaraz, CEO da JSL; e Marlos Tavares, CEO da G2L Logística.
O consenso entre os debatedores é de que é preciso unificar a agenda do setor, não só para consolidar o diálogo com o Governo Federal, mas também para discutir soluções inovadoras em conjunto com áreas como redução de custos operacionais e sustentabilidade. “O meu pensamento é como o setor privado pode organizar pautas em comum para estabelecer conversas com o governo, formalizar uma agenda comum”, afirmou Leonardo Romano. “É pensar em como nos unirmos para avançar mais, criar, em conjunto, um fluxo mais eficiente para questões, por exemplo, como a redução de emissão de CO² e o uso do papel no dia a dia”, completou Anaia Bandeira.
Ramon Alcaraz reforçou o papel do setor privado. “Por mais que tenhamos bons governantes, bons ministros, não há orçamento público disponível. As melhores iniciativas intermodais no Brasil são da iniciativa privada. Se não incentivarmos as empresas, vamos continuar ‘enxugando gelo’ em qualquer discussão sobre infraestrutura e aperfeiçoamento das operações logísticas”, salientou.
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