As mulheres compõem uma importante fatia dos profissionais que atuam no setor de Comércio Exterior. No entanto, ainda existem desafios do segmento que afetam mais elas em comparação com os trabalhadores do sexo masculino.

Tal questão foi observada por meio do estudo “Desafios da Facilitação do Comércio para Mulheres Comerciantes e Despachantes Aduaneiras no Brasil”, lançado recentemente pelo Grupo Banco Mundial.

Segundo a pesquisa, 74% dos homens que atuam como despachantes aduaneiros creem que seu feedback é levado em consideração, ante 67% das mulheres. Sobre segurança, 55% das mulheres entrevistadas afirmaram ter enfrentado problemas ao visitar pontos de controle aduaneiro, contra 28% dos homens.

Para entendermos mais dos desafios e oportunidades das mulheres no Comex, conversamos com Monnike Garcia, que tem importante experiência na área. Continue lendo abaixo e saiba mais!

Mulheres no Comex e o papel feminino no setor

Monnike atua como empresária e CEO da Labcomex, sendo a fundadora da rede Mulheres no Comex e co-criadora do EMEX, o Encontro Nacional de Mulheres no Comércio Exterior.

A profissional também atuou como consultora de Igualdade de Gênero e Inclusão Social no Comércio em projetos financiados pela embaixada do Reino Unido no Brasil.

Com considerável e importante atuação no setor, ela nos concedeu uma entrevista sobre essa busca pela igualdade entre os gêneros no Comex brasileiro. Confira!

No cenário atual, quais são as oportunidades e conquistas para mulheres no Comex?

Monnike Garcia: “No Comércio Exterior, segundo Pesquisa do Perfil do/a Profissional de Comércio Exterior, gerada pelo Hub Mulheres no Comex em 2019, somos a maioria, estudamos mais, estamos competindo de igual para igual nos cargos de chefia com os homens, e isso é visto de forma bem ampliada através da nossa Comunidade o Mulheres no Comex. 

As mulheres buscam saber quando tem alguma dúvida, compartilham oportunidades profissionais e de negócios. No caso das empreendedoras, nos conectamos, acolhemos. Em 2017, tive a ideia de criar um blog, e hoje já somos centenas por todo o Brasil. E o movimento aumenta a cada ano, com novas conquistas e parcerias com instituições renomadas no Comex. 

Encerramos o ano de 2022 com mais de 55 oportunidades de trabalho geradas, mais de 14 mil pessoas conectadas nas nossas redes e grupos, e mais de dois milhões de reais em negócios fechados através de nossa rede, apoiando o empreendedorismo feminino. Eu sou muito grata por tudo isso e por ver outras colegas conquistando novos postos de trabalhos, se recolocando ou fechando negócios, participando e contribuindo para que as mulheres cheguem ainda mais longe.

Tem um ditado africano que diz: ‘Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá acompanhado’. É isso. Então a dica é: se conecte a uma rede para você ter oportunidades, conhecer pessoas, fazer negócios e crescer.”

Quais os principais desafios das mulheres nas áreas de comércio exterior? 

Monnike Garcia: “Na minha opinião enquanto empreendedora e mãe de dois filhos é o de conciliar todas as atividades no final do dia e fazer o meu negócio crescer. Nesse caso, a rede de apoio é fundamental. Mas, além desse ponto, a parte técnica é também bem importante, tanto para mulheres quanto para homens, porque o Comércio Exterior tem inúmeras atualizações e processos diferentes, então a adaptabilidade é constante. 

Outro desafio é não me sabotar achando que não sou merecedora de algo muito bom ou grandioso. Isso acontece muito comigo, e penso: ‘Tá com medo? Vai com medo mesmo assim’, e busco apoio e mentorias com colegas empreendedoras, que são chave para sermos bem sucedidas e vencermos esses obstáculos do dia a dia. Somente 13% das mulheres que atuam na área são empreendedoras.”

Como as empresas podem colaborar com a diversidade de gênero no Comex?

Monnike Garcia: “Primeiro é terem o compromisso de fato com o assunto, que requer abrir a mentalidade sobre o tema. Não adianta achar que porque diversidade está na moda que temos que implementar na empresa, porque não vai dar certo. Precisa ser um movimento que esteja envolvido desde a alta gestão até o chão de fábrica. 

Outra coisa é entender qual é o raio X da organização. Eu sei quem são meus colaboradores? A participação das mulheres nas mesas de decisões garantem ambientes mais equilibrados e visões diferenciadas também. 

São diversos relatos de colegas homens e mulheres que presenciam situações em que as mulheres, mesmo tendo a posição do cargo de chefia, sendo tratadas como secretárias ou auxiliares, ou mesmo em uma reunião, são interrompidas. 

Os homens têm um papel fundamental de apoiarem as mulheres nessa jornada e colaborem para romper com esses vieses inconscientes e dar voz e oportunidade para as mulheres.”

Como as mulheres podem se preparar para atuar no Comex?

Monnike Garcia: “Primeiro é estudar, se capacitar, pois o profissional de Comércio Exterior é um profissional experiente e que está sempre atualizado das legislações.

Se conecte com o Mulheres no Comex, essa rede acolhedora e que pode lhe proporcionar muitas oportunidades. Bora conquistar esse mundo Comex! O Brasil participa com um pouco mais de 1% do Comércio Global, e, das empresas abertas, menos de 1% praticam o Comércio Exterior, então tem muita coisa a ser feita, e precisamos de muitas pessoas e mulheres para isso. 

E não para por aí não. O comércio contribui de forma positiva na vida das trabalhadoras. As empresas que participam do comércio internacional empregam mais mulheres, geram melhores empregos e pagam melhores salários, além de proporcionar empregos formais em setores que comercializam mais, ou que estão mais integradas às cadeias globais de valor, segundo dados do Relatório Trade e Women do Banco Mundial.

Os países mais abertos ao comércio, têm níveis mais altos de igualdade de gênero. Somos poderosas como participantes do comércio e para o comércio!”

Continue se informando sobre o tema e leia também nosso conteúdo sobre Mulheres na logística: conquistas e desafios!