A pandemia trouxe grandes oscilações e instabilidades logísticas em termos globais. No mercado automotivo não foi diferente. Dificuldades para encontrar containers disponíveis, custos de peças com valores absurdos, retração alavancada pela queda da produção de automóveis, alta do dólar e a escassez de semicondutores automotivos, bem como os impactos da crise sanitária econômica, tornam-se recorrentes e desafiadores – fato que nos faz repensar como é importante ter uma estratégia eficiente no que tange a todo o processo logístico.
Mesmo com as dificuldades enfrentadas, felizmente, o mercado de aftermarket automotivo, ou de reposição de peças automotivas, manteve-se em alta. Atualmente, o setor fatura R$ 100 bilhões por ano no Brasil. No entanto, ainda se faz necessária a adoção de tecnologias que visam aprimorar os processos como um todo, auxiliando em toda a cadeia produtiva.
Evoluímos nos últimos anos, principalmente no que diz respeito a configuração dos veículos que transportam componentes automotivos, com uso de frotas novas e preparadas para o carregamento de tais insumos, e por conseguinte mais seguras; além do advento de tecnologias de monitoramento que facilitam o dia a dia das empresas, diminuindo eventuais problemas, como desvios de carga, otimização de tempo e produtividade, e redução da quantidade de roubos. Ainda assim, o setor de reposição de peças automotivas carece de novidades e pouco investe em tecnologias amplamente difundidas, como CRM, Machine Learning e práticas de Business Intelligence (BI), seja enquanto conceito ou ferramenta.
Por ser um mercado com muitos SKUs e grandes players, mesmo no B2B (entre eles, atacadistas, distribuidores, varejistas, lojistas e outros), para se ter sucesso e garantir benefícios mútuos é fundamental digitalizar e automatizar os processos logísticos, além de mudar o mindset do setor. A grande dificuldade atualmente é modificar a mentalidade das pessoas e fazer com que elas entendam que a transformação digital não é apenas ferramental.
Esse processo envolve tanto o uso de soluções de produtividade, tais como WMS (Sistema de Gerenciamento de Armazém), troca do papel por sistemas automatizados, BI para a produção, manutenção, controle e distribuição de estoques, análise dos componentes mais vendidos, mapeamento e comportamento de clientes, comportamento de vendedores, análise de produtos, entre outras; até o treinamento de pessoal, desenvolvimento de skills e aplicação de workshops, por exemplo.
Também perpassa pela aquisição de veículos de transporte elétricos, que otimizam o tempo e colaboram com o meio ambiente, sistemas de fechamento automático de caixas e embalagens, além de um processo que estamos implantando no Grupo Universal Automotive Systems, que chamo de “self check”, onde o operador realiza todas as etapas de armazenagem, embalagem e outros processos logísticos sem passar pela estação de check-out e ter que compartilhar o trabalho com outro colaborador.
Costumo dizer que o ambiente logístico é comparado à Fórmula 1. No setor de reposição automotiva a velocidade é essencial, não basta ter a mercadoria no estoque, é imprescindível atender as demandas, principalmente dos distribuidores de autopeças. Neste segmento, buscamos milésimos e centésimos de segundo, com o objetivo de chegar à vitória. Neste caso, ter um estoque inteligente, entregar mais rápido, atender os clientes com qualidade, e, principalmente, suprir as necessidades por componentes, sobretudo agora, onde a demanda aumentou, é fundamental. Para isso, ter um processo logístico bem estruturado se faz necessário e premente.
* André Belfort é o CEO do Grupo Universal Automotive Systems, conselheiro da RIXSO Corporation e sócio da Thoso Consultoria Empresarial – https://www.universalautomotive.com.br/