Os veículos leves sobre trilhos, ou VLTs, exercem um papel de grande importância na melhoria do fluxo do transporte urbano. O tema foi um dos destaques da NT Expo 2023, principal evento latinoamericano dedicado ao setor ferroviário.

Com o tema “Estudos de caso: VLTzação do Rio de Janeiro e VLT na Baixada Santista”, o painel moderado por Renata Passos, editora regional para o Brasil do IRJ – International Railway Journal, reuniu os convidados:

  • João Paulo Rodrigues, assessor técnico da da EMTU/SP – Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo – S/A; e
  • Luiz Eduardo Oliveira da Silva, diretor de Engenharia e Arquitetura da CCPar – Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos.

Siga conosco para conferir o que os especialistas falaram sobre a chamada “VLTzação” com base nos casos apresentados!

O contexto do uso de VLTs no Brasil e seus exemplos práticos

Abrindo o painel, Renata iniciou o encontro lembrando que o sistema de VLT já é muito comum na Europa, mas que no Brasil o modal ainda tem relativamente poucos exemplos práticos. 

Iniciando sua apresentação, João Paulo Rodrigues comentou sobre como surgiu o projeto que implementou o uso dos veículos leve sobre trilhos na região da Baixada Santista, importante pólo urbano e econômico do estado de São Paulo.

“Foi identificado que 62% das viagens realizadas por transporte motorizado na Baixada Santista eram por transporte coletivo, e a partir de então se concedeu a alternativa de implantar o VLT”, relembra ele.

Rodrigues diz que foram considerados três pilares para esta implementação do VLT na região de Santos: mobilidade, qualidade e modicidade tarifária. Segundo ele, a ideia foi criar um sistema integrado e que trouxesse benefícios para o usuário trazendo ganhos no deslocamento, conforto e valores.

“O sistema foi implantado em janeiro de 2016 por meio de uma parceria público-privada, e a operação hoje é composta por 500 ônibus e uma linha de VLT”, destaca Rodrigues, explicando que a região conta atualmente com 15 veículos VLT.

Expansão do VLT na Baixada Santista e impactos para a população

Rodrigues também comentou que foram definidos três eixos prioritários: o primeiro com 15 estações e 11 km, atendendo uma demanda diária de 28 mil habitantes. O segundo, que está em expansão, conectará este ramal já implantado ao centro de Santos, com 8 km.

O trecho complementar, que representará a segunda fase do projeto, ligará a parte insular com a região continental de São Vicente, com 8,5 km e quatro estações.

“Nossa intenção é que essas linhas possam ser expandidas, diminuindo a participação do ônibus e aumentando a do VLT com ele se tornando cada vez mais um sistemas e atendimento troncal tal qual foi concebido”, refletiu.

De acordo com Rodrigues, o VLT poderá transportar cerca de 95 mil passageiros diários quando concluído, facilitando o tráfego de pessoas nas diversas regiões que compõem a Baixada Santista.

“A gente entende que o VLT gera qualidade dentro de uma visão de longo prazo e custo benefício comparado com outros sistemas. Sua implantação demanda investimentos maiores que outros sistemas, mas ele é perene, e no longo prazo ele traz benefícios para a população”, analisou.

Questionado por Renata Passos sobre os índices de aprovação da população local com o VLT, Rodrigues destacou que, em uma recente pesquisa realizada pela EMTU, o modal teve nota 9,8 em uma escala de 0 a 10, sendo a maior entre os sistemas de transporte administrados pela companhia.

O papel do VLT do Rio de Janeiro na revitalização da cidade

Participando na sequência, Luiz Silva trouxe detalhes da experiência do VLT no Rio, que inclui o centro e o Porto Maravilha, revitalizado há alguns anos.

“O termo VLT não necessariamente indica ser um veículo leve sobre trilhos, mas sim procurarmos trazer uma conversão olhando para uma requalificação urbana. Hoje precisamos trabalhar a mobilidade olhando para o desenvolvimento”, detalhou.

Silva revelou que já há contratos assinados com o BNDES para viabilização de novos corredores VLT na cidade do Rio de Janeiro, o que está sendo planejado com cuidado e deve incluir cerca de 250 km de extensão de trilhos. 

O painelista citou o contexto histórico do Rio de Janeiro, que por décadas dependeu de transportes como bondes. De acordo com ele, na década de 1940 a capital fluminense tinha 2 milhões de habitantes e cerca de 450 km de trilhos. 

Ele aponta que a área urbana era menor, cerca de um terço da atual, que hoje tem áreas que se desenvolveram de lá para cá como Recreio e Barra da Tijuca. Silva observa que, após uma pausa por questões políticas e pela pandemia, o transporte urbano sobre trilhos na cidade foi retomado com o VLT a partir de 2011.

“A experiência tanto no Rio de Janeiro quanto em Santos nos credencia a fazer isso de forma cada vez mais integrada e com o menor impacto possível para o entorno. É um transporte mais confiável em termos de regulagem, conforto e segurança, e é o futuro. É um transporte mais capacitado para esse tipo de demanda”, diz ele.

Próximos passos para o transporte leve sobre trilhos no Rio

Silva explicou ainda que o VLT do centro do Rio de Janeiro tem 28 km de trilhos divididos em três linhas, com um investimento de um bilhão de reais em 2012 e mais de 100 milhões de passageiros já foram transportados pelo sistema.

“O VLT pretende ser um agente integrador, então ele se integra ao longo da Avenida Rio Branco com o metrô, se integra com o aeroporto Santos Dumont, também com as barcas e cruzeiros turísticos, assim como o novo terminal Gentileza”, ressaltou.

Ele explica que o terminal Gentileza transportará cerca de 130 mil passageiros por dia, e que, por ser integrado com o VLT, trará grande impacto para o modal.

“A ideia é que em médio e longo prazo possamos transformar outros corredores em VLT”, concluiu ele, apontando para o fato de que o Rio de Janeiro dispõe de uma importante malha ferroviária subutilizada que pode ser reaproveitada com o VLT.

Quer conferir todos os detalhes apresentados pelos painelistas neste debate? Acesse a plataforma da NT Expo e veja tudo o que rolou no evento!