Em evidência no cenário nacional atualmente, o modal ferroviário vive um momento ímpar no país, considerado um dos mais promissores dos últimos anos. Por isso, o assunto foi um dos destaques da grade de programação da Intermodal Xperience 2021 – o maior evento digital da América Latina dedicado à logística, à intralogística, ao transporte de cargas e ao comércio exterior – nesta quarta-feira (1º).
Quem falou mais a respeito deste tema na segunda edição do evento virtual – promovido pela Intermodal (plataforma de negócios completa para estes mercados) e pela Associação Brasileira de Logística (ABRALOG) – foi o diretor de relações institucionais da MRS Logística, uma das principais concessionárias de transporte ferroviário de cargas do Brasil, Gustavo Bambini.
Segundo ele, atualmente, o modal corresponde a cerca de 21,5% da matriz de transportes nacional, com aproximadamente 29 mil km de malha ferroviária no país; números que podem aumentar em breve. “Certamente teremos cada vez mais trilhos, a partir do momento em que as novas ferrovias, já em curso, avançarem. Há projetos da Ferrogrão, da Ferrovia de Integração do Centro- Oeste (FICO), da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), entre outras”, disse.
Bambini lembrou que os investimentos no setor não param e, desde 1997, quando foram cedidas as primeiras concessões do país, já foram mais de R$75 bilhões investidos nas ferrovias nacionais. “A evolução do modal é constante: desde 1997, a produção ferroviária cresceu 166% no país e o volume de cargas transportadas aumentou 93%. O principal produto movimentado via trilhos ainda é o minério de ferro, mas o transporte de cargas gerais também subiu exponencialmente e a tendência é crescer cada vez mais. Do final da década de 90 para cá, o transporte de contêineres aumentou 13.435%”, salientou.
Quando o tema são os planos da MRS em si, os investimentos também se sobressaem. De acordo com o executivo, com a renovação da concessão da companhia, uma série de aportes estão previstos. “Temos um plano de investimentos robusto, com uma série de projetos estruturantes previstos, justamente com o intuito de aumentar a capacidade e a produtividade de nossa malha ferroviária e garantir o atendimento à crescente demanda voltada ao transporte de cargas gerais. Também planejamos realizar a integração logística, por meio de terminais intermodais, entre Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro; realizar aportes na Baixada Santista, no Porto do Rio; entre outras iniciativas”, completou.
Gestão de Talentos no Mundo Digital – A digitalização do setor logístico traz uma série de desafios ao mercado, inclusive no aspecto de recursos humanos. A gestão de profissionais do setor em um cenário de transformação digital também foi tema de debate nesta quarta-feira (1º).
Para a diretora de gente, cultura e transformação digital da Log-In Logística Intermodal, Andrea Simões, discussões como essa são fundamentais, já que a tecnologia é o processo e a transformação acontece por meio das pessoas. “Esse é o grande desafio, transformar a jornada digital do nosso colaborador, no sentido de trazer competências para eles neste aspecto, mas de acordo com as necessidades de cada um. O que queremos é que os profissionais tenham acesso às ferramentas virtuais, de forma que o foco permaneça no cliente e também traga benefícios e conhecimentos a eles e à nossa organização”.
De acordo com ela, tão importante quanto capacitar os colaboradores para o mundo digital é preparar os líderes da companhia para o mesmo. “Estamos trabalhando bastante no âmbito da segurança psicológica, para que os líderes estejam emocionalmente preparados, com coragem para inovar e aceitar o novo. Tem dado certo e eles têm acompanhado as mudanças estratégicas da empresa neste sentido”.
Quem também comentou sobre os desafios da gestão de talentos no mundo digital foi a diretora de recursos humanos do Mercado Livre, Luciana Langhanz. “Atualmente, nossos colaboradores são bastante jovens, com uma média de idade entre 18 e 24 anos, o que traz uma série de vantagens quando o assunto é o universo virtual. Essa turma vem com uma aptidão digital de natureza, por conta da geração conectada à qual pertencem. Além disso, eles possuem grande facilidade de aprendizado, têm um enorme senso de colaboração e colocam muita energia naquilo que acreditam. Sem contar a questão do respeito às diferenças, essa é uma geração que vem com o tema diversidade intrínseco”.
No entanto, assim como em qualquer situação, também há o lado negativo. “Até por terem tanta facilidade no acesso às informações, eles não estão preparados para lidar com conflitos, a frustração é mais intensa nesse público frente a situações adversas. Além disso, eles também têm mais dificuldades para lidar com regras e diretrizes estabelecidas. Sem contar o fato de que são mais vulneráveis a questões que envolvem problemas emocionais, o que acaba se equilibrando com o ganho de maturidade e experiência”, completou.
Cases de Sucesso – A apresentação de cases de sucesso de grandes marcas do mercado foi outra atração que chamou a atenção neste primeiro dia da Intermodal Xperience. Começando pelo Grupo Boticário, que abordou as melhores práticas de omnicanalidade, com o diretor de logística e e-commerce da companhia, Luciano Xavier de Miranda, pela manhã.
No período da tarde, outros três cases assumiram o protagonismo. Foram eles: o da parceria entre a Michelin e a Hamburg Süd na gestão integrada dos fluxos de exportação, com a head customer solution da Hamburg Süd, Fernanda Levi; o da importância do programa de supply chain do Carrefour para os negócios e para a transformação da empresa, com o diretor executivo de supply chain da companhia, Marcelo Lopes; e o do sucesso do aplicativo de entregas de bebidas da Ambev, o Zé Delivery, com o DTC Logistics Director da marca, Rafael Szarf.
Tour Virtual – Destaque do evento também foi a realização de um Tour Virtual no Centro de Distribuição (CD) da Huawei Brasil, com o diretor de logística da companhia, Emerson de Oliveira. O executivo apresentou as iniciativas adotadas pela empresa em seu CD com o uso da Tecnologia 5G. No último dia de Xperience (3/9), outra companhia “abre suas portas” para mais um Tour Virtual: a T-Gestiona, empresa do Grupo Telefônica, que falará sobre logística reversa.
Logística sem Papel – A pauta sobre a implantação de uma logística sem papel foi o assunto que encerrou o dia inaugural da Intermodal Xperience. O painel abordou o projeto “Logística sem Papel”, uma iniciativa que visa desburocratizar o comércio eletrônico e toda a cadeia logística que atende o segmento. O vice-presidente de vendas da Loggi, Ariel Herszenhorn, alertou que um mapeamento do projeto com as empresas que operam na logística do e-commerce constatou que até 16 documentos fiscais podem ser impressos em cada operação de compra e venda de uma mercadoria online. “Esse processo burocrático pode consumir até um mês de trabalho das empresas por ano”, afirmou. Ele destacou também a importância deste projeto para engajar as empresas na adesão de ferramentas de digitalização de documentos fiscais.
O presidente do Conselho Superior e de Administração do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (SETCESP), Tayguara Helou, explicou que as propostas do projeto sugerem a dispensa da impressão dos documentos do DACTE (Documento Auxiliar do Conhecimento de Transporte Eletrônico), DAMDFE (Documento Auxiliar de Documentos Fiscais Eletrônicos) e do DANFE (Documento Auxiliar da Nota Fiscal Eletrônica) pela disponibilização das informações em formato digital. Os documentos contariam também com um QR Code para o fácil acesso dos dados das mercadorias e do transporte.
Helou afirmou ainda que estão sendo realizadas diversas rodadas de reuniões com o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) para pleitear as medidas para reduzir a burocracia que envolve as operações do comércio eletrônico. “A logística sem papel é um caminho para tornar o Brasil uma economia mais moderna, avançada e inserida no contexto mundial”.
Já o presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Maurício Salvador, evidenciou que a desburocratização dos documentos fiscais com a digitalização seria um impulso para os empreendedores de e-commerce que estão na categoria de micro e pequenas empresas. “A digitalização iria tirar um peso da rotina de entregas para essas empresas de menor porte, que lidam, no dia-a-dia, com diversos marketplaces que realizam a venda dos seus produtos e operadores de transporte que os entregam”.
Também presente no painel, o coordenador nacional dos Documentos Fiscais Eletrônicos de Transporte e Fiscal Tributário Estadual na SEFAZ/Mato Grosso do Sul, Daniel Carvalho, disse que um exemplo do apetite do mercado por soluções digitais é a implementação do comprovante de entrega eletrônico (canhoto digital) em 2018. “Hoje, temos por volta de 11 milhões de comprovantes gerados por transportadoras mensalmente e, em notas fiscais eletrônicas, mais de 20 milhões de documentos”.
Ele enfatizou também a opinião dos outros painelistas. “Há uma necessidade de a administração tributária romper com esse modelo de fiscalização no papel”. E avaliou que é preciso construir um ambiente para a eliminação do insumo, “não é algo realizado do dia para a noite”, finalizou.
Para saber mais, acesse – https://bit.ly/CC–Xperience-2021