A Ferrovia do Trigo, uma das principais linhas de transporte ferroviário do Rio Grande do Sul, sofreu danos devastadores nas catastróficas enchentes que atingiram o estado no último mês de maio.
Conversamos com Adaison dos Santos, professor do curso Técnico em Logística do Senac EAD, que nos proporcionou um panorama histórico da Ferrovia do Trigo e apresentou as perspectivas para o trajeto no período pós-catástrofe. Leia, a seguir!
A História da Ferrovia do Trigo
“A ferrovia do trigo é resultado dos estudos de um ambicioso projeto em meados de 1911, realizado por um convênio entre o Desdern Bank e o Banco da Província do Rio Grande do Sul”, conta Santos.
O objetivo inicial era ligar Porto Alegre a Passo Fundo, reduzindo o trajeto rodoviário de 680 km para 291 km nas ferrovias, facilitando o escoamento da produção de grãos na região norte do estado.
Contudo, com o início da Primeira Guerra Mundial, o projeto foi arquivado e retomado somente em 1948 pela Viação Férrea do Rio Grande do Sul.
As obras começaram novamente em 1949, pelo Ministério de Viação e Obras Públicas, com a ferrovia sendo inicialmente denominada de L-35. No entanto, devido às dificuldades financeiras e técnicas, o projeto foi interrompido novamente em 1968.
“A obra exigia a construção de 32 túneis e 23 viadutos, um desafio significativo devido ao relevo acidentado do terreno”, explica Santos.
Em 1971, o projeto de modal ferroviário foi revitalizado por demanda dos municípios beneficiados pela ferrovia.
Sob a orientação do engenheiro Capitão Corrêa, e com o suporte do Primeiro Batalhão Ferroviário, a ferrovia foi inaugurada em 7 de setembro de 1979, no município de Guaporé,sendo chamada de “Obra do Século”.
A importância da Ferrovia do Trigo
“A Ferrovia do Trigo é importante sob vários aspectos”, afirma Santos. Ela facilita o escoamento de grãos da região Norte do estado para centros de processamento, garantindo que a safra chegue ao mercado, reduzindo custos e tempo de viagem.
Além disso, a ferrovia impulsionou o desenvolvimento econômico dos municípios do Rio Grande do Sul, gerando empregos diretos e indiretos, e estimulando novos investimentos.
Santos destaca que o setor mais impactado positivamente é o agronegócio, favorecendo a diversificação das atividades econômicas locais.
“Os principais produtos transportados pela Ferrovia do Trigo incluem, além do trigo, milho, soja, cevada, arroz e fertilizantes, todos essenciais para a produção agrícola”, explica o professor.
O apelo turístico da Ferrovia do Trigo
O apelo turístico da Ferrovia do Trigo é significativo, atraindo turistas em busca de novas experiências e conexões com a natureza e a cultura local.
“Nas viagens de trem, os passageiros podem contemplar belas paisagens, participar de festivais e eventos regionais, e praticar esportes na natureza”, comenta Santos.
Um dos destaques é o Viaduto 13, considerado o maior viaduto da América Latina, localizado entre os municípios de Vespasiano Corrêa e Muçum.
“O passeio de trem entre Muçum e Guaporé, conhecido como ‘Trem dos Vales’, é uma atração especial, oferecendo uma viagem repleta de aventura e emoções”, diz o professor do Senac EAD.
O impacto das enchentes na Ferrovia do Trigo
“As enchentes de maio de 2024 causaram grandes danos à ferrovia, com desmoronamentos obstruindo a passagem dos trens de carga e de turismo”, relata Santos.
Os danos incluem trilhos, pontes e túneis, resultando na suspensão das operações. Isso tem gerado prejuízos significativos para produtores rurais, setor hoteleiro e empresas envolvidas na cadeia logística.
De acordo com Santos: “Os impactos diretos foram o aumento no custo dos transportes, devido à dependência de vias rodoviárias mais caras e menos eficientes, além de custos adicionais para armazenagem e manuseio de cargas, elevando os preços dos fretes e atrasando entregas”.
O futuro da Ferrovia do Trigo
Na visão de Santos, o futuro da Ferrovia do Trigo é incerto, envolto em muitas perspectivas.
“A empresa Rumo Logística, responsável pela concessão da ferrovia desde 2014, informou ao Governo Estadual que não há demanda de cargas suficiente para manter os trens em funcionamento”, explica Santos.
No entanto, o professor explica que o vice-governador do Rio Grande do Sul, Gabriel Souza, discorda dessa posição. O representante do Governo do Estado afirma que a produção agrícola tem crescido anualmente.
“Será necessário desenvolver um estudo para diagnosticar a extensão da destruição e os valores necessários para a reconstrução da ferrovia”, comenta Santos.
Várias reuniões já estão em andamento entre a Associação Brasileira de Preservação das Ferrovias (ABPF), a Rumo Logística, representantes do Governo do Estado do RS, do Ministério dos Transportes e da Secretaria Extraordinária da Presidência da República de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.
“Espera-se que haja investimentos significativos em reformas para reestruturação e modernização da ferrovia, com planos de prevenção, drenagem e contenção de encostas, garantindo a eficiência e segurança nas operações e a resistência a eventos climáticos”, conclui Santos.
A Ferrovia do Trigo, com sua rica história e importância para a logística e economia do Rio Grande do Sul, enfrenta um momento crítico. A recuperação após as enchentes será um desafio, mas também uma oportunidade de modernização e fortalecimento dessa infraestrutura vital.
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