A inovação faz parte da navegação marítima desde seus primórdios. Artefatos hoje considerados simples, como a bússola e o astrolábio, causaram grandes revoluções na maneira como os humanos navegam e exploram o mar.
Ao longo dos séculos o transporte marítimo seguiu se reinventando, e hoje há diversas tecnologias que ajudam o setor a avançar cada vez mais.
Para entendermos mais sobre o atual cenário da inovação no transporte marítimo e nos portos brasileiros, entrevistamos Eduardo Valença, diretor de transformação digital da Wilson Sons.
Confira abaixo as visões do especialista sobre o assunto!
Intermodal: Quais são os principais desafios operacionais do transporte marítimo?
Eduardo Valença: “Dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) indicam que entre 80% e 90% do comércio global são feitos pelo modal aquaviário. São US$ 5 trilhões em valor agregado dos produtos transportados.
A relevância econômica do setor, atrelado aos conhecidos desafios regulatórios e operacionais na gestão, produtividade, segurança e na orquestração de diversos processos simultâneos, vem chamando a atenção de startups e empreendedores mundo afora.
É justamente neste contexto que acreditamos que o trabalho de startups e a adoção de novas tecnologias podem, sem dúvida, ser uma solução rápida e relativamente simples para otimizar o tráfego e a infraestrutura marítima e portuária do nosso país, sem substituir, claro, a constante necessidade de investimentos em obra civil e de avanços regulatórios.
Apesar do potencial econômico e dos desafios referidos operacionais e da forte demanda por soluções tecnológicas em nosso setor, no entanto, a quantidade de startups marítimas e portuárias ainda está aquém do seu real potencial, principalmente se comparado ao número de outras indústrias como fintechs (financeiro), healthtechs (saúde) ou edtechs (educação). Por isso, entendemos que o momento de nossa indústria é muito mais favorável e resiliente que o de outras.”
Intermodal: Como fomentar a competitividade dos portos brasileiros por meio da inovação?
Eduardo Valença: “A história da Wilson Sons é baseada na resiliência de trilhar caminhos de transformação em diferentes situações. Em nossos 185 anos de trajetória, passamos por muitos ciclos políticos e econômicos e temos uma história marcada pela busca permanente por inovação e novas tecnologias.
Dentro do contexto explicado na pergunta anterior, e com intuito de estimular e transformar a realidade do setor, a Wilson Sons passou a enxergar a tecnologia e as startups como uma aliada para o desenvolvimento da infraestrutura marítima e portuária, seja através da melhoria das operações, garantindo uma maior segurança, seja por meio da busca por mais eficiência e produtividade em nossa indústria.
Atualmente, somos investidores minoritários de 3 startups, uma nacional e duas estrangeiras, detentoras de tecnologias e soluções muito relevantes para a indústria.
Adicionalmente, desde 2019, somos parceiros do Cubo Itaú, o mais relevante centro de inovação e fomento ao empreendedorismo tecnológico da América Latina. Em 2022, com intuito de fortalecer a agenda de inovação no setor, unimos esforços com o Cubo Itaú, a Porto do Açu, a Hidrovias do Brasil e a Radix, para lançar o primeiro hub dedicado de soluções portuárias e de transporte aquaviário da América Latina: o Cubo Maritime & Port.
Acreditamos que vivemos um momento inédito do setor marítimo e portuário, em que a adoção de novas tecnologias permitirá tornar as operações nos portos e o transporte aquaviário de carga cada vez mais eficientes, seguros e sustentáveis. Precisamos aproveitar essa oportunidade e traduzir esse momento em ganhos de eficiência e uma atuação mais sustentável.”
Intermodal: Qual é o papel da tecnologia na sustentabilidade dos portos brasileiros?
Eduardo Valença: É fundamental. Essas 3 startups citadas anteriormente (DockTech, Argonáutica e AlDrivers) e já investidas pela Wilson Sons são ótimos casos de soluções que carregam um impacto positivo para o meio ambiente de nossa indústria.
- Obras de dragagem, por exemplo, são fundamentais para as atividades do porto, mas também são exemplos de grande intervenção humana e de impacto ambiental no ecossistema local.
- No caso da ferramenta de calado dinâmico desenvolvida pela Argonáutica, se for possível colocar mais carga a bordo de um navio por conta da utilização de variáveis meteoceanográficas hiperlocais como maré, nós consequentemente estaremos diminuindo a emissão de CO2 por tonelada transportada dos navios.
- Com a conversão de caminhões convencionais em autônomos, desenvolvida pela AlDrivers, nós possibilitamos que os terminais tenham uma operação mais orquestrada e eficiente.
Adicionalmente, vale citar que a inovação e a tecnologia têm um papel relevante na sustentabilidade dos portos, inclusive nas manobras dos rebocadores. Os nossos novos investimentos em rebocadores mais sustentáveis vão nessa direção.”
Intermodal: Quais são as principais tendências tecnológicas no transporte marítimo?
Eduardo Valença: “Estamos há mais 3 anos analisando e mapeando constantemente as startups de nosso setor e, com isso, entendendo com detalhes quais soluções vêm sendo desenvolvidas e trabalhadas em nosso setor. A partir dessa análise, elencamos o que acredito ser as quatro principais tendências do setor:
- Proliferação de shiptechs com soluções integradas. Será cada vez mais comum startups terem soluções que conversam entre si e que, potencialmente, trazem benefícios combinados ao cliente final.
- Descarbonização. Não há dúvidas que existe uma pressão regulatória e também de nossos clientes e da sociedade como um todo para soluções mais verdes e sustentáveis, e, claro, muitas das startups mapeadas vem desenvolvendo soluções nesse ramo.
- Compartilhamento de dados para melhorar a integração entre os stakeholders (como terminal, empresa de rebocadores, praticagem e autoridade portuária), com uma confiabilidade única de dados sobre aquele porto.
- Operações autônomas e remotas.
A Wilson Sons tem certeza de que a Intermodal será uma excelente oportunidade de trocar informações, de debater a inovação e de mostrar como as empresas no Brasil estão trabalhando nessa relevante agenda. Há muito ainda a ser feito. Porém, estamos consolidando uma jornada de muitas realizações, adotando novas tecnologias para aumentar a eficiência e a produtividade do setor.”
Eduardo Valença será palestrante do debate “O papel da tecnologia no desenvolvimento da indústria marítima e portuária nacional” no Interlog Summit no dia 1º de Março. Confira todas as palestras e compre já o seu ingresso!
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