Nos últimos anos, o setor ferroviário brasileiro tem passado por uma série de transformações que visam aumentar a eficiência e a competitividade do modal.

Entretanto, apesar dos avanços, um dos principais gargalos que ainda impede o pleno desenvolvimento do setor é a insuficiência de investimentos em terminais ferroviários. 

Esses pontos de conexão são fundamentais para a operação eficiente das ferrovias. Afinal, são eles que garantem a fluidez da carga e a integração com outros modais de transporte, como rodovias e portos. Saiba mais a seguir!

O desafio dos investimentos em infraestrutura

Percebe-se que, nos últimos anos, o governo brasileiro tem se esforçado para melhorar a infraestrutura ferroviária, incluindo concessões e renovação de contratos, visando atrair novos investimentos. 

Contudo, a maior parte desses investimentos tem sido direcionada para a infraestrutura das vias férreas e a manutenção das concessões, enquanto os terminais ferroviários continuam carecendo de melhorias significativas. 

Sem esses investimentos, o fluxo de cargas continua limitado, o que impacta negativamente a competitividade das ferrovias em comparação com outros modais.

Eduardo Scolari, presidente da Greenbrier Maxion, comenta sobre o atual cenário da indústria ferroviária: “É um momento de muita esperança, eu diria, e de muito otimismo por parte da indústria. O governo tem se mostrado muito favorável ao crescimento do modal ferroviário, com o plano de aumentar a participação do modal para 40% até 2035”.

Apesar desse otimismo, Scolari também destaca as dificuldades enfrentadas nos últimos anos, com produção tímida de vagões e expectativas mais promissoras para 2024 e 2025. 

Ele ressalta que a entrada da participação do usuário final, principalmente nos setores de líquidos e celulose, é um fator positivo. Porém, enfatiza a necessidade urgente de mais investimentos em infraestrutura para que a demanda por material rodante possa ser atendida adequadamente.

Terminais ferroviários: o elo perdido

Os terminais ferroviários são muito relevantes na cadeia logística, funcionando como pontos de convergência em que as cargas são transferidas entre diferentes modais de transporte. 

Sem investimentos adequados, o sistema ferroviário brasileiro enfrenta dificuldades para operar de forma eficiente, o que compromete o seu potencial de crescimento.

Sandro Trentin, diretor-superintendente da Randon, destaca a sazonalidade e oscilação do setor ferroviário ao longo das últimas décadas. Ele afirma que a renovação das concessões trouxe uma nova esperança para o setor, mas que ainda há muito a ser feito.

“Estamos melhorando o modal ferroviário brasileiro; precisamos desse modal para nos tornarmos mais competitivos. Observamos que os modais não competem entre si; eles se correlacionam e adicionam valor à economia. No entanto, grande parte dos investimentos está indo para infraestrutura, e isso obviamente nos afeta como fabricantes de vagões”, comenta o representante do Grupo Randon.

Trentin enfatiza a importância de se entender o ciclo de vida completo do segmento ferroviário. Nisso se inclui a necessidade de novos vagões e materiais rodantes mais leves, com novos sistemas de suspensão, que contribuam para uma operação mais eficiente e sustentável. 

Ele alerta que, sem esses investimentos, o setor corre o risco de estagnar, o que impactaria não apenas a indústria, mas toda a cadeia logística que depende das ferrovias.

A importância da logística reversa e das shortlines

Outro aspecto crucial para o desenvolvimento do setor ferroviário é a logística reversa, que envolve o retorno de produtos e materiais ao ponto de origem para reciclagem ou descarte adequado. 

A falta de infraestrutura adequada nos terminais também afeta a eficiência desse processo, que é fundamental para a sustentabilidade das operações ferroviárias.

Além disso, as chamadas shortlines, pequenas ferrovias que conectam áreas remotas a grandes linhas ferroviárias, também enfrentam desafios devido à falta de investimentos em terminais. 

As linhas menores são essenciais para garantir que as cargas de áreas menos acessíveis possam ser transportadas de forma eficiente para os grandes centros de distribuição. 

O Programa Frota Ferroviário Verde

Uma das iniciativas recentes do governo para estimular o setor ferroviário é o Programa Frota Ferroviário Verde, que busca promover o uso de tecnologias mais sustentáveis e reduzir as emissões de CO2 nas operações ferroviárias. 

Scolari explica que a regulamentação desse programa é importante para que ele se torne uma oportunidade real para a indústria: “A Portaria 1324 fala da Frota Verde, e agora precisa de uma melhor regulamentação. Ela pode ser uma oportunidade se bem redigida”.

Trentin acrescenta que o foco em novos materiais e tecnologias é essencial para o futuro do setor: “Precisamos colocar mais vagões em operação, mais leves, com novos materiais, com nova dinâmica. Isso gera um produto verde, um produto amigo do meio ambiente, porque trata do todo: trata da pessoa, trata do meio ambiente, trata da transformação das matérias-primas”.

Os desafios enfrentados pelo setor ferroviário brasileiro são muitos, e a falta de investimentos em terminais é um dos principais gargalos que impedem o desenvolvimento pleno do modal. 

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