Em tempos de incertezas e instabilidade, o bom funcionamento da logística se faz ainda mais necessário. E, quando falamos de logística humanitária, esse desafio se torna mais importante já que, além do abastecimento de insumos e produtos essenciais, lidamos também com a necessidade de suprir aquilo que é necessário para a saúde e o bem estar da população.

Diante do cenário que enfrentamos hoje, esta modalidade tem se tornado um importante tema de debates entre as empresas de logística, que buscam agregar à suas estratégias tradicionais de logística empresarial, soluções que ajudem o mundo a passar por mais uma exigente e inesperada crise. Presidente da Associação Brasileira de Logística (Abralog), Pedro Moreira explica as principais diferenças entre os métodos.

“Na logística empresarial o objetivo é a otimização dos processos e melhoria da eficiência, reduzindo os custos e maximizando os lucros. Já na logística humanitária, o propósito é prestar assistência, salvar vidas e auxiliar os beneficiários. São características diferentes quanto  a fornecedores, processos de seleção, homologação e negociação. Em uma situação como agora, em que precisamos de máscaras e respiradores, é preciso buscar por doações e novos fornecedores sem depender tanto de acordos prévios, já que é preciso suprir a população rapidamente. Enquanto a logística tradicional tem contratos definidos, a humanitária pode durar semanas ou meses”, explica ele.

Planejamento de contingência

Além do caráter diferenciado em termos econômicos quanto à logística humanitária, o modo colocado em prática em momentos de contingência também exige maior agilidade, já que a urgência para manter o suprimento das variadas cargas pode ser vital para o funcionamento da sociedade. Outros fatores como a capacidade de recursos, a rápida e correta avaliação da situação e a conclusão do processo da cadeia logística também são extremamente importantes nessas situações. Para o presidente da Abralog, a situação experimentada na atualidade mostra que, além dos planos emergenciais, é preciso dobrar esforços de preparos logísticos para crises.

“É necessário estabelecermos um plano para a logística humanitária, um planejamento de contingência. Esse tipo de situação não estava, em proporção, na gestão de riscos da logística humanitária. Ninguém imaginava que poderíamos enfrentar uma pandemia global. Tivemos o caso de Brumadinho, que foi esporádico, temos furacões que acontecem na Florida no segundo semestre, o que cria planos de contingência pelo histórico e incidência, assim como pela tecnologia que monitora a evolução dos furacões, mas o que estamos vivendo afetou praticamente todas as nações e gerou a necessidade de uma grande mobilização”, revela Moreira.

Lições da crise

Se o momento pode parecer desanimador pela interrupção das atividades profissionais, ele também pode ser visto como uma oportunidade para aprendermos lições e nos prepararmos para uma aguardada retomada, que deverá exigir ainda mais esforços para que compensemos o tempo de pausa. E se é possível aprender algo além da necessidade de fazer cálculos de riscos e manter fundos de prevenção, temos o exemplo de que a colaboração entre concorrentes de um mesmo ramo é, mais do que importante, necessária e desejável. Moreira explica como, em sua visão, o inesperado cenário contribuiu para uma maior aproximação e unidade das empresas de logística.

“O que observamos é um grau de colaboração entre as empresas que eu jamais vi. Você tem a competição, que é saudável, mas estamos vendo concorrentes trocando ideias e colaborando em prol de soluções. Acho que o grande legado desse movimento é mostrar que a colaboração para o bem comum é importante, e creio que isso vai mudar a cultura das empresas. Obviamente elas vão continuar tendo seus objetivos, suas metas de lucro e de crescimento, mas essa sincronia de união e de fazer o bem para a sociedade vai ficar enraizada nessa geração e nas demais, justamente pela complexidade do que estamos vivendo”, conclui o presidente da Abralog.