Bem-vindo ao Minutos Corporativos Intermodal! No episódio de hoje o bate-papo é internacional, com Luigi Ferrini, VP da HAPAG-LLOYD, uma das principais companhias de navegação do mercado.

Intermodal: Pode nos contar um pouco sobre sua expertise no setor marítimo? Há quanto tempo você atua na área e quais são as características do segmento?

Luigi Ferrini: “Eu estou na indústria há 23 anos. Comecei na CSAV, que é uma das principais acionistas da Hapag-Lloyd. Comecei no Chile, e passei minha carreira dentro do grupo CSAV e Hapag-Lloyd. Fiquei no Japão por três anos, em Hong Kong por sete anos, na Alemanha por três anos, e no Brasil há quase cinco anos.

Com a fusão fui ao Chile assumir um cargo comercial para a região da América Latina, e no Brasil estou desde 2019. Dentro disso tenho várias posições, comercial, de produto, e esse é um resumo. 

Tenho bastante experiência na indústria não somente na América Latina e no Brasil, mas de forma internacional, que serve muito para ajudar a venture de alguma forma. Nos países em que fiquei sempre diziam que o envio naquele país era especial, muito diferente. 

Algumas necessidades são diferentes, os clientes são diferentes, os processos não são parecidos. Mas na realidade cada país não é tão diferente entre si. Eu sou economista, e quando terminei a faculdade estava entrando na bolsa de valores. esse era meu objetivo. Ações, financeiro, capitais, dinamismo, e havia muitas variáveis para decidir os preços, as moedas, era o que eu buscava.

Mas esse trabalho era no centro de Santiago, e eu ficava entre quatro paredes somente saindo para almoçar, e pensei ‘não posso ficar minha vida inteira’. A indústria mudou em alguns anos, e fui morar no litoral, próximo ao porto. E então entrei em uma empresa marítima, e encontrei uma indústria tão dinâmica quanto a da bolsa de valores.

Há vários fatores que a afetam e que precisa administrar: as greves, o tempo, questões políticas, questões de moeda, presidentes, eleições, pandemia, o consumo, todos os fatores precisam ser levados em conta. E creio que isso foi uma grande lição. Todos os dias são diferentes, não há uma rotina, cada dia é mais excitante que o anterior. É um pouco do que eu sonhava.

Intermodal: Quais foram os principais desafios ao chegar ao Brasil e em um novo cargo?

Luigi Ferrini: “Primeiramente eu fiz um período de transição. Meu primeiro desafio foi a pandemia. Precisava encontrar e trabalhar com a equipe, mas felizmente muitos já haviam trabalhado comigo antes. 

Uma das razões pelas quais vim ao Brasil foi pelo pessoal, pela qualidade dos brasileiros que gosto muito, como pessoas, em nível de como tomar decisões, de serem menos estressados, se esforçarem e trabalharem bem.

Então mais que um desafio, primeiramente foi o fato de encontrar pessoas com quem eu já havia trabalhado, buscando motivá-los novamente, e eles a mim. Esse foi o primeiro desafio, confirmar que meu encanto com essa equipe se manteria e iria melhorar. E felizmente assim foi.

Estou muito grato e reconheço muito as pessoas que trabalham comigo. Essa é minha maior satisfação, em ter uma equipe que segue trabalhando junta.”

Intermodal: Como foi para você lidar com as adversidades impostas pela pandemia? Quais impactos ela teve nas realizações da companhia, em especial no Brasil?

Luigi Ferrini: “Sim. O primeiro impacto foi que o mundo se bloqueou, ninguém sabia o que ia acontecer, e nós muito menos. Ninguém como pessoa, indústria ou país sabia o que aconteceria no dia seguinte, então todas as indústrias se congelaram por alguns meses, algumas mais do que outras.

Na época isso afetou algumas indústrias de itens de segunda necessidade, mas não a de indústrias de itens de primeira necessidade. E a indústria se reinventou muito rápido para otimizar sua capacidade e se adequar à demanda. Podemos dizer que a indústria, em especial a marítima, se consolidou como um setor que sempre busca crescimento financeiro e obter resultados, paixão por crescimento, etc.

Então o primeiro impacto foi de que, com exceção de itens de primeira necessidade, nada era embarcado. Depois de dois ou três meses, o mundo começou a tomar ações para acabar com a quarentena, se recuperando de forma rápida, muito melhor do que esperávamos, onde a demanda superou a oferta, até o dia de hoje.

Então quem ficou trabalhando de casa passou a ter a necessidade de comprar uma televisão nova, uma cadeira nova, criar um canto novo para trabalhar em casa, e isso aumentou um consumo em nível mundial que não existia. E houve uma mudança de consumos, pois o que deixou de ser gasto com viagens, restaurante, turismo e hotel passou a ser gasto em casa.

Então vimos um aumento de produtos como TVs, computadores, e outros itens para usar em casa. Houve uma curva do gasto do que era em serviço para os consumos materiais. Havia muito tempo que essas linhas não se cruzavam, a de serviços e bens materiais.

Em terceiro ponto, os governos do mundo ofereceram vários subsídios de diferentes formas para a população, como no Brasil, onde pessoas ficaram sem empregos e precisavam da ajuda do governo, mas também para quem seguiu trabalhando, mas também precisou desse auxílio, e isso fez com que essas pessoas consumissem mais. 

Esse momento de demanda fez com que a logística tivesse novos desafios, e até falta de estoque. E também maior ingresso de outros setores nessa área. E nossa indústria não tem ativos suficientes para cobrir toda essa demanda em poucos meses, não havia navios suficientes para tanto.

Isso significou que a tarifa de fretes marítimos aumentou bastante, o que fez com que a indústria obtivesse melhores resultados do que antes. E desde então a indústria seguiu se aprimorando, o que foi positivo no geral.

Intermodal: Pode nos falar sobre o aprimoramento das conexões entre a Ásia e a África recentemente, como a adoção de novos serviços nestas regiões?

Luigi Ferrini: “A companhia está investindo em novos navios, e a indústria como um todo está adquirindo novos navios para satisfazer essa oferta e demanda, que deve se normalizar em alguns meses. O consumo no mundo deve seguir aumentando, o que fará com que a indústria siga saudável, atendendo aos clientes com preços razoáveis.

Também buscamos satisfazer a escassez de equipe, porque quando aumenta a demanda, significa menos espaço no navio e mais esforço humano. E o problema é que esse momento de demanda gera atrasos em todas as partes do mundo. Em Long Beach, por exemplo, nos Estados Unidos, os navios estão demorando seis a sete dias para atracar, o que significa que, para fazer essa rota, os navios levam mais tempo.

Além disso, há uma frota maior na água, mas os navios seguem flutuando. Acabamos de investir para poder atender aos clientes o mais rápido possível, adquirindo novas empresas inclusive, o que ainda está para se confirmar.

A África é um mercado objetivo da companhia, todo o continente está em nossos objetivos para 2023, crescer e sermos relevantes lá. E no Brasil, onde queremos seguir crescendo para cumprir essa estratégia.”

Intermodal: Que outros investimentos de empresa você pode nos adiantar? Existe algum voltado para inovações e tecnologias? Houve algo previsto para as operações locais do Brasil, especificamente?

Luigi Ferrini: “Sim. A companhia está trabalhando em vistas para 2023. Além da atuação na África, nosso objetivo é ser a primeira em qualidade em 2023. Não queremos ser a maior, ou a mais barata, pois muitas vezes ser a maior não quer dizer que se é a mais rentável.

Mas dentro dessa estratégia em que queremos ser relevantes sim, queremos ser a melhor em qualidades. E essa estratégia existem várias promessas de qualidade para atender aos clientes, são dez delas. Como embarcar nos navios adequados, tramitar os documentos em tempo eficiente, e estamos entregando soluções que buscam dar ao cliente um nível de qualidade.

Isso significou um investimento em termos tecnológicos e na parte digital, que é super relevante. Temos uma relevante onde o cliente pode verificar os preços, rotas e formalizar um contrato em formato 24/7. Esse é o grande salto que a companhia está dando.

Acredito que hoje em dia, como estamos vendo na pandemia, existe também a mudança do horário de trabalho. Há pessoas que trabalham até mais tarde, que tiram mais horas de almoço, que trabalham aos sábados e feriados, pois trabalham de casa, não mais no sistema das 8h às 18h.

Então também temos uma flexibilidade para que o cliente possa trabalhar conosco 24/7. E o outro ponto são a adequação dos navios com melhor gerenciamento na questão do uso de combustíveis.

Intermodal: Se você pudesse conversar com alguém, seja no âmbito pessoal ou profissional, com quem você falaria?
Luigi Ferrini:

“Eu sou muito fã de música, e especialmente dos Rolling Stones. Os vi algumas vezes no Chile, e sempre quis conversar com o Mick Jagger, e perguntar como ele chegou na idade que tem ainda fazendo shows com a mesma vitalidade de quando tinha 25 anos. Queria chegar de forma perfeita nessa idade em meu ofício também.”