O Minutos Corporativos de hoje recebe Marcelo Caio Bartiloni D’arco. Ele é presidente da Brinks Brasil. O bate-papo é sobre soluções logísticas integradas para produtos de alto valor agregado.

Intermodal: Você chegou na Brinks há um ano, com os desafios da pandemia. Pode nos contar como é liderar uma das principais transportadoras logísticas de valores do país neste cenário?

Marcelo D’arco: “Interessante você comentar isso. Imagina você tomar a decisão de, no meio da pandemia, assumir um novo desafio. Isso já pode ser considerado um desafio ao quadrado, porque além de ser um novo desafio profissional, nós já tínhamos o desafio da pandemia.

Agora no mês de maio, completando um ano à frente da Brinks, e ao mesmo tempo que tem sido uma honra das maiores para mim, também tem sido um mega desafio. A Brinks além do perfil multinacional e de uma empresa com mais de cem anos, nós também estávamos enfrentando os primeiros meses de pandemia e tentando entender como a gente caminhava, como seria esse novo trilhar com as influências que a pandemia vinha trazendo.

E com certeza ela acabou mexendo com prioridades, com objetivos, metas, e etc. Então o que a gente trabalhou muito como objetivo principal foi continuar sendo uma empresa estratégica e prover o melhor do nosso serviço da melhor maneira possível, contribuindo com a circulação do dinheiro no mercado, mantendo o propósito principal da empresa.

Óbvio que com a pandemia tivemos uma série de mudanças, primeiro, como todos sabem a forma digital, e hoje nós estamos fazendo esse bate-papo graças a essas mudanças, ou com algo que acabou sendo muito mais comum do que era no passado.

E sem sombra de dúvidas a gente acabou levando o foco de desenvolvimento para alguns projetos que estavam começando em uma velocidade mais tranquila, sem muita pressão de fazer aquilo acontecer, e que acabamos por conta da pandemia reorganizando e remapeando, colocando mais ênfase nesses projetos.

Por conta de toda a desbancarização que ainda existe no país, a gente acabou nesse ano passado ou nesse primeiro ano com a pandemia no dia a dia, a gente teve um apoio fundamental da logística para o serviço financeiro, garantindo a circulação do dinheiro e do fluxo logístico.

Se a gente lembrar do que foi o auxílio emergencial nós tivemos no dia a dia com que os caixas eletrônicos tivessem o dinheiro disponível para que as pessoas que tinham direito pudessem fazer esse saque.”

Intermodal: Apesar de muita gente enxergar a companhia apenas como transporte de valores, existem outras soluções completas para os mercados. O que tem sido feito para mudar essa percepção da empresa?

Marcelo D’arco: “Isso é super interessante, e eu me incluo nesse grupo. Sou humilde o bastante para dizer que até eu conhecer melhor a Brinks ou fazer parte do time Brinks eu tinha essa visão de que a Brinks é um carro-forte. É literalmente o que a gente tem como aba do transporte de valores.

É comum o mercado enxergar a Brinks só pelos carros-fortes, afinal de contas estamos circulando pelas ruas e sempre acabamos tocando com um deles. Para mim é motivo de orgulho pois afinal estamos trabalhando e executando no nosso dia a dia, e é onde a gente se identifica com a marca, que a Brinks são os carros-forte.

Mas acho importante ressaltar para todo mundo que a Brinks é uma multinacional com mais de cem anos e que vem constantemente se reinventando. Por ser uma empresa global, participando de mais de treze mercados ao redor do planeta, a gente tem o privilégio de perceber uma série de realidades distintas e entender tendências, principalmente quando acompanhamos a evolução de mercado de economias mais maduras e desenvolvidas.

Dessa maneira a gente vê movimentos como a digitalização do dinheiro físico, o próprio processo de bancarização da economia, são amplamente estudados por nós. Então o nosso dia a dia é entender a digitalização hoje, como ela vem influenciar o mercado, e de que maneira a bancarização vem afetando cada uma das economias.

Aqui no Brasil a gente tem um departamento que funciona quase que como um centro de desenvolvimento de inovações. É meio que o cérebro pensante para que a gente possa olhar para todos esses movimentos e potencial direcionamento do mercado. E ao mesmo tempo temos esse tipo de departamento em outros países, nos EUA, na França e no Canadá por exemplo.

Temos também nossa área de marketing, em que podemos contar com eles com a missão de promover divulgações do que a gente está estudando e para onde a gente está caminhando de forma estratégica, e além disso a gente fica muito atento às mudanças dos fluxos logísticos, não só em âmbito nacional como na partida interna da indústria, em setores como mercado de luxo, farmacêutico, produtos eletrônicos, insumos agrícolas e etc.”

Intermodal: Falando em serviços cada vez mais integrados, quais são as principais soluções oferecidas pela Brinks atualmente, e para quais setores?

Marcelo D’arco: “A Brinks conta com uma série de soluções e serviços, não só o carro-forte, importante deixar isso claro ao público. E estamos buscando aprimorar cada vez mais nosso portfólio, analisando as necessidades dos clientes e as transformações dos clientes.

Posso destacar aqui uma das outras lâminas que temos que a gente chama de Brinks Global Service, que são soluções logísticas seguras sob medida para empresas e instituições financeiras que desejam transportar com segurança itens para qualquer destino no mundo, door to door.

Por que a gente fala isso? Estamos muito focados nesse segmento no global services, principalmente em produtos eletrônicos, farmacêuticos, artigos eletrônicos, insumos agrícolas, moedas estrangeiras e até minérios. Temos a logística específica e desenhada, com todo nosso know how em gerenciamento de risco e buscar o melhor desenho para esses segmentos.

Temos uma série de diferenciais para apoiar essa área, um deles é um terminal de cargas exclusivo no aeroporto de Viracopos, em Campinas. A Brinks é a única empresa a contar com um terminal para cargas de alto valor nesse aeroporto, sendo o primeiro da América Latina. Ele foi desenvolvido com o que a gente tem de mais recente em tecnologia de segurança e gestão de risco, e o espaço conta com a mesma infraestrutura que a gente já utiliza pela companhia em outros grandes aeroportos do mundo. 

Esse não é o primeiro passo da Brinks no mundo, em ter uma base dentro do aeroporto, mas o primeiro do continente. Temos bases exatamente como essa na Inglaterra, no aeroporto de Heathrow, e no Charles de Gaulle na França. 

A Brinks Global Service engloba todo o processo de fato para oferecer a melhor solução. Dentro do processo a gente realiza desde a coleta com o cliente até a entrega final ao destinatário, seja um transporte de longa ou de curta distância, óbvio que sempre utilizando nossos caminhões blindados, com tripulação armada, especializada em gerenciamento de risco, e profissionais amplamente treinados.

A gente faz a guarda de bens de alto valor, a gente possui também para essa divisão especificamente uma base em São Paulo com regime de armazenagem geral, e além disso a gente ainda oferece o transporte agregado, seja nacional ou internacional, em aeronaves de linhas aéreas regulares ou fretadas. Para cada operação ou segmento a gente segue um desenho mais aprimorado e atual possível para minimizar riscos e garantir com que a operação aconteça.

E tudo isso com capacidade e autonomia adequada para cada tipo de operação, inclusive com o chamado desembaraço aduaneiro, com acompanhamento da liberação alfandegária e se necessário, a parte de trânsito aduaneiro.”

Intermodal: Uma dessas soluções seria a Pignus?

Marcelo D’arco: “Isso mesmo. Em agosto de 2020 nós lançamos esse produto no mercado. A Pignus é uma solução logística feita sob medida para empresas que têm como objetivo ou necessidade o transporte em segurança de produtos sensíveis ou de alto valor agregado, com garantia da operação Brinks, ou seja, todo o nosso know how, o que aprendemos com transporte de altos valores, trazemos essa boa prática para a Pignus.

O serviço foi desenvolvido por conta de uma necessidade do mercado da distribuição de produtos de alto valor agregado para mais variados setores, como álcool, tabaco, jóias, farmacêuticos, eletrônicos, artigos de luxo, como grifes, então a Pignus surge como uma opção para fazer entregas com agilidade e segurança nos prazos planejados.

A tecnologia utilizada facilita a distribuição e a transferência dos produtos em vans blindadas, com escolta embarcada, totalmente adaptada à necessidade dos clientes. Entre os pontos de destaque da Pignus estão uma maior oferta no limite securitário por operação, além da segregação de informações sensíveis, o que garante a segurança da informação do produto e possibilita centralizar mais carga em uma única entrega, garantindo maior agilidade e menor custo logístico.

Normalmente o que acontece, por conta do gerenciamento de risco e da cobertura securitária de transportadores que não tem essa expertise, é você ter uma limitação, não poder transportar mais do que X valor ou quantidade, para se minimizar o risco e o que a transportadora coloca como condição mínima para atender o operador de acordo com a apólice de seguro.

E por conta de toda essa metodologia, infraestrutura e expertise que a gente tem, nós conseguimos ter um limite maior, garantindo maior agilidade, já que você estará entregando uma única vez ao invés de várias, e com menor custo também. Temos a escolta embarcada, então não tem necessidade de se chamar uma escolta. Essa operação também têm rastreamento 24 horas, controle de abertura de portas e outros itens de segurança que são oferecidos no padrão Brinks.”

Intermodal: Outra inovação da empresa anunciada recentemente foi a parceria com a PicPay, que permite aos usuários da carteira digital realizarem saques e depósitos em dinheiro em mais de 230 mil estabelecimentos do país. Como funciona essa operação?

Marcelo D’arco: “Acho que está claro para todos nós que o mundo está cada vez mais digital. E como premissa básica nós não vamos ficar fora disso. A gente vem em constante ajuste da nossa expertise em relação às novas demandas de mercado.

Um exemplo desse movimento é justamente o Brinks Pay, que surgiu como uma ferramenta de ATM virtual no qual os clientes de instituições financeiras e de pagamentos têm à disposição a função de saque e depósito em lojas do varejo, como farmácias, supermercados, entre outros.

Ou seja, você é usuário de uma carteira digital, onde você deposita e saca o valor se essa carteira digital não tem uma agência física? Então é justamente essa conexão que o Brinks Pay acaba fazendo, você pode ir ao varejo e fazer seu saque e depósito utilizando nossa ferramenta conectada à uma carteira digital.

Além disso, as pessoas também podem contar com o troco digital e compras via QR Code estático e dinâmico, meios de pagamento que dispensam o uso de cartões. Em breve teremos novas transações complementares à oferta dos nossos parceiros de negócios para bancos, cooperativas, corretoras e fintechs que permitirão ao varejista não só economizar, como também ganhar dinheiro ao prestar serviços financeiros para seu cliente.

Como você comentou, estamos olhando para a questão digital e tentando entender como conseguimos encaixar soluções para as demandas ou gaps que o mercado apresenta hoje.”

Intermodal: Falando nessas inovações, existem outras novidades tecnológicas da Brinks que você pode destacar?

Marcelo D’arco: “Apesar de sermos uma empresa centenária e de lidarmos com algo que é meio jurássico, a inovação é parte constante do nosso dia a dia. Ela permeia todas as partes da empresa, desde nossa inovação, a parte de desenvolvimento de negócios, etc.

Eu creio que nosso principal investimento em inovação foi tornar esse pensamento parte integrante da cultura da nossa empresa, isso hoje está no nosso dia a dia e faz parte do nosso DNA. A gente adotou o lean manufacturing, o sistema da Toyota de produção, a gente realiza várias ações durante o ano, criamos uma área específica que trata de melhora contínua, e durante um bom tempo chegamos a ter mais recursos humanos nessa área do que na área comercial, ou seja, o investimento que fizemos foi exatamente de mexer com nossa cultura.

Assim sendo, foi estabelecido um programa de aceleração de startups, lançado em 2017, que nós chamamos de Brinks Up, que oferece consultoria de negócios e aporte para algumas empresas, fomos pioneiras em implementar esse programa no Brasil, e passamos por três ciclos, e temos o prazer de dizer que aceleramos 12 startups.

Passados quase dez anos, podemos dizer que essa mentalidade está super embrenhada na nossa cultura. Temos pessoas certificadas em todas as áreas da empresa, desde os iniciantes até os black belts, e é possível você ver uma colaboradora da nossa sala de processamento de valores por iniciativa própria usando o kamishibai para auditar o processo que ela acabou de executar e não teve o resultado esperado.

Então a gente não necessita mais da posição da polícia lá dentro para dizer ‘isso não está bom, vamos aplicar a metodologia X, Y ou Z para alcançar o resultado’. Hoje o nosso próprio colaborador sabe qual metodologia aplicar para conquistar a melhor performance e resultado, então essa mentalidade que hoje está permeada nos diversos níveis da empresa, aliada a todos os avanços tecnológicos, vem tornando nossa entrega de valor cada vez melhor.

Contudo, acho que estamos ainda começando, é um processo inicial. E posso citar outros exemplos. Na esfera dos negócios criando o ATM virtual que falamos há pouco, e que apesar de ser um ecossistema de pagamentos completo ele oferece sua primeira entrega de saques e depósitos direto no caixa do varejo sem que haja adoção de máquinas complexas, as operações são realizadas por meio de aplicativos e QR Code que hoje todo mundo tem na mão.

Na esfera de segurança é outro exemplo, a gente gosta de exagerar, para que uma ação contra nós seja economicamente inviável ao grupo criminoso. Então investimos dezenas de milhões em novos projetos de segurança física e eletrônica, cooperação de inteligência com as polícias dos estados e municípios e também com a polícia federal.

Bem pouco depois de termos começado com essas iniciativas, tivemos uma tentativa de invasão em uma filial nossa na cidade de Ribeirão Preto que tinha acabado de adotar essas tecnologias, e depois de cerca de uma hora e quarenta minutos, os meliantes munidos de explosivos pesado e armas de alto calibre, acabaram desistindo, pois sequer as paredes da base se moveram.

O calor dos explosivos foi tão intenso que chegou a fundir o metal do batente da porta e do caixa forte, mas o principal estava lá, os valores foram protegidos, e os clientes atendidos pelo plano de continuidade de negócios.”

Intermodal: O que podemos esperar da Brinks Brasil para os próximos anos?

Marcelo D’arco: “É difícil atualmente a gente falar do futuro, mas não podemos deixar de olhar para ele, e continuar fazendo o que já estamos. Pensando no cenário pós-pandemia, temos como objetivo principal auxiliar a retomada da economia, garantindo a circulação do dinheiro.

O que falamos no início do nosso bate-papo, nós seguimos com esse foco, temos por obrigação continuar garantindo a circulação do dinheiro. E todos os aprendizados que estamos tendo a oportunidade de ter nesse momento foram assimilados e incorporados ao DNA, como criação de novos canais para desenvolvimento de tecnologia, novas soluções, etc.

Olhando para o futuro, é continuar capitalizando o que estamos fazendo no presente e cumprindo com nossa obrigação. Esse é o nosso mote.”

Intermodal: Se você pudesse conversar com alguém no âmbito profissional ou pessoal, com quem seria?

Marcelo D’arco: “Acho que eu escolheria o Dalai Lama. Nesse momento que infelizmente temos tido a oportunidade de passar, acho que seria a pessoa que eu gostaria de escutar o pensamento, a orientação, de um grande líder, pensador e pessoa respeitada em toda a esfera global. Queria ouvir as recomendações dele para toda a humanidade.

Estamos tendo a oportunidade, e espero que as pessoas também olhem dessa forma, de olhar para o que vinha fazendo, para onde vínhamos olhando, o que tínhamos como objetivo, e acho que é um momento de reprogramação. 

E nada melhor em um momento de reprogramação do que trazer um dos melhores programados, para poder contribuir com o nosso software para o futuro que nos aguarda. Acho que temos no mundo todo uma série que poderíamos fazer melhor, deixar de fazer, então se eu pudesse, isso seria muito legal.

Se eu tivesse a oportunidade de ter alguns minutos e um pouco desse conhecimento, eu tenho certeza que poderia aprimorar meu processo de liderança, e com nossos 11 mil colaboradoras, capitanear nosso navio para a direção correta e que possa trazer os frutos para todos, não só os colaboradores, mas nossas famílias, nossos clientes, trazer um cenário de mais tranquilidade e paz.”