Neste mês da mulher, temos o prazer de apresentar uma série de entrevistas com mulheres inspiradoras que estão transformando a logística.

Entre essas histórias de sucesso, destacamos Renata Cabrini, Head of Productivity and Logistics Planning na Raízen. 

A trajetória de Renata é um exemplo de liderança, inovação e comprometimento. Além disso, ela tem um histórico que confirma como a resiliência é importante na carreira dos e das profissionais do segmento. 

A seguir, confira a nossa conversa:

Quem é Renata Cabrini?

Sou uma engenheira mecânica formada pela Unicamp, com MBA na FIA Business School e graduação em Gestão de Logística e Cadeia de Suprimentos pela Gclog-MIT. 

Sou uma pessoa muito determinada e dedicada; sempre dou o meu melhor para alcançar meus objetivos, desafiando-me a padrões mais elevados, e adoro inspirar os outros a fazerem o mesmo.  

Atualmente, para ser um líder valioso, é necessário ter uma mente irrestrita; é preciso estar sempre aberto para enfrentar novos desafios, que às vezes não pertencem à área em que se está trabalhando. 

Com isso, estou sempre em busca de aprimorar meus conhecimentos, aprender com diferentes opiniões e culturas, e pensar fora da caixa. 

Por isso, vivi e trabalhei em três países diferentes (China, Alemanha e EUA), e essas experiências me ensinaram a compreender diferentes culturas e opiniões, enriqueceram minhas perspectivas sobre práticas logísticas e me possibilitaram estar mais preparada para extrair o máximo potencial de cada perfil de profissionais. 

Trabalho com logística no Brasil há quase 10 anos, já tive experiências profissionais em empresas como Continental Teves, Shell, Ambev e agora sou Head de Estratégia e Planejamento de Supply Chain na Raízen. 

Sou muito grata por todos os “professores” (em casa, na sala de aula, nos momentos de descontração, no trabalho etc.), pois foram essas pessoas e amigos que sempre me impulsionaram e estimularam a dar o meu melhor! 

Posso dizer que sou uma colcha de retalhos e que tenho em mim parte de todas as pessoas que passaram na minha vida. Levo tudo nessa vida como aprendizado!

Como é um dia de Head Estratégia e Planejamento de Supply Chain da Raízen?

A semana começa com reuniões de alinhamentos com meus pares e depois com minha diretora. Alinhamos os principais focos, antecipamos movimentos e debatemos se há possíveis desafios a serem endereçados. Na sequência tenho reunião com meus diretores para desdobrar esses alinhamentos. 

Minha rotina inclui reuniões para desenvolvimento e implementação de estratégias na cadeia de suprimentos, sendo elas: planejamento operacional curto, médio e longo prazo; e debates referentes à gestão de estoque e otimizações logísticas. 

São atividades que requerem bastante colaboração com equipes dentro e fora da vice-presidência para, juntos, tomarmos decisões estratégicas para suportar o negócio. 

Um dia típico envolve reuniões com a equipe para discutir metas e planos, revisitar análises de dados para avaliar o desempenho da cadeia de suprimentos, interface com outras áreas para garantir a coordenação eficaz e o desenvolvimento de estratégias para melhorar eficiência e reduzir custos. 

Junto a Cislog e outras empresas, buscamos realizar benchmarks para a cooperação e compartilhamento de melhores práticas. 

Busco ser muito próxima da minha equipe. Acredito que quando compartilhamos com o time os drivers estratégicos e os desafios da companhia, conseguimos manter todos engajados e rumo a um objetivo em comum. 

Frequentemente, reúno 100% da minha equipe para bate-papos de direcionamentos, auxílios, engajamento, visões de cenários externos etc. 

Gosto muito de suportar os futuros talentos, como estagiários e trainees, e acredito bastante no trabalho de mentoria que temos dentro da companhia. 

Sou uma das grandes incentivadoras dos programas e estou com minha agenda sempre aberta para suportar pessoas que buscam auxílio para sua jornada. Isso me ajuda a captar novos recursos para Raízen! 

Trajetória: o que te levou ao setor de gestão de supply chain?

Em 2011, durante meu intercâmbio acadêmico na Alemanha, busquei a oportunidade de realizar um estágio e surgiu uma proposta na área de supply chain da Continental Teves, o que me despertou grande interesse. 

Ao retornar ao Brasil, próximo da conclusão da graduação, decidi ampliar meus horizontes e iniciar simultaneamente uma pós-graduação em Energias Renováveis

Apaixonei-me por conhecer o mundo e, por isso, durante o período que estava na faculdade, mantinha-me sempre atenta às oportunidades de programas com bolsa no exterior. 

No final de 2012, divulgaram uma oportunidade que achei bem interessante, uma Conferência Internacional de Petróleo na China, chamada International Petroleum Technology Conference (IPTC). 

Apesar das contradições entre meu currículo e o evento, fui selecionada para participar. 

A IPTC é uma conferência focada em tecnologias e inovações para exploração, produção e processamento de petróleo e gás, organizada em colaboração por quatro organizações internacionais líderes no setor. 

O evento atrai participantes de empresas, instituições acadêmicas, organizações governamentais e outras entidades envolvidas na indústria de petróleo e gás. 

Durante a conferência, são apresentados trabalhos técnicos, painéis de discussão, exposições, oportunidades de networking e competições de projetos entre grupos de alunos abordando uma ampla gama de tópicos. 

Nessa competição de projetos o grupo ao qual eu fazia parte foi o vencedor, resultando em diversas ofertas de emprego para a área, as quais eu recusei por ter optado concluir minha pós-graduação antes de ingressar no mercado de trabalho.

No meio de 2013, concluí minha graduação. Após a formatura, meu orientador da pós me chamou para uma conversa, dizendo que estava bastante desconfortável com a minha participação e premiação na conferência do IPTC, por ser voltada para combustíveis fósseis, enquanto minha pós se tratava de renováveis. 

Por esse motivo, ele decidiu não me orientar mais e, com isso, tive que interromper minha pós-graduação. Como meu plano era terminar a pós para depois entrar no mercado de trabalho, quando me vi sem a pós e sem estar empregada me senti bastante insegura e preocupada. 

Mesmo com as ofertas que havia recebido após a competição, não foi fácil encontrar oportunidades de trabalho no meio do ano, pois a maior parte dos processos seletivos já haviam encerrado as inscrições. 

Após diversas tentativas e rejeições, fiz uma das entrevistas mais desafiadoras da minha carreira, que mexeu muito comigo. 

Estava bastante insegura dos “nãos” e fiz questão de deixar claro na entrevista o quanto eu precisava daquela oportunidade. 

E, em um mix de muita vontade de trabalhar, com oportunidade e sorte, fui aceita no programa de trainee Talentos Ambev, focado em Logística. 

Sou muito agradecida pela oportunidade que a Ambev me deu, em especial ao Paulo Zagman, que me contratou. 

Minha experiência na companhia foi enriquecedora, me fazendo crescer tanto pessoal quanto profissionalmente. Fiz muitos amigos e tenho muito orgulho de tudo que aprendi. 

A paixão pelo supply chain continuou crescendo, e, após anos na Ambev, integrei a equipe da Raízen, uma empresa que complementa minha trajetória em todos os sentidos. 

Trabalhar com commodities ampliou meu conhecimento sobre o mercado e aqui me tornei uma líder mais presente e completa. A aprendizagem na Raízen continua a ser uma parte significativa da minha jornada profissional.

Às vezes, pego-me refletindo sobre a vida… Uma jornada que teve início no setor de supply chain e, devido a uma inconsistência de currículo entre energia renovável e fóssil, tornou-se agora a principal missão da empresa na qual estou e acredito: redefinir o futuro da energia

Como você enfrentou e enfrenta os desafios da sua carreira?

Sou uma pessoa bastante humilde com as aprendizagens. Acredito que todos os momentos que passamos nos ensinam algo, e que independentemente se o momento é classificado na nossa perspectiva como “bom” ou “ruim”, devemos extrair algo dele. 

Para isso, eu sempre busco ter conversas frequentes com pessoas da minha confiança para dividir minhas preocupações, angústias, conquistas e percepções. 

Sou uma pessoa muito transparente e não tenho dificuldade de me mostrar vulnerável – acredito que quando as pessoas que estão a sua volta sabem como você está se sentindo, a maior parte delas tem empatia e buscam ajudar. 

Além disso, eu carrego comigo cinco pessoas que profissionalmente admiro e que, de tempos em tempos, estando em um momento desafiador ou não, eu busco aconselhamentos. 

Isso ajuda a ter alguém de fora analisando a situação com você, observando de uma maneira mais “fria” e distante, consequentemente, te ajudando a identificar desafios de adaptação, regular a aflição” ou “regulamentar o desconforto” e manter a disciplina.

Quais qualidades te levaram ao sucesso?

Acredito que minha determinação, organização e meu foco me ajudaram muito a chegar até aqui. 

Acredito muito no tripé no qual a força de vontade em aprender através da dedicação, pró atividade e esforços constantes para evoluir; em conjunto com a garra de ser comprometido, ágil e resiliente; e com a maturidade que vamos atingindo na vida ao trabalhar com pessoas diferentes, saber ouvir, conhecer nossos pontos de melhoria e ler o ambiente ajuda a nos tornarmos profissionais mais completos

O mix de conhecimentos operacional X estratégico e atividades funcionais X gerenciais também contribuem para nos tornar mais flexíveis e adaptáveis. 

Recomendo muito a leitura do artigo A Simple Way to Map Out Your Career Ambitions”, de Harvard.

Liderança: que dicas você daria para novas integrantes em carreiras de gestão de cadeia de suprimentos?

Gosto muito de dar e realizar mentorias, pois acredito que essas trocas contribuem para nosso crescimento, e, nesses bate-papos, eu sempre falo que acredito no método 70/20/10. 

70% do nosso processo de aprendizado provém da rotina no trabalho: quanto mais familiarizado você estiver com suas funções e responsabilidades, mais capaz será de identificar oportunidades em vez de problemas, e se tornará cada vez mais fácil unificar suas habilidades para abordá-los a fim de resolver o enigma. Você simplesmente vai usando e conectando os temas de uma maneira simples, apenas tentando. 

20% virá por meio de trocas no ambiente de trabalho, a partir de benchmarks, networkings, trabalhos de time e equipe etc. 

Apenas 10% vêm do estudo em si. 

Então, se você está iniciando sua carreira, faça do seu dia a dia de trabalho a sua nova “faculdade”: busque ter proatividade e se conectar com o máximo de iniciativa que puder, busque compreender suas atividades e se comprometa a entregar as demandas e ver problemas como oportunidades. Isso fará a diferença para sua carreira independente da área de atuação. 

Outra dica importante também é que apenas 10% do nosso conhecimento abrange o que sabemos sobre o mundo, enquanto outros 10% englobam as áreas que reconhecemos não conhecer. 

A parte mais significativa, 80%, representa o vasto território do desconhecido, incluindo campos ainda não apresentados ou compreendidos por nós. 

Sendo assim, seja humilde intelectualmente e sempre se incentive a buscar aprendizado contínuo. 

Reconhecer as nossas lacunas de conhecimento e estar aberto a novas experiências e desafios são elementos fundamentais dessa perspectiva!

Veja mais sobre mulheres na logística! Leia o nosso artigo que apresenta conquistas e desafios das mulheres nos últimos anos.