Não é de hoje que se discute o tema “mulheres na logística” no Brasil. Afinal, em um país onde a desigualdade de salários e posições nas corporações ainda é nítida entre os gêneros, nada mais justo do que levantar essa bandeira e buscar, juntos, uma participação mais efetiva e equilibrada nesse quesito no mercado.

Por isso, reservamos um post exclusivo para tentar abordar mais uma vez este tema e mostrar algumas das conquistas e desafios das mulheres na logística no Brasil.

Quem participa conosco é Karla Martins, consultora de logística e que atua diretamente no departamento de vendas e distribuição da Poly há mais de 10 anos. Vamos conferir?

Quais foram os principais avanços das mulheres na logística de décadas pra cá?

Assim como em muitos outros setores da economia, a participação de mulheres na logística ganhou mais notoriedade nos últimos anos. Boa parte disso está atrelada a mudanças nas culturas organizacionais, no processo de conscientização da sociedade como um todo e, claro, a uma longa e histórica luta por representatividade da mulher no mercado.

Essa conquista, ainda que esteja longe de um cenário ideal e perfeito, aponta a participação das mulheres como uma tendência cada vez mais crescente e promissora nas mais variadas áreas de atuação.

No setor logístico, em especial, Karla Martins destaca um fator realmente de destaque e que marcou boa parte da transformação deste mercado: a visão mais estratégica do que operacional das empresas.

Ela destaca: “A mudança neste mercado de trabalho e a maior participação de mulheres na logística começaram quando o setor deixou de ser algo meramente operacional e braçal, passando a ter um papel mais tático e estratégico dentro das empresas. A partir desse momento, novas oportunidades surgiram para que as mulheres pudessem desenvolver seu profissionalismo com postura, liderança e, acima de tudo, respeito.”

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Qual a importância das mulheres na logística?

As competências das mulheres podem trazer grandes contribuições aos processos logísticos e à cadeia de suprimentos. A habilidade em planejar, organizar e gerenciar o tempo de forma eficiente tem muito valor em um setor onde a agilidade e o cumprimento de prazos são vitais. Além disso, a capacidade de criar conexões interpessoais e comunicar-se com clareza é essencial para fortalecer as relações com clientes e fornecedores.

Apesar dos desafios, o cenário está mudando positivamente, com empresas cada vez mais conscientes da importância de promover a equidade de gênero. Para tornar essa realidade concreta, muitas organizações estão definindo metas claras de inclusão e assegurando igualdade de oportunidades e salários entre homens e mulheres.

Ampliar a liderança feminina, concedendo poder para tomar decisões, é o verdadeiro avanço tanto para o ambiente corporativo quanto para a sociedade em geral. Um estudo da OIT revela que a diversidade de gênero pode impulsionar os lucros em até 20%. Mais de 57% dos participantes concordaram que as ações voltadas à diversidade de gênero trouxeram melhorias em seus resultados.

Cerca de três quartos das empresas que priorizam a diversidade de gênero em sua gestão relataram aumentos de lucro entre 5% e 20%, com a maioria observando um crescimento entre 10% e 15%. Para 57% dessas empresas, a maior presença feminina em cargos de liderança facilita a atração e retenção de talentos, enquanto mais de 54% relataram ganhos em criatividade e inovação.

Como é trabalhar como uma operadora logística?

Assim como em outros mercados, o trabalho feminino em transportes e logística é um processo que tem demandado tempo e, como bem disse nossa convidada, uma mudança de cultura organizacional.

São muitas as conquistas do setor até agora e, cada vez maior a presença feminina nas instituições de logística, tanto nas atividades operacionais das cadeias de suprimentos, como nos escritórios e gerências.

Mas como isso é visto aos olhos de quem é mulher e vive, diariamente, diante da dinâmica de um supply chain? A resposta de Karla Martins é objetiva e direta:

“É um desafio diário! Precisamos sempre mostrar muito conhecimento para gerar credibilidade. Ao meu ver, o jeito mais humanizado, característico das mulheres, talvez seja um grande diferencial. E além do mais, estamos sempre um passo à frente, buscando novos conhecimentos e nos aprimorando”, reforça a consultora da Poly.

Quais são os principais desafios da liderança feminina na logística?

A liderança feminina na logística enfrenta desafios como a persistência de estereótipos de gênero, que ainda associam o setor predominantemente aos homens. Isso resulta em preconceitos e resistência à aceitação de mulheres em cargos de liderança, além da falta de modelos femininos de sucesso, que dificulta a inspiração e o desenvolvimento de novas líderes.

O setor frequentemente exige horários imprevisíveis e viagens, criando desafios adicionais para mulheres que precisam equilibrar responsabilidades profissionais e pessoais. A resistência cultural e barreiras internas nas organizações também são desafios de gênero na logística, exigindo políticas de apoio e ambientes mais inclusivos.

O que ainda pode melhorar para termos mais mulheres na logística?

A participação de mulheres no mercado de trabalho é historicamente desigual no Brasil, em especial, se comparados os quesitos de salário e posicionamento hierárquico de homens dentro das empresas.

Além de fatores culturais, essa conquista por mais espaço e igualdade parece encarar outros aspectos nos últimos tempos. De acordo com um levantamento recente, a participação de mulheres no mercado de trabalho caiu a um nível pior que nos últimos 30 anos no Brasil.

E quando trazemos o tema mais especificamente sobre a presença de mulheres na logística, notoriamente ainda nos deparamos com um cenário majoritariamente masculino, seja nas operações, seja no administrativo.

Karla Martins reconhece esse abismo e aposta que uma mudança realmente satisfatória no mercado depende de um processo contínuo de mindset e de cultura dentro das empresas.

A especialista ressalta da seguinte forma: “É preciso, principalmente, que as empresas tenham uma mudança de cultura organizacional em suas estruturas. Só assim para que as profissionais possam continuar conquistando cada vez mais espaço.”

Como tornar a logística mais inclusiva para as mulheres?

Buscar uma resposta única e exata para resolver as diferenças e desigualdades da participação das mulheres na logística está longe de ser uma tarefa simples e fácil.

Como bem vimos e destacamos ao longo do artigo, trata-se de um longo processo, que envolve desde lutas a mudanças de culturas organizacionais.

E isso demanda muito mais do que ações, campanhas e visões de empresas e seus gestores. Estamos falando aqui de transformação!

Karla vai ainda mais além e acredita que para tornar mais efetiva a participação de mulheres na logística, é fundamental reconhecer os diferenciais destas profissionais e ter uma visão mais empática, abrindo oportunidades ao que, de fato, elas apresentam de especial.

“É preciso que as empresas foquem no que todas as mulheres têm de bom e especial, além de profissionais comprometidas e responsáveis, a empatia é muito importante”, finaliza a convidada.

Essas são algumas dicas e informações sobre o importante papel das mulheres na logística e como essa conquista, apesar de ainda ter um longo caminho a percorrer, já nos apresenta um cenário inovador e muito mais justo e equilibrado do setor, que até então era majoritariamente masculino.

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