Com mais de 4.300 participantes em três dias, a 23ª edição da NT Expo – Negócios nos Trilhos, principal ponto de encontro do setor ferroviário na América do Sul, expôs como o setor segue aquecido no país. O evento recebeu cerca de 200 marcas expositoras fornecedoras para a indústria ferroviária e organizou o Congresso NT Expo, com uma programação voltada para as discussões de experiências de sucesso e projetos que estão em andamento para a construção ou revitalização de ferrovias para o transporte de cargas e passageiros sobre trilhos.   

O tópico em alta entre os corredores da feira de negócios foi a maior diversidade de expositores em relação a edições anteriores e a qualificação do público presente que foi conferir as soluções em equipamentos, tecnologias e serviços para todos os elos da cadeia de distribuição que envolvem o modal ferroviário.  

“A edição de 2023 da NT Expo está excelente. É possível ver uma grande participação de um público qualificado de compradores e fornecedores, o que eleva a feira de negócios ao seu princípio básico de fortalecer as relações entre os atores do nosso setor para a geração de negócios no futuro”, disse a diretora de Relações com o Governo, Marketing e Comunicação da Wabtec, Marcia Gomes. O Business Unit Head da Marcopolo Rail, Petras Santos, destacou a evolução do evento com uma ampla seleção de expositores com soluções diferentes para o setor ferroviário. “A NT Expo é uma impulsionadora importante para os players do mercado ferroviário”, comentou Santos. 

Uma das atrações do evento, o Congresso NT Expo, enriqueceu as discussões sobre as tendências e investimentos no setor. Para abrir oficialmente o evento e iniciar a programação dos painéis de debate e palestras, a cerimônia de abertura contou com as participações do ministro dos Transportes, Renan Filho, o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Rafael Vitale, e o secretário de Transportes Ferroviários, Leonardo Ribeiro. 

O ministro aproveitou a ocasião para reforçar a mensagem sobre a necessidade da expansão do modal ferroviário no país. “Precisamos ampliar a presença do modal ferroviário no país. Uma tarefa que não é simples, uma vez que o Brasil tem dimensões continentais e os investimentos ferroviários são constituídos, na maior fatia, pela iniciativa privada sem a aplicação de recursos públicos. Mas,  estamos discutindo novos modelos, inclusive com parcerias público-privadas e vamos aumentar os investimentos públicos no modal”, disse o Renan Filho. 

Segundo o Ministério dos Transportes, para 2023 a pasta terá R$ 18,8 bilhões para investimentos, sendo R$ 12,2 bilhões vindos da EC do Bolsa Família e outros R$ 6,6 bilhões previstos na Lei Orçamentária Anual (LOA). Ainda estão disponíveis R$ 1,7 bilhão de restos a pagar. “Neste ano, o Ministério dos Transportes terá um volume de recursos na proporção do que o país teve nos últimos quatro anos. Isso significa dizer que vamos avançar bastante”, declarou o ministro.

A cifra interrompe a curva decrescente de investimentos em obras e iguala os valores a patamares de 2016. Conforme o ministro, os projetos em execução no ministério buscam reduzir os custos logísticos, assegurar mais segurança às vias e aumentar a competitividade da produção nacional, o que reforça o papel de liderança do Brasil na América Latina.

“A adesão das empresas expositoras e o comparecimento intenso de profissionais do setor durante os três dias de evento deram a tônica da NT Expo em 2023. Foi possível testemunhar como o setor está ávido por colocar em prática os projetos e investimentos previstos para dar ao modal ferroviário maior destaque na matriz de transporte brasileira”, avaliou o diretor do portfólio de Infraestrutura da Informa Markets, Hermano Pinto Jr..

Perspectivas do setor para os próximos anos

Em painel do Congresso NT Expo, autoridades do governo federal e representantes de associações do setor opinaram sobre as impressões com relação às perspectivas para o futuro próximo do setor ferroviário. “Temos que construir uma agenda positiva do setor ferroviário. É preciso concentrar os esforços no ‘como’ desenvolver o modal e sair do campo das suposições apenas. A ferrovia não é apenas um meio de transporte de cargas, e sim um modal com o potencial de ser um agente transformador no aspecto sócio-econômico no Brasil”, disse o diretor-executivo da Associação Nacional das Ferrovias Autorizadas (ANFA), José Luis Vidal. 

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER), Vicente Abate, também citou a importância do setor para o desenvolvimento do país em todas as frentes. “Todo o movimento do modelo de autorização para novos projetos de ferrovias é um indutor para o ressurgimento da indústria ferroviária, com a possibilidade de diminuir a ociosidade de produção atual, que foi agravada nos últimos dois anos com a pandemia. Nós acreditamos que o setor ferroviário é estratégico para o desenvolvimento do país e que estamos na direção de avanços significativos para os próximos anos”, ressaltou Abate. 

O diretor de empreendimentos da INFRA SA do Ministério dos Transportes, Alex Trevizan, lembra que a construção de uma ferrovia é uma obra que leva muito tempo e sofre com uma série de dificuldades que vão desde as questões de licenças ambientais até a busca por mão de obra qualificada. Por essa razão, ele opina que o governo precisa olhar para a melhoria do arcabouço jurídico e dos aspectos regulatórios para atrair o investimento da iniciativa privada. “o diálogo entre todos os atores do setor é o melhor caminho para mantê-lo aquecido”, disse Trevizan. 

Já o vice-presidente Executivo Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Antonio Carlos Sanches, destacou a expectativa da associação para a construção do Marco Legal do Transporte Público Coletivo, que visa a reestruturação do modelo de prestação de serviços de transporte público coletivo. “Muitos projetos estão prontos para sair do forno e o Marco é fundamental para animar os investidores e destravar esses projetos”, apontou Sanches. O texto da minuta do projeto de lei para o novo Marco está em consulta pública e já recebeu cerca de 408 contribuições da sociedade. 

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Transporte de passageiros e mobilidade urbana em São Paulo

O Estado de São Paulo, que é um exemplo no país no transporte metropolitano de passageiros pelo modal ferroviário,  concentra cerca de 30% da malha do país e ainda é insuficiente para o volume e a densidade da população. Porém, a perspectiva para os próximos anos é positiva. No Congresso NT Expo, concessionárias, agentes públicos e representantes de associações do setor ferroviário avaliaram as perspectivas para os investimentos previstos para o transporte de passageiros por trilhos em São Paulo

O chefe de Gabinete da Secretaria de Parcerias e Investimentos do Estado de São Paulo, Diego Allan Domingues, destacou projetos que estão no pipeline para os próximos anos, em especial as parcerias público-privadas e concessões. Entre eles, o Trem Intercidades São Paulo-Campinas (TIC Norte), que deve ter o edital publicado em novembro de 2023, com a previsão de R$ 12,5 bilhões em investimentos. E também a aprovação do início de novos estudos para a expansão das linhas de trens metropolitanos 11, 12 e 13. 

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Também ressaltando os investimentos para o futuro, o presidente da Divisão de Mobilidade do Grupo CCR, Márcio Hannas, falou que a empresa tem cerca de R$ 3 bilhões em investimentos previstos para 2023, sendo R$ 1,5 bilhões na recente concessão da CCR das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda de trens metropolitanos (CPTM). “Essas duas linhas têm demanda atual de 1 milhão de passageiros por dia”, afirmou ele. 

Hannas comentou sobre os desafios enfrentados pela iniciativa privada ao assumir concessões públicas. Ele falou que a dificuldade principal é a recuperação da infraestrutura para que alcance o patamar de outras operações mais modernas e automatizadas. Como exemplo, o executivo citou as linhas 8 e 9, que possuem diferentes sistemas de sinalização e que precisam ser igualados. 

Neste contexto, a diretora executiva da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Roberta Marchesi, avaliou que todas as cidades do país têm dificuldades para estabelecer redes estruturantes de transporte de passageiros sobre trilhos. “O que prejudica esse desenvolvimento do segmento é a descontinuidade dos projetos no longo prazo, uma vez que o problema não é o banco de projetos do segmento que possui 3 mil km de projetos com potencial de sair do papel, sendo 700  mil km só em São Paulo”. Ela defende a constituição de uma Autoridade Metropolitana, com autonomia para a execução de projetos independente do governo da gestão atual.

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