Você já ouviu falar em Custo Brasil? Essa é uma expressão usada para nomear o conjunto de desafios econômicos, trabalhistas, burocráticos e estruturais que influenciam negativamente no crescimento do país.
Quando o Custo Brasil está muito elevado, todos os setores produtivos, entre os quais se inclui a logística, se tornam mais caros. O resultado disso é o aumento dos preços repassados aos consumidores de produtos e serviços.
Marcelo Paciolo e Priscila Saad, respectivamente, o consultor de logística e a consultora de supply chain da AGR Consultores, conversaram conosco sobre o tema. Confira!
Custo Brasil: entenda a origem do termo e o que ele representa
Segundo Paciolo e Saad, o Custo Brasil é a quantificação de todos os obstáculos que todos nós vivenciamos – desde cidadãos comuns até o setor produtivo.
Eles explicam que essa expressão, já utilizada há algum tempo, traduz os entraves, ou seja, as dificuldades já conhecidas pelos brasileiros, tais como carga tributária, infraestruturas, burocracia, aspectos trabalhistas, entre outros.
O conceito de Custo Brasil já tem 26 anos. Nas palavras de Paciolo e Saad:
“A expressão surgiu um ano após a implantação do Plano Real, em 1995, durante um debate em um seminário da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com a estabilização da moeda e o controle da inflação, os empresários passaram a enxergar os gargalos que, uma vez tratados, iriam contribuir para aumentar a competitividade do Brasil frente a outros países”.
Entre os principais gargalos englobados pelo Custo Brasil, os representantes da AGR Consultores destacam:
- a infraestrutura obsoleta e inadequada (energia, telecomunicações e transporte);
- a educação, saúde e segurança pública de baixa qualidade;
- a burocracia e a ineficiência do Estado;
- o sistema tributário complexo;
- a carga tributária elevada; e
- a legislação trabalhista.
Os principais desafios enfrentados para reduzir o Custo Brasil
Na visão de Paciolo e Saad, desde que o Custo Brasil foi implementado, há 26 anos, pouca foi a evolução observada nos fatores que compõem o conceito.
“O Brasil está cada vez mais distante dos principais países quando o assunto é a concorrência comercial. No Ranking de competitividade Brasil, elaborado pela CNI, estamos ocupando o penúltimo lugar, à frente apenas da Argentina”, dizem.
“Para se ter uma ideia em valores, de acordo com um estudo elaborado pelo Ministério da Economia, em 2019, o Custo Brasil já representa 22% do Produto Interno Bruto (PIB), ou aproximadamente 1,5 trilhão de reais”, opinam os consultores.
Questionados sobre como enfrentar os desafios e reduzir o Custo Brasil, os especialistas disseram que é necessário reduzir a carga tributária e simplificar a sua forma de apuração.
Além disso, eles pensam ser necessário ampliar e modernizar a infraestrutura, para que o país consiga crescer de maneira contínua e sustentável.
O impacto do Custo Brasil na logística nacional
“Por estar inserida ao longo de toda cadeia produtiva nacional, a logística consome uma fatia considerável do Custo Brasil, representando aproximadamente 13% do total”, explicam Paciolo e Saad.
Os consultores explicam que podemos considerar que os principais motivos para isso estão relacionados ao transporte, à armazenagem e à tributação.
Nesse sentido, eles declaram: “Na contramão dos países mais competitivos, o Brasil tem 65% da sua matriz de distribuição circulando no modal rodoviário. Obviamente, com essa relevância, a infraestrutura rodoviária passa adquirir grande importância no custo de frete de qualquer negócio, por dois motivos especiais. Primeiro porque mais da metade das rodovias brasileiras estão classificadas como regular ou péssima, de acordo com CNT e SEST SENAT (2019)”.
E complementam: “Em segundo lugar, estamos mais expostos à variação de combustível, e portanto, a cada reajuste de preços toda cadeia produtiva é impactada diretamente. Logo, temos a combinação perfeita para um custo alto de frete: exposição ao preço do petróleo somada à péssima qualidade (de infraestrutura e segurança) das estradas, principal meio de circulação”.
Para Paciolo e Saad, é notável o quão defasado o Brasil se encontra em relação à modernização e à ampliação do parque estrutural logístico, portanto, é cada vez mais urgente repensar os modais atualmente utilizados para o transporte.
Entre outras coisas, eles acreditam ser importante potencializar os modais hidroviários e ferroviários.
Embora os investimentos para redução do Custo Brasil estejam mais na mão dos governantes, as empresas e os cidadãos têm um papel importante nesse cenário. É preciso se posicionar e cobrar dos representantes políticos as devidas melhorias que são necessárias.
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