Você já ouviu falar em ferrovia shortline? Embora ainda pouco conhecido no Brasil, o termo já é amplamente difundido no exterior, e é de grande importância para o setor ferroviário.

Para entender mais sobre o que são e como funcionam as ferrovias shortline, conversamos com José Manoel Ferreira Gonçalves, presidente da Ferrofrente – Frente Nacional pela Retomada das Ferrovias. Vamos entender mais sobre o tema?

Continue lendo e tire suas dúvidas sobre a ferrovia shortline!

O que é a ferrovia shortline?

Gonçalves nos explica que as chamadas ferrovias shortline são linhas de menor distância que servem para conectar pontos próximos mas importantes dentro da linha férrea. Assim, o conceito traz mais agilidade e eficiência ao setor ferroviário.

“As shortlines são ferrovias para o transporte de passageiros, conectando cidades próximas em linhas curtas. Traduzido do inglês, é uma ferrovia de linha curta, empresa ferroviária de pequeno ou médio porte que opera a uma distância relativamente curta em relação a redes ferroviárias nacionais maiores. O termo é usado principalmente nos Estados Unidos e no Canadá”, explica nosso convidado.

Qual a atuação das ferrovias shortlines no Estados Unidos?

País com maior malha ferroviária do mundo, com linhas de 226,612 mil quilômetros espalhadas pelo país, os Estados Unidos são também referência quando falamos de ferrovias shortline. Gonçalves nos explica mais sobre como elas funcionam na nação norte-americana.

“A atuação das ferrovias shortline em solo americano considerável, mas operada por empresas familiares de custos pequenos. Convivendo com transporte de cargas. A importância das ferrovias shortline no sistema ferroviário dos Estados Unidos é representada pelo universo de operadores (603) operando uma malha de aproximadamente 76.000 km, responsável pela circulação de um a cada cinco vagões movimentados, correspondente a aproximadamente 29% do total de carga ferroviária no país”, analisa.

Quais os desafios da implantação de shortlines no Brasil?

Conforme vimos no tópico anterior, as ferrovias shortline têm importante papel no segmento ferroviário dos Estados Unidos. Mas o que é preciso para que tais projetos sejam implementados também no Brasil, e quais os desafios de nosso país nesse sentido?

“O desafio número 1 é a discussão ampla sobre o marco regulatório. O Estado brasileiro detém o monopólio do sistema ferroviário, é preciso definir a função do operador da shortline porque a ideia é aproveitar a linha ferroviária de carga concessionada e fazer passar ali, na mesma linha, o trem de passageiros com a figura jurídica da autorização. Mas, é preciso muita cautela para que não se desvie o foco do assunto. O Estado continuará tendo o seu papel. E não devemos permitir que o empresário concessionado aproveite a ideia da autorização e se faça passar a ‘boiada'”, observa Gonçalves.

O especialista, no entanto, faz ressalvas, destacando que o Estado precisa sim ter um importante papel para que as shortlines sejam uma realidade em nosso País.

“Que fique claro, a concessão tem que continuar existindo, com o Estado presente convivendo com a autorização das chamadas shortline. Há soluções técnicas que viabilizam essa operação. Portanto, o principal desafio está na área jurídica e política. Está se discutindo hoje no Congresso Nacional o PL 261, que trata da autorização delas no Brasil”, completa.

Quais as perspectivas do uso de ferrovias shortlines no Brasil?

Mas, afinal: podemos vislumbrar a possibilidade de que as shortlines se tornem uma realidade mais constante em solo brasileiro? Para o presidente da  Ferrofrente, existem setores nacionais em que tais projetos seriam de extrema viabilidade e trariam grande eficiência ao setor ferroviário do Brasil.

“O Brasil é muito grande. Nosso país é continental e tem especificidades por regiões. As shortlines devem funcionar muito bem em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e na Bahia, por exemplo. Em São Paulo é mais difícil porque teremos sempre a competição da rodovia”, aponta ele.

Gonçalves complementa com mais detalhes de sua visão: “O passageiro não vai deixar de ir de carro se o transporte de ferrovia não for eficiente. É preciso entender e compreender cada região e definir a solução adequada para cada uma dentro de suas necessidades. É uma tarefa transversal onde é preciso contar com uma boa Engenharia aplicada com a área jurídica.”

Como vimos, as ferrovias shortline podem representar um importante salto no transporte de passageiros sobre trilhos no Brasil, mas antes é preciso que setores diversos como o poder público, a iniciativa privada e os especialistas em transporte férreo se unam para que essa ideia seja concretizada, trazendo ganhos de tempo, eficiência e logística ao país.
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