No último dia 28 de julho, o Ministério da Infraestrutura aprovou o tão esperado Plano de Desenvolvimento de Zoneamento (PDZ) do Porto de Santos, que prevê aumentar a sua capacidade de operação em mais de 50% até 2040, além de inúmeros outros progressos para a logística nacional.  

Ao mesmo tempo em que essa notícia soa promissora para a economia e infraestrutura do país, o recente incidente no Porto de Beirute, no Líbano, acende um alerta sobre os procedimentos de segurança em nossos portos.  

Para explicar os reais impactos do PDZ do terminal na logística brasileira e esclarecer quais medidas já são tomadas em relação à seguridade das operações, contamos com a colaboração de Paulo Silveira, supervisor de imprensa do Porto de Santos. Confira!  

O que mudará para a logística brasileira com o novo PDZ do Porto de Santos?  

Além do aumento da capacidade operacional do terminal, o PDZ prevê um crescimento significativo do modal ferroviário para o transporte de cargas no porto.  

“Um dos pontos importantes decorrentes da implantação do PDZ será o aumento previsto na participação do modal ferroviário na matriz de transportes que atende o Porto de Santos, elevando-a de 33% para 40%”, explica Silveira. 

Ele reforça: “O modal ferroviário é fundamental para atender com eficiência o crescimento esperado na movimentação de cargas decorrente da expansão da capacidade de instalações dedicadas a diversos segmentos de cargas, como contêineres [64%]; granéis sólidos vegetais [37%]; granéis líquidos [40%]; granéis minerais de descarga [43%]; e celulose [49%]”. 

Além dos investimentos e progressos na infraestrutura logística do terminal, Silveira aponta que o PDZ do Porto de Santos trará impactos diretos para a economia da região e do país, atraindo mais negócios e oportunidades. 

“O novo PDZ, com certeza, propiciará, também, aumento na economia de escala e produtividade, que somada a um novo fator, que é a clusterização de cargas, elimina a fragmentação de áreas e gera condições para atrair 100% das cargas localizadas na área de influência do porto”, diz. 

Como ela beneficiará outros modais? 

Aqui, Silveira prevê como esse processo de clusterização do PDZ Porto de Santos deve contribuir para as operações logísticas do terminal e destaca as regiões que devem se beneficiar com o projeto.  

“A clusterização proposta no PDZ consolida a movimentação de contêineres e cargas em geral na região do Saboó, próximo à entrada do porto, e as operações de granéis sólidos vegetais [com aumento do modal ferroviário e redução gradual de caminhões próximo à região mais urbanizada] na Ponta da Praia [final do porto]”, analisa. 

E prossegue: “O Macuco e a Ponta da Praia não são ideais para a movimentação de contêineres por serem regiões estreitas, na contramão do layout adequado para terminais eficientes, que exigem uma relação áurea entre comprimento de berço de atracação e pátio”. 

“Essa organização cria uma logística mais adequada para o escoamento das cargas, principalmente diante da modernização dos terminais existentes, que resultará em aumento de capacidade no curto prazo e na expansão da movimentação de cargas”, complementa o profissional. 

O representante do Porto de Santos também dá mais detalhes do que este aumento representará: “Assim, o avanço do share ferroviário de 72% para 80%, no médio prazo, para granéis sólidos vegetais que têm uma participação expressiva na movimentação global do porto, é fundamental para a eficiência e produtividade nas operações. Já a carga com maior share rodoviário será concentrada mais próxima à entrada, em região menos adensada”, explica. 

Como será tratada a questão da segurança, na esteira do acidente ocorrido no Porto de Beirute, no Líbano? 

Em meio ao anúncio do PDZ do Porto de Santos, um trágico acidente ocorreu em um terminal de Beirute, no Líbano. Isso acendeu um alerta sobre os procedimentos de segurança, em especial em relação ao armazenamento de nitrato de amônio.  

De acordo com Silveira, não há o que se preocupar na segurança do Porto de Santos. Ele reforça o comprometimento do terminal com procedimentos, normas e planos de ação já implantados e seguidos à risca durante as operações.  

“A segurança é prioridade da SPA no Porto de Santos. Assim, todos os procedimentos operacionais são seguidos criteriosamente pelos responsáveis e acompanhados por intensiva fiscalização, propiciando total segurança aos trabalhadores e à população. A Autoridade Portuária também fiscaliza os terminais no que se refere à Segurança e ao Meio Ambiente no âmbito do seu Plano Anual de Fiscalização [PAF] e, pontualmente, quando se faz necessário”, afirma ele. 

E continua: “O porto escoa cargas de diversas naturezas, inclusive nitrato de amônio, não tendo registrado qualquer acidente envolvendo esse tipo de carga na área sob jurisdição da SPA. Todos os terminais que operam com produtos perigosos no porto, sejam a granel ou em contêineres, possuem, no âmbito de suas licenças de operação, Estudos de Análise de Risco [EAR], Plano de Gerenciamento de Risco [PGR] e Plano de Ação de Emergências [PAE]”.  

Já em relação ao ocorrido no Líbano, Silveira explica com detalhes: “O nitrato de amônio classe 5 é armazenado em terminal licenciado pela Cetesb e conta com autorização do Exército, seguindo todos os protocolos de segurança. Entretanto, o armazenamento não é feito por longos períodos, sendo basicamente uma operação de transbordo direto dos navios para os caminhões”, observa. 

E prossegue: “A SPA esclarece que não se pode fazer uma correlação entre as condições existentes no Líbano e as verificadas nas operações e instalações com cargas deste gênero no Porto de Santos. Acreditamos de forma bem segura que, independentemente dos motivos que deflagraram a explosão no Líbano, ainda por esclarecer, temos uma realidade completamente diferente, tanto pela tecnologia implantada quanto pelas austeras condições de exigências, monitoramento e fiscalização”. 

Segundo Silveira, o sinal de alerta ligado pelo ocorrido no Líbano é compreensível, mas é preciso separar e compreender as diferenças entre as operações dos terminais. 

“A SPA entende a preocupação que surge em decorrência dessa tragédia. Considera oportuno o debate e, mais ainda, a possibilidade de desmistificar qualquer paralelo que se pretenda alinhar com as condições no Porto de Santos, especialmente em relação à instalação de futuros terminais”, observa.  

“O nitrato de amônio classe 5, por si só, não é inflamável ou explosivo. É necessário haver uma combinação de vários fatores de risco para causar um eventual acidente, como alta temperatura, confinamento e existência de produtos inflamáveis no mesmo local, entre outros”, completa. 

Quais impactos o PDZ poderá ter na logística e economia nacional?  

Para encerrar a entrevista, Silveira reforça a importância e o papel imprescindível do terminal santista para a economia do Brasil. O maior porto brasileiro deve movimentar mais de 240 milhões de toneladas em cargas até 2040, quando é prevista a conclusão do PDZ.  

Segundo o especialista, esses investimentos e progressos trarão melhorias não só operacionais, mas também para o desenvolvimento econômico de diversos setores.  

“Santos é o principal porto do país, movimentando quase um terço de suas trocas comerciais. Assim, as inovações inseridas no PDZ terão reflexo direto no desempenho da indústria e do agronegócio, reduzindo custos logísticos e contribuindo para o cumprimento de prazos contratuais”, conclui o convidado. 

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