O aumento da responsabilidade ambiental entre as empresas, somado às pressões de novas normas e leis governamentais, têm tornado os créditos de logística reversa um tema amplamente debatido no setor nos últimos anos.
E, sem dúvidas, mais do que um instrumento de certificação, estes créditos proporcionam diversas vantagens e diferenciais práticos às empresas, não somente no quesito ambiental, como também no operacional.
Com isso, para entendermos melhor o que são e como funcionam os créditos de logística reversa no Brasil, convidamos dois especialistas no assunto: Maurício Moura Costa, sócio-fundador e CEO da BVRio, e Renato Paquet, ecólogo e CEO da startup Polen, ambas empresas especializadas em soluções desse tipo.
Vamos conferir?
O que são os créditos de logística reversa e como eles funcionam?
Quem começa explicando a definição prática é Maurício, que de forma didática, compartilha um resumo sobre o conceito de crédito na logística reversa.
“Os Créditos de Logística Reversa são certificados que comprovam um serviço de logística reversa e destinação adequada de uma certa quantidade de resíduos. Esses créditos são emitidos e vendidos por cooperativas de catadores e comprados por empresas que são legalmente responsáveis pela realização da logística reversa (fabricantes e/ou importadores desses produtos).”
Dando continuidade e complementando ainda mais a explicação, Renato Paquet, por sua vez, faz uma analogia interessante dos créditos de logística reversa com o exemplo de moedas digitais.
“Costumamos dizer que os créditos funcionam como uma espécie de moeda digital que transforma as informações contidas nas notas fiscais eletrônicas de venda de resíduos pós-consumo às indústrias recicladoras em ‘ativos digitais’, totalmente rastreáveis e impossíveis de serem clonados. Isso é feito por meio da tecnologia blockchain, que garante maior rastreabilidade e transparência a todo o processo, sem o risco de qualquer alteração nos documentos comprobatórios. Para cada quilo de material reciclado, é emitido um crédito de logística reversa”, explica.
Que benefícios os créditos de logística reversa oferecem ao setor?
Mais do que uma questão de responsabilidade socioambiental, os créditos de logística reversa têm peso direto na adequação legal das empresas.
Para entender de forma mais técnica como isso funciona, Renato Paquet da Polen destaca alguns exemplos desses benefícios:
“Os créditos de logística reversa podem ser utilizados como comprovação do processo de logística reversa, pois carregam toda a informação sobre a transação comercial que lhe deu origem. Também ajudam as empresas a se adequarem à Logística Reversa, contida na Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10), que exige a reinserção em cadeias produtivas de 22% dos resíduos de embalagens que levam ao mercado”, esclarece.
Ele prossegue: “A empresa que deseja recuperar as embalagens no percentual indicado pela lei pode adquirir créditos pela plataforma da Polen, e contar com um programa robusto, que atende à lei, tem um propósito social que permeia todas as suas ações e ainda contar com a governança de todo o programa sendo feita em uma blockchain totalmente transparente e segura.”
Por sua vez, Maurício Moura, da BVRio, aponta para outras vantagens dos créditos de logística reversa, indo além dos benefícios legais para as empresas.
“Para os catadores, a venda de créditos oferece uma importante fonte suplementar de renda, agregando valor a suas atividades e trazendo um impacto social positivo. Ou seja, com a venda dos créditos os catadores são remunerados pelo serviço ambiental prestado, renda essa adicional `a receita obtida com a venda do material físico”, analisa.
Moura também aponta outros benefícios do sistema: “Do ponto de vista ambiental, o valor adicional gerado pela venda de créditos torna vantajoso aos catadores coletar mesmo os resíduos sólidos que tenham baixo valor de venda como matéria prima, ampliando a gama de produtos coletados (atualmente, apenas produtos com alto valor de matéria prima são coletados, como as latinhas de alumínio).”
Onde e como adquirir créditos de logística reversa?
Aqui, ambos os convidados mostram as diferentes alternativas para se adquirir créditos de logística reversa, destacando os diferenciais e especificidades de suas empresas.
“O processo de criação de Créditos de Logística Reversa requer que a cooperativa de catadores demonstre ter conduzido esse serviço ambiental de forma efetiva. Cooperativas precisam submeter à BVRio toda a documentação relacionada à coleta de resíduos sólidos, triagem, pesagem e venda de materiais recicláveis.
A documentação é registrada em um Sistema de Gestão desenvolvido especificamente para esse fim e mantido online na plataforma eletrônica da BVRio. O principal documento a ser carregado no Sistema de Gestão é a nota fiscal eletrônica de cada venda de material reciclável, por ser um documento oficial ligado à Receita Federal brasileira.
Dessa forma, apenas cooperativas formalmente organizadas, com um número de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), podem participar no Sistema. O Sistema de Gestão concilia os fluxos de resíduos sólidos (entradas e vendas) da cooperativa com notas fiscais eletrônicas, e emite Créditos de Logística Reversa para cada tonelada de material enviado a empresas de reciclagem”, explica o CEO da BVRio.
Já do lado da Polen, Renato explica o procedimento da seguinte forma:
“A Polen desenvolveu uma solução inovadora para tornar o processo de compensação extremamente seguro, transparente e, simples, através da Plataforma Online de Créditos de Logística Reversa, onde todo o processo de aquisição dos créditos de reciclagem e a remuneração das cooperativas parceiras é realizado de forma totalmente digital, o que o torna rápido e prático.
Os dados sobre as transações ocorridas no sistema são compilados e apresentados de forma que as partes envolvidas possam comunicar a seus stakeholders (internos e externos) as atitudes que estão tomando para fomentar a cadeia da reciclagem no Brasil.”
Que outras ações semelhantes auxiliam a logística a ser mais sustentável?
Para destacar outras ações possíveis que as empresas de logística podem buscar em suas operações para se tornarem mais sustentáveis, Renato sugere a implementação de cadeias de reciclagem do zero.
“Um bom exemplo está em nossos programas estruturantes, nome que damos aos programas que desenvolvemos do zero com as empresas que nos contratam. Nestes programas nós montamos uma cadeia da reciclagem praticamente do zero, geralmente atuando em regiões que não tenham cooperativas formalizadas ou recicladores próximos.
Com isso, estruturamos um programa de coleta de resíduos, separação destes e posterior comercialização para indústrias recicladoras. Assim não só desviamos resíduos do fluxo de aterros sanitários e lixões – realidade que ainda persistem para 40% dos resíduos gerados em nosso país – como geramos emprego e renda na região onde atuamos”, destaca.
Complementando as ideias, Maurício lista outras alternativas para estas empresas de logística, mas reforça a importância de incentivos por parte de políticas e da participação da sociedade como um todo.
“A efetivação da logística reversa no Brasil apresenta desafios enormes. Um deles é a implementação de um sistema de coleta seletivo que realmente seja eficiente com incentivos para a indústria e os consumidores. É necessária uma grande conscientização de diversos atores da sociedade sobre a cadeia da reciclagem no País e como isso pode gerar benefícios sociais para todos.
A BVRio também acredita em um trabalho de articulação institucional e foi pioneira ao criar com diversos atores, em meados de 2014, o Observatório da Política Nacional de Resíduos Sólidos”, observa.
Sustentabilidade e responsabilidade socioambiental na logística
Essas são algumas das questões mais essenciais sobre o papel dos créditos de logística reversa e como diferentes soluções têm surgido no setor nos últimos anos, agregando cada vez mais o conceito de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental às operações das empresas.
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