Tema recorrente nos debates sobre as novas configurações das cidades, a mobilidade urbana aliada à tecnologia tem ganho cada vez mais espaço nos debates do setor ferroviário.

O assunto tem grande relevância, já que a construção de novas linhas e estações afeta diretamente a vida dos usuários. Por isso, a NT Expo 2023 realizou um painel especial mediado por Ailton Brasiliense Pires, presidente da ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos. Participaram dele:

  • Pedro Moro, presidente da CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos; e
  • Marcos Daniel Souza dos Santos, secretário Nacional de Mobilidade Urbana – Substituto da Secretaria Nacional de Mobilidade e Serviços Urbanos do DEMOB, Ministério das Cidades.

Veja mais do que foi dito no principal evento latinoamericano dedicado à área metroferroviária!

O atual contexto da mobilidade urbana e a integração modal

Ailton Pires abriu o encontro falando sobre o crescimento da cidade de São Paulo da década de 1950 para cá, com um enorme aumento da população, o que afeta a mobilidade urbana e o transporte sob trilhos

Passando a palavra para Pedro Moro, Pires questionou o especialista sobre como podemos ter uma visão mais voltada ao planejamento, em especial no longo prazo.

Ele apontou o fato da companhia estar realizando convênios com órgãos como a Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano para que isso se integre em toda a região metropolitana e do estado. 

“Esse planejamento é baseado no PITU, e tem o foco exatamente nesse contexto. Mas, além disso, temos que pensar no que ainda temos a implantar no curto em relação especialmente à tecnologia e acessibilidade para a mobilidade”, refletiu.

Segundo Moro, a questão da pandemia, que impactou o fluxo de passageiros pelas restrições presenciais, permitiu com que a CPTM utilizasse a tecnologia e integração entre os modais para proporcionar formas de auxiliar a população.

Marco Legal do Transporte Público e mapeamento de passageiros

Marcos Santos iniciou sua participação explicando que a secretaria federal tem prospectado novos projetos para otimizar a mobilidade. Em paralelo, ele destacou que outro tema de importância para o governo federal é o Marco Legal do Transporte Público, que tem como foco dar segurança jurídica para tais ações.

“Tudo isso tem sido insumo para pensarmos em como melhorar nossas operações, e vimos a oportunidade da conectividade e da tecnologia ajudarem nisso. E de que forma? Em fazer planejamento, calcular custos e dificuldades”, explicou.

Santos disse que as particularidades de cada região do país exigem tratamentos específicos tanto no sentido técnico quanto financeiro por parte do Governo Federal. 

Ele prosseguiu: “Estamos falando de tarifa, de conforto, de confiabilidade, e isso tudo a tecnologia e a conectividade permitem que essa experiência traga algo que inverta a lógica do transporte individual e seja um facilitador dessa mudança.”

Na sequência, Moro abordou o exemplo de uma nova estação da CPTM construída na região do Grajaú, na Zona Sul da capital paulista. Segundo ele, os novos projetos da empresa têm buscado fomentar a comunidade local para impactar a mobilidade urbana com base em inovações e integrações entre os modais.

Moro também comenta que a companhia realizou um mapeamento da jornada dos usuários buscando encontrar pontos de melhora nessa experiência de transporte. Segundo ele, essa medida gerou uma série de benefícios. Ele comentou:

“Essas ações vão desde melhorias na estação, na forma de adquirir o bilhete, no tratamento dos colaboradores com os passageiros, as relações com os agentes externos e outros meios de transporte para a integração – e transformamos isso no mapeamento estratégico.”

Ações férreas voltadas à áreas periféricas

Na mesma toada, Santos abordou decretos da Secretaria federal voltados para a cidade como um todo, englobando questões como saneamento e desenvolvimento junto com o eixo de transporte. Ele afirmou:

“Quando o trilho chega há a possibilidade de você reconfigurar o espaço urbano, mas sabendo que você não pode expulsar a população de baixa renda de lá. Você precisa entender que a estação acaba sendo uma grande subcentralidade que pode ser bem explorada, e não espraiando e levando-os para uma área mais distante.”

Ainda segundo Santos, “as regiões metropolitanas e periféricas precisam tratar o tripé do saneamento, transporte e habitação como pontos importantes a serem considerados, e lógico que isso converse com a política de mobilidade.”

Ele explicou que essa ideia é algo imposto a nível federal, para que os planos diretores da cidade sejam revistos visando o longo prazo, planejamento evitar com que esse eixo fique isolado, criando uma escala hierárquica da rede de transporte.

“A ideia do Marco Legal é trazer a participação do poder público, conversando com o setor privado, com os outros sistemas que existem e entendendo que a cidade precisa ser configurada de acordo com o eixo estruturante”, ponderou.

O papel da inovação na última milha ferroviária

Outro aspecto abordado pelos painelistas foi a integração com outros modais e a última milha, algo que, para Santos, permite com que “a experiência do usuário seja satisfatória no tempo e segurança.”

O representante da Secretaria destacou bicicletários como bons exemplos desse movimento, assim como a implementação de redes wi-fi nas estações, entre outros serviços físicos e digitais que buscam prover soluções à mobilidade urbana.

“Nossa experiência de usuário hoje com a internet e o celular mudou. Ela trouxe isso com aplicativos de mobilidade, de você ter o planejamento de transporte, de ter o mapa, alternativa de itinerário. E ele quer isso para o serviço público, ele quer dar estrelinha, quer mandar uma mensagem, avaliar e ter previsibilidade”, observou.

Ainda nas palavras de Santos, “é preciso montar o suporte para uma experiência do usuário, e a conectividade traz essa oportunidade e também uma cobrança.”

Os painelistas também abordaram outros temas como sistemas de trens elétricos, avanços para o longo prazo com base em política de estado, evolução das cidades com base nas inovações e seu reflexo na mobilidade.

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