Muitos brasileiros parecem pensar que o Brasil não sofrerá qualquer tipo de impacto com a invasão da Ucrânia pela Rússia ou que esses serão mínimos, pois o governo do país reafirma sua posição de neutralidade sobre a decisão tomada pelo presidente russo. Há também aqueles que se preocupam porque entendem que, em um mundo globalizado, o que acontece lá pode e vai ter repercussões aqui. Nesse caso, o “lá” é representado pela Rússia e pela Ucrânia e o “aqui” é o Brasil.

É evidente que qualquer conflito armado traz repercussões econômicas, mesmo para aqueles países que não mantêm qualquer relação política, econômica ou comercial com os envolvidos. No caso da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, esse fato é ainda mais verdadeiro se considerarmos que o Brasil tem, na Rússia, um parceiro de negócios bastante expressivo, pois é o sexto país de quem o Brasil mais compra produtos, como trigo, milho e fertilizantes, que representaram por volta de US$ 5,7 bilhões de importações em 2021, embora o volume de exportações, em sua maior parte de soja e carnes, para esse país não tenha ultrapassado a marca de US$ 1,6 bilhão.

No entanto, para o Ministério da Agricultura brasileiro o maior obstáculo é representado pela importação de fertilizantes, uma vez que a Rússia atende cerca de 30% do suprimento desses insumos ao país, e Belarus, aliada de Putin, responde por cerca de 20% dessas necessidades.

Em relação a Belarus, a compra de fertilizantes, no caso o cloreto de potássio, muito utilizado nas culturas de soja e milho no Brasil, já vinha sendo prejudicada em função de sanções aplicadas pelos Estados Unidos e União Europeia desde 2020.

Agora, esse fornecimento pode ficar totalmente comprometido, pois, embora o Brasil não seja obrigado a seguir as medidas restritivas impostas por EUA e UE, elas podem afetar o fluxo de exportações e importações.

Nesse sentido, espera-se que os profissionais de logística, que já se debruçam sobre as possíveis alternativas para a minimização dos impactos econômicos ao Brasil, consigam encontrar novos parceiros entre os outros países que, até o momento, apenas completavam o percentual de insumos que atendiam às necessidades agrícolas brasileiras.

Preocupação também para esses profissionais é a possibilidade do aumento exponencial dos preços do gás de cozinha e do petróleo, principalmente este último, uma vez que o Brasil tem grande parte de sua logística de distribuição, no território nacional, baseada em derivados do petróleo, com a utilização quase hegemônica do modal rodoviário.

O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, em entrevista a uma revista especializada em agronegócio, aponta que, além dos fertilizantes, uma guerra na Europa pode impactar logisticamente não apenas a distribuição da produção brasileira para os países importadores, como também a compra de insumos, de defensivos agrícolas e peças para manutenção das máquinas agrícolas.

Para os profissionais da logística, que devem buscar alternativas para o escoamento da produção nacional, bem como para a compra de produtos necessários à manutenção de um fluxo comercial saudável, que contribua para manter a estabilidade da economia, o que resta é a possibilidade de abertura de novas rotas de transporte, principalmente que não saturem as rotas já conhecidas, de forma que o tempo e os custos sejam compatíveis com essa nova ordem econômica mundial.

*Alessandra de Paula é professora da Escola Superior de Gestão, Comunicação e Negócios do Centro Universitário Internacional Uninter.