A transição energética no transporte ferroviário consiste em buscar meios para que os trens e os metrôs operem de maneira mais eficiente e demandando menos recursos naturais.

Sem dúvida, essa é uma das principais demandas do setor para os próximos anos, que vê nas locomotivas elétricas uma das melhores saídas.

Conversamos sobre esse tema com o José Manuel Ferreira Gonçalves, doutor em Engenharia de Produção e presidente da Frente Nacional pela Volta das Ferrovias (Ferrofrente). 

Ele compartilhou conosco a sua visão sobre o atual cenário e os próximos passos da transição energética do transporte ferroviário. Confira abaixo!

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Saiba mais sobre a transição energética no transporte ferroviário

Na opinião de Gonçalves, o transporte ferroviário por si só, mesmo que funcionando a diesel, é mais sustentável do que o transporte rodoviário. 

Isso se justifica porque uma única composição ferroviária transporta muito mais itens do que um caminhão isoladamente.

“Dentro de um vagão você ‘coloca’ três ou quatro caminhões. Numa composição de 100 vagões você retira 350 a 400 caminhões das ruas. Isso dá uma redução espetacular no consumo energético”, exemplifica o especialista.

Ele também comenta que a transição energética pode ser feita a partir de várias fontes, tais como elétrica, solar, eólica, da biomassa, entre outras.

Porém, ele alerta para a importância de pensar na situação como um todo. A energia elétrica polui menos que o diesel, mas também demanda desmatamento nas florestas para a construção de usinas. Gonçalves explica:

“Temos que pensar no começo, no meio, e no fim. Isso é um pedaço dentro de uma grande matriz. É preciso mudar o paradigma de tudo isso e pensar para daqui 20 e 30 anos, resolvendo as etapas de uma forma que tenha sentido.”

Ele prossegue: “O primeiro é mudar a matriz de transportes. A transição é importante, mas não é, nesse momento, prioridade do transporte ferroviário”.

A relação entre a sustentabilidade e a transição energética no transporte ferroviário

Segundo Gonçalves, o transporte ferroviário é mais equilibrado do ponto de vista do balanço energético em função da grande capacidade de transportar cargas e passageiros.

Sendo assim, o incentivo ao transporte ferroviário já é uma medida considerada sustentável. É claro que isso pode ser ainda mais aprimorado, sendo esse um grande desafio para os governos e as empresas do segmento.

“Em um primeiro momento deve-se racionalizar e organizar o uso dos transportes, disciplinar centros de concentração e de distribuição de cargas”, analisa.

Ele complementa: “A ideia é reduzir o uso da matriz de transporte em cima de pneus, por exemplo, que utilizam muito mais diesel do que a própria ferrovia, que hoje usam esse combustível, mas que transporta muito mais do que um caminhão isoladamente”.

Na visão do presidente da Ferrofrente, depois de dado esse passo, deve-se começar os estudos para adotar novas formas de geração de energia.

As locomotivas elétricas no Brasil e no mundo

As locomotivas elétricas são vistas por muitos como uma alternativa do futuro para o transporte ferroviário. Porém, segundo Gonçalves, ainda há pouca movimentação no segmento, tendo em vista que o transporte ferroviário pouco absorveu as novas tecnologias.

“Quem está fazendo alguma experiência com isso é a Vale, que desde 2020 testa locomotivas movidas a bateria elétrica para transportar minério de ferro”, exemplifica.

Apesar de achar a iniciativa louvável, o presidente da Ferrofrente classifica esse movimento como uma “gota no oceano”. 

Ele acredita que para mudar a realidade do transporte ferroviário será necessária uma forte movimentação do poder público para definir políticas que priorizem esse modal.

Siga conosco! Confira agora nosso material sobre sustentabilidade nos trilhos: ações nas ferrovias brasileiras.