O debate foi sobre a relação cidades-portos, a competitividade dos portos brasileiros e como diminuir as ineficiências para melhorar a capacidade operacional do transporte marítimo com soluções tecnológicas.

Aumentando a eficiência e segurança dos portos brasileiros

Para Vinicius Patel, a inovação tem um papel fundamental para que as operações portuárias sejam mais eficientes, mas que existe um distanciamento da sociedade com os portos. Segundo o entrevistado, “é necessário que a comunidade consiga estar próxima, veja valor e contribua diretamente pela perenidade dos portos.”

Ele cita o engajamento do Porto do Açu com a comunidade, e que existem diversos outros bons exemplos de estreitamento dessa relação, fazendo com que as pessoas entendam a riqueza dos portos que vem desenvolvendo o Brasil há pelo menos cinco séculos.

Eduardo Valença complementa que novas empresas, startups e tecnologias podem aprimorar a produtividade dos portos com soluções ‘simples’, sem a intervenção de grandes investimentos em infraestrutura, como obras civis. 

Ambos os entrevistados fazem parte da iniciativa Cubo Itaú, ”o que a gente vêm observando é que, através da colaboração, a gente consegue destravar valores e um mercado que talvez a gente individualmente não conseguisse fazer.”

As inovações nos portos brasileiros

Nos estudos do Cubo Itaú, Eduardo Valença diz que analisaram 500 startups nacionais e internacionais que desenvolvem soluções para a indústria marítima e portuária. Entre os insights retirados da pesquisa está a proliferação dessas startups nos últimos anos e que o foco das soluções está principalmente na descarbonização e automação.

Segundo o Diretor de Transformação Digital, “90% de todas as cargas movimentadas pelo mundo são através do setor aquário. Então, a gente têm uma gama de oportunidade onde empreendedores podem, através de tecnologia, ajudar as nossas operações a se desenvolverem, a serem mais competitivas e a serem mais produtivas.”

Vinicius Patel lembra que, além da tecnologia, um sistema de inovação depende de processos, da mentalidade e cultura das pessoas. Apesar de existirem tecnologias de ponta, a utilização dos dados e mão-de-obra ainda tem sido uma forma de melhorar as operações portuárias no Brasil.

“Tem alterações, em vários lugares, que ainda é pelo braço humano, e a questão toda é o que está sendo feito para que isso seja minimizado do ponto de vista de dar mais segurança, maior qualidade de vida para esses operadores portuários, e gerar menos impacto para o meio ambiente.”

A competitividade dos portos inteligentes

Os entrevistados comentam durante a entrevista que o setor está globalizado, os portos brasileiros competem com os portos mundiais, e o serviço recebido em portos de Cingapura, China e Holanda, são os mesmos esperados do Brasil.

Eduardo Valença diz, “o que a gente olha fora do Brasil são terminais 100% automatizados, alguns exemplos de barcos autônomos, é tecnologia já bem avançada em andamento e que é realidade, que sem dúvida eu acho que isso é tendência e será incorporado aqui.” Mas antes disso, os portos brasileiros precisam pensar em coisas simples que destravem valores de melhorias.

Vinicius Patel concorda com o colega, “A embarcação que vem hoje no Porto do Açu está vindo dos portos mais tecnológicos do mundo, então, eu tenho que estar na mesma perspectiva, com o mesmo nível de entrega, mesmo nível de serviço.” 

Mas o entrevistado aponta que as estruturas brasileiras não estão no mesmo patamar de onde os portos mais tecnológicos estão localizados, “O fato dele não ter se desenvolvido do ponto de vista de robotização, de automação, não quer dizer que ele não tenha se desenvolvido do ponto de vista de processo.”

Para Eduardo Valença, o Porto Inteligente é aquele que consegue usufruir da tecnologia para prover o melhor nível de serviço com a maior segurança possível.  “Como é que a gente consegue trazer uma segurança da navegação maior tendo um acompanhamento em tempo real das condições de profundidade do mar?” Essas inovações não necessitam de Inteligência Artificial ou Robótica diretamente aplicada aos Portos, e sim o uso de dados já coletados para melhorar ineficiências do setor.

Ambos os entrevistados concordam que a cooperação entre a iniciativa privada, pública e da sociedade é necessária para desenvolver a cadeia logística brasileira como um todo.

O papel da tecnologia na sustentabilidade do setor marítimo

Eduardo Valença cita tecnologias que podem ajudar operadores portuários a otimizar o consumo de combustível. “A gente tem, hoje, o apoio de sistemas e tecnologias onde, analisando diversas variáveis, a gente consegue alocar a nossa frota de rebocador nas operações mais ótimas, minimizando o efeito e o consumo de combustível, aproveitando-se, por exemplo, da correnteza do mar para que você consiga navegar consumindo menos.”

Para o médio e longo prazo, também comenta discussões sobre novas fontes de energia, como rebocadores elétricos, ou combustíveis alternativos, como o etanol e hidrogênio verde.

Vinicius Patel traz o INAVIGATOR, um sistema interligado que controla a saída do navio, a janela de operação no Brasil e a disponibilidade de rebocadores. “Com isso tudo, eu consigo falar para o navio que ele não precisa acelerar tanto, porque se ele chegar aqui, talvez eu não tenha uma janela imediata, e com isso eu reduzo a quantidade de emissões durante esse período de navegação.”

O COO do Porto do Açu também lembra de toda a questão de planejamento operacional através de soluções baseadas na natureza, como as dragagens. ”Ao invés de nos interpomos com a natureza, tentando vencer ela, como que a gente faz para reduzir custos, emitir menos e fazer um impacto menor para a sociedade com esse tipo de operação?” 

Falando do ESG, Patel aponta que não estamos falando apenas de meio-ambiente. “A gente tem todo um compromisso de governança, que é assegurar desde ambientes diversos, desde a relação do porto-cidade, que é como a gente constrói aquilo, são também compromissos nossos dentro das nossas agendas e estratégia ESG.”

Confira a entrevista completa na Plataforma Intermodal!