Principal evento da América Latina dedicado ao setor de transporte de cargas e passageiros por trens, a NT Expo 2023 foi realizada neste mês de março no São Paulo Expo, localizado na capital paulista.
Uma das atrações do evento foi o painel “Perspectivas do transporte metroferroviário do estado de São Paulo, que reuniu os convidados:
- Diego Allan Domingues, chefe de gabinete da Secretaria de Parcerias e Investimentos do Estado de São Paulo;
- Márcio Hannas, presidente da Divisão de Mobilidade do Grupo CCR;
- Roberta Marchesi, diretora executiva da ANPTrilhos;
- Alberto Epifani, especialista da Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos; e
- Vicente Abate, presidente da ABIFER – Associação Brasileira da Indústria Ferroviária.
Confira abaixo mais sobre o painel, que teve a mediação de Jean Pejo, representante da ALAF – Associação Latinoamericana de Estradas de Ferro.
As parcerias público-privadas para o progresso do transporte metroferroviário no estado
Pejo deu início ao encontro falando sobre a questão regulatória, destacando as concessões realizadas com sucesso na cidade de São Paulo.
“O investimento público fez com que a CPTM saísse dos um milhão de passageiros por dia para mais de 3,5 milhões de passageiros por dia. E, mais que a quantidade de pessoas, vale o reconhecimento de que o sistema funciona bem, a qualificação que é dada nas enquetes que a ANTP faz sobre a qualidade do serviço”, pontuou.
Diego Domingues comentou sobre a recente reestruturação da Secretaria de Transportes Metropolitanos, destacando as parcerias público-privadas.
“A visão do governo é de andar em parceria com o setor privado. A gente pretende estimular muito o desenvolvimento tecnológico sempre com o desenvolvimento social e econômico do estado. Outra coisa importante prevista nos projetos é a de usar a parceria como forma de expandir com qualidade o serviço e com tarifas adequadas”, refletiu ele.
Domingues também falou sobre a importância da sustentabilidade e boas práticas de mercado nacional e internacional para orientar os projetos. O chefe de gabinete ressaltou projetos aprovados por um conselho da Secretaria, como a integração do TIC Campinas com a capital, citando ainda o TIC de Sorocaba.
“É um projeto bastante interessante pois engloba áreas metropolitanas que somam quase 15 milhões de pessoas nas regiões que envolvem o trajeto”, comentou Domingues, que abordou também novas expansões dentro da capital.
Outro ponto abordado por Domingues foi a futura linha 14, de Guarulhos em direção ao Jardim Irene, com previsão de 28 estações, ainda em fase de estudos também, com estimativas de transporte de 600 mil passageiros ao dia.
Os desafios e oportunidades para o setor privado no segmento
Na sequência, Márcio Hannas situou as operações do Grupo CCR, apontando as operações da empresa em diversas regiões, como as linhas de metrô na Bahia e as linhas 4, 5, 8 e 9 em São Paulo, que somam ao todo quase 3 milhões de passageiros transportados por dia ao todo na capital paulista.
“Temos previsto para esse ano mais de 3 bilhões de investimentos, boa parte nas linhas 8 e 9, mas também na integração Gentileza do Rio de Janeiro, que vai integrar VLT, ônibus e BRT, sendo o primeiro terminal intermodal da cidade”, disse.
Hannas revelou a compra de 36 novos trens pela empresa, observando que são veículos modernos, com maior durabilidade e menor consumo de energia, com melhor automação, portas maiores e iluminação de led, entre outros pontos.
“O grande desafio do setor privado quando assume uma linha dessas é fazer a recuperação da estrutura, colocando ela no mesmo nível de outras operações que já temos, mas mais automatizadas e modernas para prestarmos um melhor serviço”, comentou o painelista.
Soluções de questões políticas para o avanço da malha
Por sua vez, Roberta Marchesi observou o fato de que as malhas existentes ainda estão longe de atenderem a população metropolitana nacional. Ela comenta:
“O Brasil hoje tem uma malha de 1130 quilômetros instalada, São Paulo lidera com quase 30% da malha do Brasil no estado, mas elas são insuficientes tanto para nível do Brasil quanto de São Paulo. Ainda é uma malha insuficiente para o volume e a densidade da população.”
De acordo com ela, das 26 regiões metropolitanas do Brasil com mais de um milhão de habitantes, apenas 11 têm algum sistema de transporte sobre trilhos. Para Marchesi, uma das razões para este déficit é a questão política.
“Queremos transformar projetos políticos em projetos de estado. O transporte estruturante precisa de longo prazo, de tempo de maturação, tanto para planejamento quanto para a implantação”, analisa.
Ela complementa: “Uma forma de fazer isso é a constituição de autoridades metropolitanas de transporte, ou consórcios públicos que tenham autonomia para fazer o planejamento para todo o estado ou região metropolitana, mas que também tenha autonomia para executá-los.”
A integração entre os modais com base em planos de execução
Na visão de Epifani, muitas vezes a visão das empresas é individual, focando apenas em determinadas linhas ou sistemas. Segundo ele, é preciso pensar na rede para todo o transporte público de passageiros.
“Temos o PITU, Plano Integrado de Transportes Urbanos, e a projeção de investimentos geralmente é feita com um prazo de 20 anos. Foi feito isso em 1997, e modificou a cara do transporte”, relembrou ele.
Ele prosseguiu: “O PITU 2020 foi um elemento transformador da realidade, pois as medidas preconizadas hoje são realidade. Então ele é uma peça fundamental para compatibilizar os anseios expansionistas das diversas empresas e municípios que atuam na região metropolitana, evitando desperdícios, superposições, e reduzindo as externalidades negativas que eles podem apresentar.”
Para Epifani, é preciso ter uma política de integração clara, e que isso cabe à autoridade metropolitana. Ele explica que a função dela é fazer planejamento operacional do sistema, estabelecendo o custo tarifário para mantê-lo.
“Difícil tarefa em um país fundamentalmente municipalista, pois como você interage considerando que a região metropolitana tem 39 municípios com sistemas de transporte independentes?”, indagou o palestrante.
A visão da indústria metroferroviária nos novos desafios da área
Apresentando a visão da indústria do segmento metroferroviário, Vicente Abate diz crer que as empresas estão preparadas e prontas para o desafio.
“A indústria não só está capacitada tecnicamente e fisicamente, como está ansiosa para poder fazer os trens que vêm por aí”, analisou ele.
De acordo com Abate, é preciso que a produção de trens acompanhe a expansão da malha, como a da linha 2 em São Paulo. Para ele, algumas ações do poder público, como o programa Retrem, são bons exemplos disso.
Abate também falou o Aeromóvel do Aeroporto de Guarulhos, que vai ligar o terminal da linha 13 Jade aos três terminais dentro do aeroporto e está em obras avançadas, trazendo grandes vantagens na integração modal da metrópole.
“É um equipamento totalmente nacional, com tecnologia propulsão pneumática, totalmente amigável ao meio ambiente, como toda a indústria ferroviária o é, além de estratégica ela persegue as prerrogativas do ESG”, concluiu ele.
Quer saber mais? Garanta o seu acesso à Plataforma da NT Expo e veja gratuitamente tudo o que rolou na edição 2023 do evento!