A 2ª edição do Interlog Summit começou nesta terça-feira, 5, com dois congressos simultâneos: XXVII CNL – Conferência Nacional de Logística, com curadoria da ABRALOG, e o Congresso Intermodal South America

Um dos primeiros painéis trouxe o tema “Perspectivas para o Transporte e Infraestrutura Brasileira”, que contou com a mediação de o presidente da Abralog, Pedro Moreira; tendo como debatedores presidente da CNT – Confederação Nacional do Transporte, Vander Costa; secretária-executiva do Ministério de Portos e Aeroportos, Mariana Pescatori; e o diretor de Outorgas Ferroviárias da Secretaria Nacional de Transporte Ferroviário – SNTF/MT, Hélio Roberto Silva de Sousa.

O presidente da CNT iniciou dizendo que o mercado ainda vê a relação entre os modais de transporte como de concorrência. “Infelizmente, modais de transporte são tratados como concorrentes e não são. A intermodalidade é fundamental e todos os modais são complementares. E é importante haver investimentos, para oferecer crescimento, como acontece na China, por exemplo. 

Vander Costa expôs que em 2023 houve um investimento de R$ 18 bilhões para a manutenção das rodovias. “Foi mais robusto que em anos anteriores, mas ainda é pouco. Precisamos de mais investimentos públicos, em locais mais carentes, e particulares em lugares já estruturados”, ressalta.

Além disso, afirmou que o Brasil não é um País rodoviário, já que, segundo ele, há anos não é feito investimento de infraestrutura na malha rodoviária. Contudo, ele reforçou ser o momento ideal para investir, especialmente, na intermodalidade.

“É preciso também olhar para o transporte aquaviário, ou hidroviário, por ser um modal mais barato e menos poluente. Defendemos o desenvolvimento das estradas, mas, também, defendemos a preservação do meio ambiente. E neste sentido, é essencial a discussão sobre matriz energética, que traz mais sustentabilidade para a logística”, complementou Vander.

No contexto do crescimento, Mariana Pescatori relacionou como o setor logístico impacta no incremento de evolução do mercado. “O crescimento do PIB nacional tem relação direta com o crescimento do setor de transporte e a logística tem grande impacto na geração de empregos. Isso mostra como o setor é fundamental e a importância de serem realizados investimentos públicos e privados”. 

A secretária-executiva também disse que a previsão para investimentos privados em portos para este ano é na casa dos R$ 10 bilhões, seguindo a tendência do que foi no ano passado. E mencionou que até 2026 há previsão de cinco hidrovias disponíveis para concessão, além da parceria com o governo do Uruguai na chamada Hidrovia do Sul. 

“Ainda haverá mais R$ 11 bilhões de investimentos públicos em aeroportos até 2026 e neste ano, cerca de R$ 500 milhões em aeroportos regionais, muitos deles não utilizados, atraindo as companhias aéreas, e que serão conexões entre diversas regiões do País”, enfatiza Mariana. 

Por fim, Hélio Roberto Silva de Sousa evidenciou a multimodalidade e a importância de investimentos, especialmente, públicos, no setor. “Segundo relatório da BTG Pactual, o Brasil é o celeiro do mundo, liderando a exportação mundial de sete alimentos e produzindo alimento para as necessidades de, aproximadamente, 900 milhões de pessoas, o que equivale a 11% da população global. E isso passa pelo escoamento e pela intermodalidade. Desta forma, investimentos públicos são essenciais. Além disso, é preciso que tenhamos portfólio jurídico, com normas e regras que trarão mais segurança nos investimentos externos”, finaliza.

Desafios e necessidades de Infraestrutura no Brasil

Os desafios de infraestrutura para o setor logístico foram tema de destaque do primeiro dia de Interlog Summit. Especialistas de diferentes modais debateram os avanços necessários para alavancar o setor e quais os gargalos existentes que precisam ser priorizados. Entre os assuntos mais explorados estão a necessidade de equilibrar a matriz de transportes nacional e o aumento de investimentos públicos e privados nos setores que compõem a cadeia logística de transportes. 

A diretora do Programa de Parcerias de Investimentos – PPI da Casa Civil do Governo Federal, Amanda Seabra, iniciou o painel destacando que 16 leilões de arrendamentos portuários estão previstos para 2024, entre eles a concessão do canal de Paranaguá, projeto que já está em fase de revisão, e do Porto de Itaguaí, que terá audiência pública marcada em breve. Diretora da ANTAQ, Flávia Takafashi, reforçou que essas concessões são feitas após uma ampla análise da atual gestão portuária, onde técnicos identificam quais as carências e necessidades de cada terminal. “Fazemos um estudo e identificamos as necessidades daquele local, e somente depois disso apresentamos essa demanda à iniciativa privada e viabilizamos as concessões. É muito importante embasar toda essa pesquisa em dados”, enfatiza. 

Os projetos de concessões também animam o setor ferroviário. De acordo com Davi Barreto, diretor-executivo da Agência Nacional de Transportes Ferroviários – ANTF, em 2023 as ferrovias brasileiras transportaram 530 milhões de cargas, o que, segundo ele, representa o dobro quando comparado ao período antes das privatizações. “Com esses números, nossas perspectivas para 2024 são muito boas. Acreditamos que os investimentos públicos e privados vão impulsionar os modais mais sustentáveis, como as ferrovias e hidrovias nacionais que são excelentes soluções verdes de transporte de cargas para longa distância”, destacou. 

“O Brasil tem características geográficas muito positivas, que facilita nossas opções de transportes. É preciso explorar e integrar isso ao máximo, pois somente assim iremos conseguir reduzir o custo Brasil. Intermodalidade é um investimento estratégico”, completou o diretor-presidente da ABPT, Jesualdo Conceição da Silva. 

Os painelistas debateram ainda a necessidade de exploração da Resolução Normativa nº07 da ANTAQ, que dispõe sobre o uso e ocupação de espaços portuários; de políticas de transição energética e de problemas ocasionados pela pandemia, como a alta dos fretes e os atrasos do embarque e desembarque de cargas. O painel foi moderado por Augusto Wagner, diretor-executivo do IBL – Instituto Brasil Logística. 

Logística da Fórmula 1

A Fórmula 1, principal campeonato automobilístico do mundo, é um case complexo de estratégia logística mundial. No 2º Interlog Summit, o diretor-executivo da Fórmula 1 São Paulo, Francisco Mattos, abordou as estratégias que envolvem o deslocamento dos carros e equipamentos, de pilotos e membros das equipes, e a organização nas cidades, em especial na cidade de São Paulo.

Mattos falou sobre a reinvenção da F1, a partir de 2017, com a aquisição da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) pela Liberty Media. A empresa conseguiu conectar a F1 com o público mais jovem, por meio de conteúdos populares, como a série da Netflix “Drive to Survive”, que já está na sexta temporada.

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Ele também abordou o sucesso comercial e a movimentação econômica nas cidades do mundo que recebem o campeonato. “Em São Paulo, a F1 foi responsável por movimentar R$ 1,64 bilhões. A grande maioria do público do campeonato são turistas que vêm para São Paulo e movimentam as redes de hotelaria, restaurantes, shoppings, etc. Em 2023, a etapa da F1 em São Paulo recebeu um público de 267 mil pessoas. Neste ano, a expectativa é receber 300 mil pessoas”, disse. 

A estratégia logística da F1 é realizada em fases que passam pelos modais marítimo, aéreo, terrestre, e ainda uma etapa in house, com a “construção” em Interlagos. “A logística do campeonato é multimodal e precisa estar 100% integrada”, destacou Mattos. 

O executivo explicou que a parte marítima da operação envolve 120 contêineres, 7 só de pneus, e 800 toneladas de equipamentos. Dois fatos curiosos foram  compartilhados por Mattos: no modal marítimo, 5 cargas rodam o mundo simultaneamente, com equipamentos repetidos. E todo o desembaraço das cargas acontece em um porto seco montado no autódromo de Interlagos em 3 dias, no máximo. 

“O modal aéreo é mais crítico, com a movimentação de 900 toneladas de equipamentos que são únicos, como os carros, em 8 cargueiros. A carga sai do México na quinta-feira à noite e chega no aeroporto de Viracopos apenas 4 dias antes do início do campeonato. Não há margem para erro, qualquer atraso coloca em risco o evento”, comenta o diretor-executivo da Fórmula 1 São Paulo. Ele detalhou que a operação é conduzida por 4 players em sinergia, o aeroporto, liberação aduaneira, gerenciamento de carga e carregamento para o transporte terrestre. “Tudo isso tem que levar menos de 1 dia. Em 2023, foi feito em 16 horas”.

Mattos ressalta que todo o glamour da Fórmula 1 requer um planejamento logístico com uma  equipe a postos ao longo de todo ano (full year); ao contrário do que se pensa, não é um evento de “apenas um fim de semana”. O gerenciamento logístico permeia todos os processos, que estão 100% integrados, com planos de contingência e gestão de crise, o que exige ainda da organização do GP Brasil de F1 um War Room (sala de gerenciamento de crise permanente). Do início ao fim das 24 corridas, como será a temporada de 2024 da Fórmula 1, todas as etapas da logística estão diretamente relacionadas com os principais fatores de sucesso, visibilidade, retorno financeiro e de mídia e credibilidade do evento: a eficiência para equacionar em alta performance permanente a relação tempo x espaço x custo.

O 2º INTERLOG SUMMIT será realizado durante os 3 dias da Intermodal South America 2024 e contará com 2 congressos simultâneos (XXVII CNL – CONFERÊNCIA NACIONAL DE LOGÍSTICA, realizada pela ABRALOG e CONGRESSO INTERMODAL SOUTH AMERICA), que somam 4 trilhas de conteúdo (painéis, palestras e cases) no turno da tarde, com início a partir das 13:30h.

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