O veículo leve sobre trilhos (VLT) é um pequeno trem movido à eletricidade e que é visto por muitos especialistas como uma grande inovação para a mobilidade urbana.

Algumas localidades brasileiras já podem usufruir desse tipo de transporte. A primeira linha de VLT de nosso país foi inaugurada em 2009, ligando os municípios de Crato e Juazeiro do Norte, no Ceará. Mais recentemente, em 2016, iniciou-se a primeira etapa do VLT Carioca, no Rio de Janeiro.

Em entrevista ao Intermodal Digital, José Manoel Ferreira Gonçalves, que é doutor em Engenharia de Produção e estuda o papel das políticas de transporte público, falou sobre os VLTs. Veja, a seguir!

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O que um veículo leve sobre trilhos?

O VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) é um meio de transporte urbano ferroviário, que opera sobre trilhos em uma via reservada dos meios de transporte rodoviários. Entretanto, ele é diferente de outros transportes públicos como o metrô, que é isolado do restante da cidade.

O VLT, em grande parte do seu trajeto, opera de forma integrada com o restante da cidade, ou seja, apesar de se mover por ferrovias, ele transita pela cidade em meio aos carros de forma semelhante a como os bondes funcionavam.

Normalmente ele possui preferência nos semáforos, e por isso consegue cobrir grandes distâncias em pouco tempo, mesmo sem alcançar uma velocidade muito elevada.

Além disso, o veículo também funciona com base e energia elétrica, contribuindo para a redução da emissão de gases do efeito estufa. 

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Quais as principais características do VLT?

O VLT funciona de forma parecida com os antigos bondinhos, com o diferencial de ser bem mais moderno, confortável, e transportar uma quantidade maior de pessoas. Além disso, os Veículos Leves sobre Trilhos possuem tecnologia de ponta para garantir a segurança e o bom controle de tráfego.

Por serem movidos a energia elétrica, os VLTs também são bem menos poluentes que outros meios de transporte, e também mais silenciosos, diminuindo a poluição sonora das grandes cidades. De forma geral podemos definir as principais características do Veículo Leve sobre Trilhos em:

  • Capacidade: O VLT tem capacidade de transportar entre 100 a 400 pessoas simultaneamente;
  • Velocidade: O veículo opera entre 18 km/h e 40 km/h;
  • Operação integrada: Os trilhos por onde o veículo passa são integradas à cidade, estando a vista das pessoa e da paisagem urbana, de forma semelhante aos bondinhos;
  • Silencioso: O VLT faz pouquíssimo barulho, reduzindo a poluição sonora das cidades;
  • Ecológico: Sendo movido a energia elétrica, o VLT contribui para a redução da emissão de gases do efeito estufa.

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Quais as diferenças do VLT para outros transportes públicos urbanos?

Apesar das suas caracterísitcas únicas, o Veículo Leve sobre Trilhos e constantemente confundido com outros meios de transporte ferroviários ou urbanos, como o BRT. Em outras ocasiões, não fica tão claro para a maior parte das pessoas, quais as diferenças entre o VLT e o metrô, por exemplo.

Por isso, decidimos falar um pouco sobre as principais diferenças entre o VLT e outros meios de transporte público, urbano. Quer descobrir? Então continue com a gente!

Diferenças entre VLT e Metrô

Enquanto o VLT se desloca, na maior parte do tempo, sobre a superfície, o metrô costuma fazer a maior parte do seu percurso no subsolo. Além disso, a velocidade média, e a quantidade de pessoas transportadas pelo metrô é bem superior ao do VLT, sendo mais recomendado para distâncias maiores.

Outras diferenças entre o VLT e o Metrô são:

Critério VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) Metrô
Capacidade De 10.000 a 15.000 passageiros por hora Cerca de 48.000 passageiros por hora
Distância Ideal Curta e média distância Longas distâncias
Infraestrutura Opera em superfície ou subsolo Opera principalmente no subsolo
Velocidade Velocidade menor, entre 18 e 40 km/h Maior velocidade, entre 35 e 80 km/h
Impacto Urbano Maior interação com o tráfego local e pedestres Menor interação com o tráfego de superfície
Flexibilidade Mais flexível em termos de trajetos e adaptações Menos flexível devido à complexa infraestrutura
Objetivo Melhor para interligar regiões centrais e médias Melhor para conectar grandes regiões urbanas

Diferenças entre VLT e BRT

O BRT (bus rapid transit), ou ônibus de trânsito rápido, é um meio de transporte que se baseia no uso de ônibus por vias segregadas para evitar trânsito. Ele apresenta um custo inicial mais baixo que o VLT, entretanto, costuma ser mais lento e mais poluente.

Outras diferenças são:

Critério VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) BRT (Bus Rapid Transit)
Modo de Transporte Trilhos Ônibus em vias segregadas
Velocidade e Ruído Mais silencioso e geralmente mais rápido Menos silencioso, velocidade moderada
Custo Inicial Maior custo inicial Custo inicial mais baixo
Flexibilidade Menos flexível devido à infraestrutura fixa Maior flexibilidade na rota
Capacidade Menor capacidade de passageiros por hora Maior capacidade em comparação com o VLT
Emissão de gases do efeito estufa Emite menos, pois é elétrico Emite mais, pois utiliza combustíveis fósseis

Diferenças entre VLT e Monotrilho

Os monotrilhos são veículos ferroviários que se deslocam por ferrovias de um único trilho, diferente do que ocorre normalmente. Em função disso, ele costuma operar em vias elevadas, tendo maior impacto sobre a infraestrutura e o visual urbano, diferentemente do VLT, que é mais integrado ao ambiente.

Essa demanda de infraestrutura também implica em custos mais elevados para a sua implementação. Veja outras diferenças do monotrilho para o VLT:

Critério VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) Monotrilho
Infraestrutura Opera em trilhos convencionais Se desloca por via elevada de trilho único
Integração Urbana Mais integrado ao cenário urbano Menor impacto no tráfego de rua
Impacto Visual Menor impacto visual Visualmente mais impactante
Custo Inicial Menor custo de implementação Custo inicial mais elevado devido à infraestrutura elevada
Capacidade De 10.000 a 15.000 passageiros por hora Cerca de 48.000 passageiros por hora
Flexibilidade Maior flexibilidade em rotas urbanas

Menor flexibilidade por operar em vias elevadas fixas

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Quais cidades brasileiras tem VLT?

O Veículo Leve sobre Trilhos traz muitos benefícios para a mobilidade urbana, sem falar da sua integração com a cidade e redução na emissão de gases do efeito estufa. Sendo uma alternativa ao uso de carros, ele ajuda na redução do trânsito, e se torna uma opção a mais de transporte público para a população local.

Isso contribui para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, que conseguem se deslocar pela cidade com maior conforto e agilidade.

Diante disso, nós separamos uma lista com as principais cidades e regiões metropolitanas brasileiras que possuem o VLT. São elas:

  • VLT da Baixada Santista: Liga Santos e São Vicente, com 11 km de extensão. O sistema elétrico está em expansão para incluir outras cidades, como Cubatão e Praia Grande;
  • VLT do Rio de Janeiro: Fundamental na revitalização da região central, o VLT opera no Centro e Porto, conectando várias redes de transporte. Com 32 trens Alstom Citadis, o sistema transporta 60 mil passageiros diários, abaixo do esperado;
  • VLT de João Pessoa: Com 30 km de extensão, conecta João Pessoa a Santa Rita, Bayeux e Cabedelo. Transporta 11,6 mil passageiros diários em trens a diesel;
  • VLT de Teresina: Apesar de ser chamado de metrô, é um VLT a diesel com 13,5 km de extensão. Operado desde 1989, liga regiões da cidade;
  • VLT de Maceió: Com 34,3 km de extensão, o VLT conecta Maceió, Satuba e Rio Largo. Transporta cerca de 11 mil passageiros por dia;
  • VLT de Natal: Conta com 56,2 km e duas linhas que interligam cidades como Ceará Mirim, Extremoz, Natal e Parnamirim, transportando 9,3 mil passageiros diariamente;
  • VLT de Recife: Possui duas linhas com 33,9 km, ligando Recife a Jaboatão dos Guararapes e Cabo;
  • VLT de Sobral: Tem 14 km de extensão e 12 estações, operado pela Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos;
  • VLT de Fortaleza: Com 10,8 km e 8 estações, o sistema está em expansão para atingir uma capacidade de 90 mil passageiros diários.

Conheça os veículos leves sobre trilhos (VLT)

Na visão de Gonçalves, o veículo leve sobre trilhos é uma solução que pode ser muito adequada, dependendo do volume de passageiros que utilizam o transporte diariamente na região.

“O VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) é um pequeno trem que é movido por eletricidade. Isso é um aspecto muito relevante, quero dizer que, não há uma única solução para todos os problemas de demanda de passageiros em qualquer circunstância. Tudo em última análise é uma questão de custo, benefício e resultado. O interesse público tem que prevalecer sempre”, comenta o especialista.

Gonçalves também comenta que os VLTs são muito parecidos com os antigos bondes que existem em São Paulo e outras cidades brasileiras algumas décadas atrás. Porém, são muito mais rápidos e fazem menos paradas durante os trajetos.

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VLT e sustentabilidade: benefícios para o meio ambiente

Para Gonçalves, o VLT é um meio de transporte sustentável, mas que precisa ser uma resposta efetiva à dimensão atual e futura do volume de passageiros a ser transportado. 

“Um VLT mal planejado e mal dimensionado, pode acarretar problemas que resultem não em sustentabilidade, mas no oposto disso”, alerta o engenheiro.

O especialista também explica que o veículo leve sobre trilhos é interessante porque se incorpora ao ambiente urbano, trafegando na altura das vias ou sobre trilhos elevados. Ou seja, o VLT é uma obra de interferência urbana com impacto visual porque não fica “escondido” no subsolo.

Os veículos leves sobre trilhos também são benéficos para reduzir os índices de poluição no meio ambiente. 

Nas palavras de Gonçalves: “Ressalto, ainda na questão ambiental, que o VLT movido a eletricidade ou biodiesel, não emite diretamente gases de efeito estufa nem particulados para a atmosfera resultando numa melhor qualidade do ar das cidades. Além disso, são muito mais silenciosos, diminuindo o nível de ruído que já é exagerado especialmente nas grandes cidades e metrópoles no mundo todo”.

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Benefícios do veículo leve sobre trilhos para as cidades brasileiras

Além dos benefícios econômicos e da preservação ao meio ambiente, Gonçalves acredita que os VLTs podem contribuir diretamente para a qualidade de vida das pessoas, gerando um impacto social.

O doutor em Engenharia de Produção opina: “A presença do VLT pode reforçar benefícios intangíveis e imateriais, ligados à autoestima e à sensação de conforto e respeito às populações, em especial as que mais necessitam do transporte público de qualidade, no caso, sobre trilhos”.

Na sua cidade ou estado já existe algum projeto de veículo leve sobre trilhos? Esse e outros modelos de transporte ferroviário são considerados pelos especialistas como o futuro da mobilidade pública.

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