No dia 1º de fevereiro de 2025, ordens executivas assinadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impuseram tarifas contra México, Canadá e China. Tarifas adicionais direcionadas à União Europeia também estão em andamento. Essas ações demonstram uma mudança no comércio global, caracterizada por crescente incerteza e complexidade. Isso, somado ao rápido crescimento do e-commerce e a regulamentações mais rígidas, deu início a uma nova era tumultuada — o Trade 3.0. No entanto, a questão permanece: como a indústria pode manter sua resiliência diante de interrupções cada vez mais frequentes?
Para explorar essa questão, examinaremos as tendências emergentes na adoção do Serviço de Embarque Eletrônico (eBL), com destaque para a China, que lidera o setor com algumas das maiores taxas de adoção globalmente. Além disso, introduzimos um novo conceito para a era do Trade 3.0: o eBL como um container de dados.
Este artigo é o primeiro de uma série de três partes inspiradas no relatório recente da GSBN, “Como a Adoção do eBL Está Transformando o Comércio Global: Lições e Perspectivas da China”, que pode ser baixado gratuitamente aqui: https://www.gsbn.trade/publications.
A busca atual por resiliência
Ao longo da história, o comércio global evoluiu com inovações como dinheiro, conhecimentos de embarque e cartas de crédito. O Trade 1.0 era limitado pelos desafios de manuseio de mercadorias nos portos, o que levou à era do Trade 2.0 com a introdução dos contêineres. A containerização revolucionou o transporte intermodal, reduzindo os custos logísticos em mais de 95% e impulsionando o crescimento da economia global.
No entanto, nos últimos cinco anos, o comércio global entrou na era do Trade 3.0. Profissionais da cadeia de suprimentos têm enfrentado uma crise após a outra — desde a crise no Mar Vermelho até greves de estivadores e, agora, novas tarifas. Cada evento tem sido um novo catalisador para a reformulação das cadeias de suprimentos globais.
A resiliência tornou-se a prioridade central. Estratégias tradicionais para otimizar fisicamente o movimento de mercadorias já não são suficientes, levando os profissionais da cadeia de suprimentos a buscar soluções na otimização da troca de dados e da coordenação entre as partes envolvidas. Um fator essencial para a construção dessa resiliência é a adoção do eBL.
O crescimento da adoção do eBL na China
O crescimento da adoção do eBL tem sido significativo nos últimos anos, considerando que, inicialmente, o ritmo era lento — a primeira fornecedora de soluções eBL surgiu em 1998. Em 2022, a taxa média global de adoção era de apenas 2,1%, segundo a Câmara de Comércio Internacional (ICC). Esse número dobrou para 5% em 2024, de acordo com os dados mais recentes da Digital Container Shipping Association (DCSA). Ainda assim, esses índices estão longe das taxas de adoção na China, onde algumas transportadoras já relatam taxas superiores a 21%.
Esse crescimento pode ser atribuído às políticas favoráveis ao eBL no país. Algumas iniciativas-chave incluem um memorando do Conselho de Estado, em setembro de 2024, promovendo a digitalização do transporte marítimo e o uso do eBL; uma proposta de novembro de 2024 para modificar o código marítimo chinês e legalizar registros eletrônicos de transporte; e a adoção da Lei Modelo sobre Registros Eletrônicos Transferíveis (MLETR) em Xangai, na Área de Pudong, em dezembro de 2024. Compreender a jornada da China no uso do eBL pode oferecer insights valiosos para uma adoção mais ampla no mundo.
eBL como um container de dados
Para aprofundar essa questão, a GSBN realizou recentemente um fórum em Xangai com mais de 120 líderes do setor de transporte marítimo e comércio, incluindo as cinco principais transportadoras do mundo. As tendências mais recentes de adoção do eBL apresentadas pelos participantes foram encorajadoras. O consenso foi que, em meio a essa era de mudanças sem precedentes, é essencial identificar novos casos de uso impulsionados pelo eBL que possam ajudar a enfrentar desafios atuais e criar maior resiliência.
Se o foco fosse apenas digitalizar documentos, a indústria como um todo perderia uma grande oportunidade. Como cada remessa está associada a um conhecimento de embarque, o eBL pode atuar como um “container de dados” para digitalizar todo o processo comercial.
Esse conceito destaca a capacidade do eBL de vincular digitalmente processos, documentos e partes interessadas relacionadas a remessas individuais ao longo da cadeia de suprimentos. Isso permite controle de direitos gerenciado, colaboração confiável entre cadeias de suprimentos globais e fluxos de trabalho digitais reformulados.
Para que um eBL funcione como um container de dados, ele precisa possuir três propriedades fundamentais:
- Fonte única de verdade – Ele deve atuar como uma única fonte digital de informações, conectando todos os dados e processos relevantes ao longo da jornada de uma remessa.
- Controle de acesso a dados – As informações devem ser registradas uma única vez por uma fonte confiável e compartilhadas com segurança, com permissões claras.
- Linha do tempo imutável – O eBL deve fornecer uma linha do tempo precisa e imutável do ciclo de vida da remessa, integrando as cadeias de suprimentos física, financeira e regulatória, permitindo que os fluxos de pagamento estejam diretamente alinhados às transferências de direitos de carga.
Novos casos de uso em desenvolvimento
É claro que, por si só, o papel do eBL como um container de dados tem pouco valor. Seu verdadeiro potencial surge quando clientes e todo o ecossistema o adotam e inovam sobre ele. A boa notícia é que esse potencial já está começando a ser concretizado por meio de novos casos de uso inovadores.
Durante o fórum, vários exemplos promissores foram apresentados. Desde a otimização do transporte multimodal de carga até a conexão de processos fragmentados de cadeia de suprimentos e pagamento, esses casos demonstram como o eBL pode impulsionar eficiência, sustentabilidade e integração perfeita.
Para explorar essas aplicações inovadoras em maior profundidade e descobrir insights dos principais adotantes que estão construindo resiliência ao utilizar o eBL como container de dados, não deixe de conferir nosso relatório.
* Artigo original do Seatrade Maritime News.
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