O transporte de produtos siderúrgicos no Brasil enfrenta uma série de desafios que dificultam a competitividade do setor.
A matriz logística brasileira ainda está longe de atingir um equilíbrio entre os diferentes modais de transporte.
O resultado são altos custos e gargalos que afetam a eficiência operacional das empresas.
Em meio a esse cenário, ouvimos especialistas que destacam a importância de uma reestruturação e de novos investimentos em infraestrutura para o setor. Saiba mais!
O predomínio do transporte rodoviário
Atualmente, o transporte de produtos siderúrgicos no Brasil se concentra majoritariamente no modal rodoviário, que responde por cerca de 73% dos volumes transportados.
Embora o transporte por rodovias seja uma alternativa viável para distâncias curtas, ele apresenta limitações de custo e impacto ambiental que se agravam em percursos mais longos.
Carolina Tascon, diretora comercial da VLI, explica que o uso excessivo das rodovias para o transporte de cargas pesadas, como os produtos siderúrgicos, tem impactos negativos na competitividade da indústria.
“A matriz multimodal da siderurgia está muito desequilibrada. Ela se alavanca hoje no modal rodoviário, que tem benefícios, mas tem muitos desafios”, diz a especialista.
“Então, a grande oportunidade que existe atualmente é equilibrar essa matriz multimodal por meio de desenvolvimento e investimento na capacidade ferroviária e outros modais de longa escala, que consigam trazer mais eficiência e mais competitividade ao setor”, complementa Tascon.
Segundo ela, as rodovias são ideais para percursos de até 300 quilômetros, enquanto distâncias de até 1.500 quilômetros poderiam ser mais bem atendidas por ferrovias. Acima disso, o meio hidroviário seria o mais adequado.
Dificuldades econômicas e estruturais nas ferrovias
Embora o transporte ferroviário ofereça uma alternativa mais eficiente para grandes distâncias, a sua utilização é limitada por diversos fatores econômicos e estruturais.
Danielle Bernardes, gerente executiva da Confederação Nacional do Transporte (CNT), aponta que as ferrovias brasileiras ainda apresentam problemas de integração, o que gera custos adicionais para as empresas.
“Para fazer o transporte de longa distância por via ferroviária, temos grandes desafios. As bitolas não são integradas, os transbordos ainda precisam ser feitos, a integração da rodovia com a ferrovia ainda merece atenção na infraestrutura”, comenta a executiva.
Ainda nas palavras de Bernardes: “Tudo isso dificulta e deixa o valor mais alto, por isso as empresas acabam indo para o modal rodoviário em razão do preço”.
Ela ressalta que o desenvolvimento de uma política de Estado para o setor ferroviário, com foco no longo prazo, é essencial para superar esses desafios.
A falta de uma política de longo prazo voltada ao desenvolvimento da infraestrutura logística no Brasil é um dos principais entraves para o crescimento do setor siderúrgico.
Investimentos em ferrovias e hidrovias exigem planejamento e execução de obras complexas, que demandam prazos e recursos significativos.
“Uma ferrovia não é construída em quatro anos, demora mais de 10 anos para ficar pronta, então precisamos ter uma política de Estado que foque nisso, e que vá além de um governo de quatro anos, e isso é sempre um desafio”, diz Bernardes.
Segurança jurídica, investimentos e ambiente de negócios
Para que a infraestrutura logística do país possa evoluir, é necessário um ambiente de negócios que incentive o investimento privado. Isso é o que acredita Fernando Machado Diniz, diretor de comunicação e relações institucionais do MoveInfra.
Ele diz ainda que a segurança jurídica é um dos fatores-chave para atrair capital privado para o setor.
De acordo com Diniz: “As seis empresas participantes anunciaram no lançamento do MoveInfra, em 2022, que em cinco anos investiriam R$ 80 bilhões em infraestrutura no Brasil, mas que poderiam fazer mais, caso o país melhorasse em alguns aspectos”.
Os aspectos apontados por Diniz são: “Segurança jurídica, com leis e normas claras, condições de financiamento adequadas para o investimento em infraestrutura e compromisso socioambiental, pois todas elas são listadas no Novo Mercado da B3”.
Ele também destaca a importância de atender às demandas dos acionistas, que exigem cada vez mais a adoção de práticas de descarbonização e adaptação das infraestruturas para as mudanças climáticas.
Oportunidades para um futuro mais competitivo na siderurgia
Os especialistas concordam que o desenvolvimento de uma matriz logística mais equilibrada é fundamental para aumentar a competitividade do setor siderúrgico brasileiro.
Carolina Tascon, por exemplo, reforça a ideia de que a logística é um fator decisivo na competitividade da área: “Transporte faz parte da cadeia de valor dos produtos de siderurgia e de minerais, temos que ter um cuidado especial para garantir que esse componente da cadeia de valor seja competitivo”.
Ela complementa dizendo que: “A logística faz diferença ou para dar competitividade ao produto ou para destruí-la. Dependendo do produto, ela é mais cara que o produto em si”.
Acredita-se, assim, que a modernização e a diversificação dos modais de transporte permitirão que a siderurgia brasileira se posicione de forma mais competitiva no cenário internacional. Isso contribuirá para o crescimento sustentável do setor e a redução de custos.
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