A indústria marítima, muitas vezes, carrega o estigma de ser conservadora e ter tradições demasiadamente arraigadas. Porém, a integração com a aviação está revolucionando o setor e acelerando os processos de digitalização.

Julian Panter, CEO da SmartSea, trouxe à tona essa discussão no podcast Seatrade Maritime News. Na entrevista, ele explorou as semelhanças, desafios e os potenciais transformadores de adotar práticas tecnológicas da aviação no transporte marítimo

Ele destacou que, apesar de serem setores com características distintas, há um aprendizado crucial a ser absorvido da trajetória da aviação

Isso pode ser visto, especialmente, no que diz respeito à padronização e comunicação digital entre portos e navios. Continue lendo e saiba mais!

Comparações entre o transporte marítimo e a aviação

Panter iniciou a conversa destacando como o setor de transporte marítimo se destaca por sua longa tradição e estrutura histórica. 

“O setor de transporte marítimo é uma das indústrias mais antigas do mundo”, afirmou. 

Ele salientou que a aviação adotou um modelo de padronização e comunicação digital desde o início. 

O setor marítimo, no entanto, ainda está em uma fase preliminar de implementação dessas práticas. 

Segundo Panter, “é mais fácil começar com uma folha em branco,” como foi o caso da aviação, do que tentar adaptar um setor tão consolidado.

Na aviação, a unificação digital permitiu a criação de uma infraestrutura que conecta diferentes etapas e garante eficiência, desde o check-in até a entrega de bagagens.

Por outro lado, no transporte marítimo ainda há dificuldades em implementar uma comunicação digital contínua entre os navios e os portos, o que acaba gerando atrasos e baixa previsibilidade. 

Comparando os dois setores, Panter observa: “Imagine um avião voando no céu por 24 horas, esperando para conseguir uma vaga no portão. É quase inacreditável pensar que vivemos em uma era digital e ainda, em uma indústria como a marítima, estamos tão atrás.”

As soluções tecnológicas imediatas para envio

De acordo com Panter, um dos passos iniciais para melhorar o setor marítimo seria desenvolver uma espinha dorsal digital unificada que permitisse o diálogo entre navios e portos, e que promovesse uma linguagem digital comum. 

Ele sugere que a experiência da aviação, consolidada pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) ao longo de 75 anos, poderia servir como guia para a indústria marítima. 

“A IATA começou em 1949 com 11 companhias aéreas se unindo para resolver problemas de comunicação e unificação. Se pudermos trazer essa experiência para o setor marítimo, podemos iniciar um movimento em direção a uma plataforma digital comum,” disse Panter.

A integração de sistemas digitais poderia levar a práticas de just-in-time na atracação de navios, por exemplo, garantindo que as embarcações chegassem ao porto apenas quando houvesse uma vaga disponível, minimizando atrasos e otimizando o uso dos recursos portuários. 

Para ele, embora a transição para essa estrutura digital não seja uma solução imediata, a implementação de uma linguagem comum é um passo fundamental.

Ainda nas palavras de Panter: “O que sai dessa espinha dorsal digital é uma linguagem digital unificada, o que basicamente significa que todos nós podemos trabalhar juntos”.

Os principais desafios na digitalização da indústria marítima

Apesar das vantagens aparentes de adotar uma espinha digital unificada, Panter acredita que o maior desafio será convencer as partes interessadas a se unirem em torno de uma plataforma comum. 

Ele pensa que a resistência ao compartilhamento de dados e à colaboração é um obstáculo notável em uma indústria marcada por uma estrutura fragmentada.

Panter explica: “Muitas organizações estão muito preocupadas com dados e compartilhamento de dados”.

Além disso: “Existem muitas empresas que começaram a investir dinheiro em suas próprias tecnologias proprietárias”.

O especialista também alega que há uma questão cultural a ser enfrentada, já que o setor marítimo é dominado por empresas tradicionais e familiares.

“É uma indústria muito tradicional, com muitas gerações de empresas familiares e de cultura e história. E isso também pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição,” diz ele, refletindo sobre como a resistência à mudança dificulta a transição para o digital.

Unificando a linguagem digital na indústria marítima

Para que o setor marítimo consiga alcançar a padronização necessária, Panter sugere que é essencial criar uma linguagem digital comum, onde navios e portos possam comunicar-se digitalmente de forma eficaz. 

Ele enxerga a possibilidade de cooperação entre empresas e reguladores como um caminho viável, exemplificado pela abertura da IATA em compartilhar seu conhecimento e soluções com o setor marítimo. 

Segundo ele, “A IATA está disposta a abrir esse baú de tesouros de experiências, produtos, softwares e soluções”.

Tal colaboração poderia gerar um impacto significativo, promovendo uma infraestrutura portuária que padronize processos e sistemas no setor marítimo. 

Panter ainda argumenta que, assim como na aviação, é necessário que o setor marítimo adote a padronização como um princípio essencial.

Somente assim poderia ser implementado um fluxo de informações em tempo real que otimize a operação logística e a integração dos portos ao redor do mundo.

O futuro do transporte marítimo com a tecnologia da aviação

Em sua participação no podcast, Panter declarou que a entrada de tecnologias da aviação no setor marítimo pode representar um divisor de águas, promovendo avanços que impactem diretamente o fluxo global de mercadorias. 

Ele conclui dizendo que: “Ainda temos essa jornada pela frente no setor marítimo e o sucesso desta transição dependerá da disposição das empresas e dos reguladores em aprender com a experiência da aviação”. 
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