Um levantamento realizado pela consultoria Accenture mostrou que apenas 7% das companhias que atuam no segmento de supply chain estão em vias de atingir as metas de net zero em suas emissões de gás carbônico (CO2).

Os números evidenciam e deixam em alerta a grande maioria do segmento, já que, de acordo com o estudo, 93% das empresas que atuam no meio ainda não estão conseguindo chegar aos resultados esperados para reduzir sua pegada de carbono.

No entanto, existem formas de acelerar essa busca por maior sustentabilidade nos transportes e abastecimentos de mercadorias e insumos, e elas passam diretamente pelo uso de fontes de energias renováveis e ecologicamente corretas.

Para entendermos como o supply chain pode superar esses desafios e aproveitar as oportunidades no onshoring, assim como desenvolver seu potencial externo, conversamos com Elbia Gannoum, presidente executiva da ABEEólica – Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias.

Veja a entrevista completa abaixo!

Como a energia eólica e solar podem ajudar a alcançar as emissões globais líquidas zero até 2050?

Elbia Gannoum: “Para atingir as metas do clima temos que fazer o que chamamos de transição energética. Diminuir o uso de energia fóssil e aumentar significativamente o uso de energia renovável. 

Nesse sentido, as energias renováveis eólica e solar são muito competitivas e, no caso do Brasil, abundantes. 

Na verdade, é muito difícil imaginar atingir as metas globais de emissões sem energia eólica e solar. Elas são imprescindíveis.”

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Quais são os principais desafios enfrentados pelos desenvolvedores de energias renováveis na cadeia de suprimentos?

Elbia Gannoum: “Numa perspectiva de curtíssimo/curto prazo, a indústria está vivendo uma crise de demanda porque nós temos uma capacidade muito grande de fazer investimento, mas não está havendo demanda de mercado. 

Um fator que explica isso é o PLD baixo e os consumidores tendem a não assinar contratos em momentos como este. 

Porém, numa perspectiva de médio/longo prazo, a partir do ano que vem, a gente já percebe uma possibilidade de melhora do PLD porque o ‘El Nino’ provoca escassez de água e, portanto, modifica o PLD. 

Também se dará pelo aumento da demanda com a retomada econômica e uma melhora nas condições macroeconômicas de taxa de juros de longo prazo. 

A elevação do rating soberano do Brasil de BB- para BB, anunciada recentemente, também melhora os investimentos.”

Por que a disponibilidade limitada de embarcações de turbina em grande escala pode ser um problema para a instalação de turbinas eólicas em alto mar?

Elbia Gannoum: “A infraestrutura de um parque eólico é muito robusta. Quando pensamos em um parque no mar, é ainda mais robusto, e os aerogeradores costumam ser maiores. 

A disponibilidade de embarcações de turbina em grande escala são poucas, mas é da natureza do negócio. 

Essas embarcações são muito caras e o número delas não deveria mesmo ser muito grande, para ser um negócio viável. 

O que é necessário, diante da questão, é um planejamento muito bem feito para se preparar para cada etapa na construção do parque.”

Quais são as soluções propostas para construir cadeias de suprimentos mais resilientes e atender às metas de expansão ambiciosas?

Elbia Gannoum: “Como mencionei, estamos numa crise de demanda no momento, que deve terminar até o fim do ano. Isso impacta na cadeia de suprimento, assim como a pandemia e a guerra entre a Rússia e Ucrânia que impactaram diretamente. 

Esses movimentos geopolíticos também são relevantes. Mas no médio e longo prazo o cenário é positivo. 

O que tem que ocorrer é a criação de uma política de industrialização verde que vai fomentar o crescimento do país, geração de emprego e renda e um ciclo virtuoso como um todo. E a resposta chave para tudo isso é o hidrogênio verde

O hidrogênio vai mudar toda a estrutura de demanda agregada do Brasil e o equilíbrio de demanda de energia no país vai se fazer num novo patamar a partir de 2026/2027. 

Segundo estudos da Mckinsey, se a política pública para o hidrogênio for feita, o Brasil terá mais um Brasil em capacidade instalada até lá.”

Para continuar se informando, leia também nosso conteúdo sobre o transporte marítimo na transição energética brasileira!