A Nova Rota da Seda (One Belt One Road), um ambicioso projeto de infraestrutura e comércio lançado pela China em 2013, visa conectar a Ásia, a Europa, a África e além, por meio de uma rede de rotas terrestres e marítimas.

Com o objetivo de revitalizar as antigas rotas comerciais que uniam esses continentes, a iniciativa busca não apenas fortalecer a posição econômica da China no cenário global, mas também impulsionar o comércio internacional e promover o desenvolvimento de infraestruturas em diferentes regiões.

A Nova Rota da Seda tem se expandido rapidamente, envolvendo dezenas de países e empresas ao redor do mundo, além de afetar diretamente os fluxos comerciais globais e as relações internacionais.

Para entender melhor esses impactos e as perspectivas para o comex, conversamos com Thiago Codogno, gerente comercial da China Link, que compartilhou sua visão sobre os efeitos dessa nova era nas operações comerciais mundiais. Boa leitura!

Importância geopolítica e econômica da Nova Rota da Seda para a China e países parceiros

Na opinião de Thiago Codogno, a Nova Rota da Seda é um movimento essencial para a China no aspecto de controle global.

“Também é importante no escoamento da produção e de recursos tanto para a China poder vender melhor e mais barato quanto para poder comprar os recursos que precisa melhor e mais barato, com acordos que sejam vantajosos, principalmente a ela”, explica.

Ele acrescenta que o principal fator dessa importância está no fato de “ter países que não necessariamente são tão avançados e que precisam de um investimento externo para poderem se desenvolver internamente”.

Neste caso, então, o desenvolvimento é oferecido a estes países. “É você conseguir ofertar um investimento em infraestrutura em troca daquilo que você quer, que vai facilitar o escoamento da sua produção e aquilo que você precisa”, detalha.

Principais marcos e investimentos já realizados desde o lançamento da iniciativa

A respeito dos marcos e investimentos realizados, Codogno cita a aquisição e o emprego de recursos em portos como principais.

“Para a China também é muito mais interessante ter o controle marítimo de vários mares, lagos e estreitos que são importantes para as suas mercadorias, tanto para adquirir quanto para poder vender”, ressalta.

Como exemplo, o entrevistado fala sobre o Porto de Pireu, na Europa. A China, por meio da empresa Rosco, “adquiriu mais de 60% desse porto, aproveitando as dívidas que a Grécia tinha”.

“Além de, basicamente, comprar a maioria dos portos africanos, ou até mesmo fazer um grande porto, como foi o caso do Djibouti”, lembra. 

O Djibouti, que está localizado perto da Eritreia, próximo da Etiópia, no nordeste da África, foi feito pela China. 

“O país investiu ali e fez o maior porto da África. Além de outros que foram investidos, como em Uganda e na própria Etiópia. Então a gente tem uma influência muito grande no investimento da China em portos”, complementa.

O convidado aproveita para trazer um recorte mais aprofundado sobre a Etiópia. 

“A cidade de Addis Ababa foi praticamente construída pela China, a sua infraestrutura, as suas avenidas. Esses investimentos são um marco”, recorda.

“Aqui no Brasil, a gente pode citar principalmente o Porto de Paranaguá. Ele foi 90% vendido para a empresa chinesa, tanto os armazéns, quanto a estrutura, maquinários e escoamento”, relembra. 

Nova Rota da Seda: influência nas rotas comerciais tradicionais

Até os dias atuais, as rotas são delimitadas e têm influência e controle direto dos Estados Unidos e da Europa, como é o caso do Canal de Suez, no Egito.

A Nova Rota da Seda surge como uma opção para transporte, “de uma forma ininterrupta e de uma maneira como se fosse uma linha reta, que se coopera, é congruente”. 

“A ideia da China, ao fazer esse novo tipo de rota, é justamente não ter mais essa dependência, para em caso de sanções, de guerras, de não ter o controle da sua delimitação geopolítica ameaçado, ela conseguir reduzir o seu risco”, explica.

E isso, segundo Codogno, auxilia os países que não têm investimento, que são postergados, delimitados, países que “ninguém liga”. “Esses países tendem a ter voz agora”.

Alteração nas relações comerciais entre a China e outros países

Se tratando de América Latina e Brasil, Codogno acredita que a maior alteração e mudança para esses países vêm do fato dos americanos deixarem de investir aqui.

“Eles começaram a olhar muito mais para a América Central e deixaram um pouco de lado o continente sul-americano. A China aproveitou esse vácuo de poder”, analisa. 

Na opinião do entrevistado, onde há vácuo de influência, há uma lacuna de poder e existe uma nova força que pode ser perpetuada.

“A China aproveitou isso para fazer cada vez mais investimentos aqui e nos países sul-americanos, e ela tem aumentado o seu controle, a sua estratégia de soft power, onde ela influencia esses países e aqui no Brasil”. 

“Para o Brasil isso é muito contagioso por um lado, porém, por outro, é aquela velha frase, você vende a sua ‘alma’. Nós estamos vendendo territórios, muitas áreas que são industriais, que são até do agronegócio”, constata o especialista.

“Você vende uma parte do seu país para ter investimento externo. E aí a pergunta é: Será que os brasileiros vão se beneficiar? Ou vão ser empregados? Ou será, ainda, que vão vir chineses para cá para dominar os empregos que seriam dos brasileiros?”, questiona Codogno.

Evolução da Nova Rota da Seda nos próximos 5 a 10 anos

Para o gerente comercial da China Link, a evolução do movimento da Nova Rota da Seda nos próximos 5 a 10 anos vai depender sobretudo da economia chinesa.

“Não tem como a China investir tanto no exterior e avançar tanto nessa pauta se ela não continuar crescendo como deveria crescer”, frisa ele.

“Estamos falando de um país que tem mais de um bilhão de pessoas, extremamente populoso, que tem uma economia de mercado já desenvolvida, porém emergente, no aspecto do poder aquisitivo da sua população, da sua população média”.

Contudo, é imperativo que a China demonstre um crescimento maior do que o atual se o intuito é expandir territórios.

“A China precisa crescer mais de 6% ao ano. Se ela não crescer mais do que isso, não tem subsídio para continuar implementando esses investimentos e avanços”, finaliza o convidado.
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