Artefatos hoje considerados simples, como a bússola e o astrolábio, causaram grandes revoluções na maneira como os humanos navegam e exploram o mar. Ao longo dos séculos o transporte marítimo seguiu se reinventando, e hoje há diversas tecnologias que ajudam o setor a avançar cada vez mais.
Para entendermos mais sobre o cenário da inovação no transporte marítimo e nos portos brasileiros, entrevistamos Eduardo Valença, diretor de transformação digital da Wilson Sons em fevereiro de 2023. Muitos de seus insights seguem relevantes.
Confira abaixo as visões do especialista sobre o assunto!
Quais são os principais desafios operacionais do transporte marítimo?
O setor de transporte marítimo enfrenta desafios estruturais que impactam sua eficiência, inovação e sustentabilidade. Entre os principais obstáculos, destacam-se:
Falta de integração entre os stakeholders
A desarticulação entre terminais, empresas de logística, armadores e autoridades portuárias gera ineficiências operacionais.
A ausência de plataformas integradas para compartilhamento de dados e a falta de colaboração dificultam a otimização das operações.
Planejamento estratégico limitado
A ausência de estratégias de longo prazo impede investimentos estruturais em infraestrutura portuária e inovações tecnológicas. Sem um direcionamento claro, os portos enfrentam gargalos operacionais e dificuldades para se adaptar a novas demandas do mercado.
Baixo incentivo à inovação
A predominância de processos tradicionais de contratação e a resistência à mudança dificultam a adoção de novas tecnologias.
Muitas empresas do setor ainda optam por soluções conservadoras, evitando investimentos em automação, digitalização e sustentabilidade.
Burocracia e regulamentação complexa
O transporte marítimo no Brasil e em diversas partes do mundo enfrenta um cenário regulatório complexo, o que pode atrasar processos logísticos e aumentar os custos operacionais.
A modernização das normas e a desburocratização são essenciais para tornar o setor mais competitivo.
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Como fomentar a competitividade dos portos brasileiros por meio da inovação?
A história da Wilson Sons é baseada na resiliência de trilhar caminhos de transformação em diferentes situações:
“Em quase 190 anos de trajetória, passamos por muitos ciclos políticos e econômicos e temos uma história marcada pela busca permanente por inovação e novas tecnologias” destaca Eduardo Valença.
Dentro do contexto explicado na pergunta anterior, e com intuito de estimular e transformar a realidade do setor, a Wilson Sons passou a enxergar a tecnologia e as startups como uma aliada para o desenvolvimento da infraestrutura marítima e portuária, seja através da melhoria das operações, garantindo uma maior segurança, seja por meio da busca por mais eficiência e produtividade em nossa indústria.
“Acreditamos que vivemos um momento inédito do setor marítimo e portuário, em que a adoção de novas tecnologias permitirá tornar as operações nos portos e o transporte aquaviário de carga cada vez mais eficientes, seguros e sustentáveis.
Precisamos aproveitar essa oportunidade e traduzir esse momento em ganhos de eficiência e uma atuação mais sustentável.”
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Qual é o papel da tecnologia na sustentabilidade dos portos brasileiros?
O avanço tecnológico tem um impacto direto na sustentabilidade dos portos brasileiros e na eficiência da logística de transporte marítimo.
A modernização das operações não apenas melhora a produtividade, mas também reduz impactos ambientais.
Entre as principais inovações que contribuem para essa transformação, destacam-se:
Automação e digitalização
O uso de sistemas automatizados e plataformas digitais otimiza processos logísticos, tornando a gestão portuária mais eficiente e sustentável.
A digitalização ajuda a reduzir desperdícios, melhora a segurança operacional e minimiza o consumo de recursos.
Monitoramento ambiental em tempo real
Sensores baseados em Internet das Coisas (IoT) auxiliam no controle da qualidade do ar e da água, permitindo detectar vazamentos e emissões poluentes com mais rapidez.
Essa tecnologia fortalece a governança ambiental e ajuda no cumprimento das regulamentações ambientais.
Otimização de rotas e logística
Softwares como TMS (Transportation Management System) e inteligência artificial auxiliam no planejamento das operações de cargas marítimas, reduzindo o tempo de espera dos navios cargueiros nos portos e diminuindo o consumo de combustível.
Há um impacto direto na redução das emissões de CO₂ e na sustentabilidade das operações.
A inovação também permite a adoção de soluções como a ferramenta de calado dinâmico da Argonáutica.
De acordo com Eduardo Valença, “se for possível colocar mais carga a bordo de um navio por conta da utilização de variáveis meteoceanográficas hiperlocais como maré, nós consequentemente estaremos diminuindo a emissão de CO₂ por tonelada transportada dos navios”.
A otimização das rotas marítimas e da logística portuária são fundamentais para tornar o setor mais competitivo no cenário global, promovendo um transporte internacional mais eficiente e com menor impacto ambiental.
Quais são as principais tendências tecnológicas no transporte marítimo?
Navios autônomos
Os navios autônomos representam uma das maiores inovações no transporte marítimo internacional, com embarcações equipadas com inteligência artificial (IA), Internet das Coisas (IoT) e Big Data para otimizar a navegação e a segurança.
Sensores avançados coletam dados em tempo real sobre rotas marítimas, condições climáticas e tráfego portuário, permitindo ajustes automáticos para reduzir atrasos e evitar riscos.
A conectividade via blockchain garante maior transparência na logística portuária, facilitando o rastreamento de cargas marítimas e a comunicação entre stakeholders.
Além disso, navios cargueiros autônomos utilizam algoritmos para otimizar o consumo de combustível, tornando o transporte marítimo no Brasil e no mundo mais sustentável.
A automação impacta diretamente a redução de custos operacionais, pois elimina a necessidade de grandes tripulações a bordo, diminuindo gastos com salários, alimentação e infraestrutura.
Empresas do setor já testam embarcações controladas remotamente ou totalmente autônomas, ampliando a segurança e reduzindo falhas humanas.
Combustíveis sustentáveis
A busca por soluções mais limpas no transporte marítimo no Brasil e no mundo tem impulsionado o uso de biocombustíveis, gás natural liquefeito (GNL) e hidrogênio.
A Organização Marítima Internacional (IMO) estabeleceu metas ambiciosas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) no setor, visando uma redução de 40% até 2030 e 70% até 2050 em relação aos níveis de 2008.
Para atingir esses objetivos, diversas tecnologias vêm sendo testadas, como o uso de biocombustíveis sustentáveis, produzidos a partir de óleos vegetais e resíduos orgânicos, que podem substituir parcial ou totalmente os combustíveis fósseis utilizados pelos navios cargueiros.
O Gás Natural Liquefeito (GNL) é outra alternativa promissora, podendo reduzir as emissões de dióxido de carbono em até 25% e óxidos de nitrogênio em até 90% quando comparado ao óleo combustível pesado (HFO).
Embora o investimento inicial para adaptação da infraestrutura portuária e dos contêineres de transporte seja elevado, os benefícios a longo prazo incluem menor impacto ambiental e redução nos custos operacionais em cerca de 15%.
Empresas como a Maersk já estão desenvolvendo navios movidos a hidrogênio e biocombustíveis, com o objetivo de diminuir significativamente as emissões de carbono e tornar o transporte internacional mais sustentável.
Além disso, tecnologias emergentes como navios totalmente elétricos, movidos a baterias de alta capacidade ou células de combustível de hidrogênio, estão sendo desenvolvidas.
Soluções inovadoras também incluem turbinas eólicas para aproveitamento da energia do vento e painéis solares instalados em embarcações para gerar eletricidade.
No contexto da logística portuária, aprimorar o design dos cascos e os sistemas de propulsão pode reduzir ainda mais o consumo de combustível e minimizar os impactos ambientais.
Essas iniciativas demonstram que a transição energética no setor é um processo inevitável para garantir um transporte marítimo mais sustentável e eficiente.
Sistemas de gestão integrada (TMS e ERP)
A digitalização da logística de transporte marítimo tem sido impulsionada pelo uso de sistemas de gestão integrada, como o TMS (Transportation Management System) e o ERP (Enterprise Resource Planning).
Essas tecnologias permitem a sincronização de informações entre transportadoras, portos brasileiros e clientes, garantindo maior previsibilidade e eficiência na movimentação de cargas marítimas.
Com um fluxo de dados contínuo, as empresas conseguem reduzir atrasos, melhorar o planejamento das rotas marítimas e otimizar o uso de contêineres de transporte.
No contexto do transporte internacional, estes sistemas facilitam a integração de operações entre diferentes países, reduzindo burocracias e custos.
O TMS é essencial para o rastreamento em tempo real das mercadorias, ajudando a evitar gargalos na logística portuária. Já o ERP centraliza a gestão financeira, administrativa e operacional, permitindo um controle mais eficiente de frotas e contratos.
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A implementação dessas tecnologias nos portos brasileiros é um passo fundamental para tornar o transporte marítimo no Brasil mais competitivo, sustentável e alinhado às tendências globais.
A adoção de navios autônomos, combustíveis sustentáveis e sistemas de gestão integrada (TMS e ERP) está redefinindo a logística de transporte marítimo, reduzindo custos operacionais e minimizando impactos ambientais.
A modernização da logística portuária e a digitalização das operações fortalecem a integração entre portos brasileiros, transportadoras e clientes, tornando o setor mais ágil e preparado para desafios futuros.
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