A relevância do transporte ferroviário brasileiro não é nenhuma novidade, tanto no escoamento de produtos como grãos, minério e combustíveis, quanto no transporte de passageiros em algumas regiões.
Porém, a eficiência, a segurança e a confiabilidade desse modal dependem diretamente de práticas consistentes de manutenção preventiva e corretiva dos vagões e locomotivas que compõem as frotas ferroviárias.
Foi com essa premissa que Felipe Sotani, supervisor de manutenção da VLI, ministrou uma aula magna na IPOS Especialização, parceiros de conteúdo do Congresso da NT Expo 2025.
Durante o encontro, ele detalhou os principais aspectos técnicos e desafios da manutenção de locomotivas, com informações fundamentais para profissionais do setor.
Preparamos um resumo dos principais pontos abordados por Sotani. Leia, a seguir!
A estrutura e a função das locomotivas
“A locomotiva é um veículo automotor, ou seja, ela mesma se traciona e anda sobre os trilhos. A locomotiva é a força motriz que puxa os vagões”, explicou Sotani ao iniciar a sua apresentação.
Ele destacou a relevância das principais fabricantes de locomotivas no Brasil: a Wabtec e a Progress Rail, sucessoras das conhecidas GE e GM, respectivamente.
No país, modelos como as GL8, G8, G12, G22, G26, SD40 e SD70 ainda estão em operação, cada uma com suas especificidades técnicas.
“A SD70, por exemplo, tem duas versões: BB e AC, sendo a última mais larga”, pontuou Sotani, enfatizando que o conhecimento detalhado dos modelos é essencial para a manutenção eficiente.
O truque: base estrutural e técnica
Uma das partes mais importantes da locomotiva é o truque, que suporta o peso, carrega os motores de tração e garante o amortecimento.
“Existem diferentes tipos de truques:
- Truque B (dois eixos);
- Truque C (três eixos);
- Truque D (quatro eixos); e
- Truque BB (quatro eixos divididos em dois blocos)”, explicou o especialista.
Sotani também destacou o impacto que falhas no truque podem causar: “Se errarmos com o truque, pode ser catastrófico. Uma trinca ou quebra pode descarrilar a locomotiva e causar acidentes graves.”
Areeiros: peças pequenas, função gigante
O areeiro, componente essencial do truque, também recebeu atenção especial.
Ele joga areia nos trilhos para aumentar o atrito entre roda e trilho, facilitando o movimento da locomotiva.
“Os areeiros têm mangueiras e bicos que requerem manutenção frequente. São componentes frágeis e de alta demanda”, alertou Sotani.
A plataforma: robustez e cuidados
A plataforma, comparada por Sotani ao chassi de um carro ou caminhão, é outra parte crucial.
Ela conecta a parte inferior da locomotiva (truque) à superior (demais componentes).
“Embora seja uma estrutura robusta e feita para durar, problemas podem surgir. Vazamentos de óleo, por exemplo, podem impregnar sistemas de ventilação e requerer manutenção complexa”, disse o supervisor.
Sotani ainda ressaltou que a manutenção dessa área é rara, mas exige atenção redobrada quando necessária.
“Quando há necessidade de acesso a dutos ou limpeza de sistemas, é um verdadeiro transtorno”, destaca.
Testeiras: proteção vital
Nas extremidades da locomotiva estão as testeiras, ou chapões dianteiros e traseiros, que servem como barreiras protetoras.
“Elas protegem contra objetos, animais ou veículos que possam invadir os trilhos e atingir componentes como motores de tração e truques”, explicou Sotani.
Entre os pontos frágeis das testeiras, estão as mangueiras e tomadas jumper, utilizadas para conectar locomotivas. “São partes sensíveis que requerem inspeção regular.”
Manutenção preventiva: a chave para a eficiência
Ao longo da aula, Sotani reforçou a importância da manutenção preventiva em todas as partes da locomotiva, desde os truques até as testeiras.
“Pequenos problemas não resolvidos podem se transformar em falhas catastróficas. É essencial realizar inspeções periódicas e manter uma rotina de cuidados com os componentes.”
Segurança e eficiência em primeiro lugar
A aula magna de Felipe Sotani ressaltou que o transporte ferroviário, vital para a economia brasileira, depende diretamente da qualidade da manutenção de vagões e locomotivas.
Combinando conhecimento técnico detalhado e práticas consistentes de inspeção, as operadoras ferroviárias podem garantir segurança, eficiência e longevidade de seus ativos.
Para o setor ferroviário, iniciativas como essa, que promovem o compartilhamento de conhecimento técnico especializado, são fundamentais para fortalecer a infraestrutura e contribuir para o desenvolvimento sustentável do País.
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