O setor ferroviário é essencial para a economia brasileira. Trata-se de uma das alternativas mais eficientes para a movimentação de grandes volumes de cargas em um país de dimensões continentais. 

Para compreender melhor os impactos econômicos e logísticos desse setor, entrevistamos Alessandro Baumgartner, superintendente de Transporte Ferroviário da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). 

Em nossa conversa, ele falou sobre o papel das ferrovias na competitividade do Brasil e os desafios enfrentados pelo setor. Acompanhe!

Impactos econômicos: logística estratégica para o agronegócio e a indústria

Segundo Baumgartner, o setor ferroviário exerce uma função estratégica na logística nacional, especialmente para produtos agrícolas e industriais. 

Ele explicou que “o transporte ferroviário de cargas tem um dos maiores potenciais de redução no custo logístico, especialmente para commodities agrícolas e setores industriais como siderurgia, celulose e minerais”. 

O Brasil, com vastas distâncias a percorrer e exportações focadas em produtos de baixo valor agregado e grandes volumes, pode se beneficiar enormemente de uma maior utilização das ferrovias.

Baumgartner explicou que mais de 60% do transporte de cargas no Brasil é feito por rodovias, que apresentam custos mais elevados e maior impacto ambiental. 

“A expansão da oferta de ferrovias seria uma alternativa natural para o transporte de grandes volumes ao longo das distâncias continentais do Brasil”, destacou o superintendente.

Competitividade internacional: reduzindo o Custo Brasil

Baumgartner apontou que o fortalecimento da malha ferroviária tem impactos diretos na competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional. 

“Com a expansão das ferrovias, podemos reduzir o Custo Brasil, especialmente na logística de transporte. Isso tornaria os produtos nacionais mais competitivos globalmente.” 

Ele acrescentou que, além da economia financeira, o modal ferroviário também é mais sustentável, com menor consumo energético por tonelada transportada e emissões reduzidas de carbono.

Outro benefício citado foi a melhora na organização das áreas portuárias. “O modal ferroviário pode reduzir o tráfego de caminhões nas áreas urbanas dos portos, otimizando a ocupação dessas regiões e tornando a logística portuária mais eficiente”, explicou o representante da ANTT.

Desafios de infraestrutura: custos elevados e limitações de investimentos

Apesar de suas vantagens, o setor ferroviário enfrenta desafios significativos. 

“Os custos de implantação de ferrovias no Brasil variam entre R$ 15 e 25 milhões por quilômetro, devido às barreiras naturais da geomorfologia brasileira”, explicou Baumgartner. 

Além disso, ele ressaltou a restrição fiscal do setor público e a limitada capacidade do setor privado para financiar investimentos de grande porte.

Contudo, o cenário pode estar mudando com o advento de legislações que incentivam investimentos, como as debêntures incentivadas. 

“Esse mecanismo pode abrir novas oportunidades para o mercado de capitais no Brasil e alavancar os investimentos no setor ferroviário”, completou o especialista.

Tecnologia e modernização: caminho para a eficiência logística

Baumgartner aponta que os Investimentos em Tecnologia e Modernização (ITM) das ferrovias tem duas dimensões:

  • ITM na infraestrutura ferroviária em si, ou seja, na linha férrea e seus sistemas; e
  • ITM em Material Rodante (frota), ou seja, em vagões e locomotivas. 

De acordo com o especialista: “Na primeira dimensão, o ITM em infraestrutura ferroviária e seus sistemas promove melhora no nível de manutenção da via permanente e seus sistemas, além de prover um adequado sistema de sinalização e controle de tráfego”.

Ja segunda dimensão, nas palavras de Baumgartner: “O ITM em Material Rodante, consiste em prover uma frota de vagões e locomotivas em termos de capacidade de carga (tonelada útil do vagão) e tração (potência das locomotivas), devidamente manutenida e moderna, com equipamentos embarcados nas locomotivas compatível com o nível de sinalização e controle daquela ferrovia”. 

Redução de custos logísticos e impacto no consumidor final

A transição de rodovias para ferrovias representa uma significativa economia no custo de transporte. 

“O consumo energético das rodovias é cerca de três a quatro vezes maior do que o das ferrovias. Como o transporte responde por mais de 40% do custo logístico, a migração para o modal ferroviário pode reduzir custos e, consequentemente, o preço final dos produtos ao consumidor”, afirmou Baumgartner.

Essa redução de custos também beneficia o mercado interno, tornando produtos mais acessíveis e competitivos no Brasil.

Benefícios ambientais: as ferrovias como alternativa sustentável

Além dos impactos econômicos, o modal ferroviário contribui para a sustentabilidade ambiental. 

“O transporte ferroviário emite até quatro vezes menos CO₂ por tonelada transportada do que o rodoviário”, disse Baumgartner. 

Ele também destacou a redução no uso de combustíveis fósseis e o incentivo à transição para energias renováveis como benefícios adicionais.

Esses fatores tornam as ferrovias um componente essencial para as metas de sustentabilidade do Brasil.

Segundo Baumgartner, o modal ferroviário é essencial para o país a alinhar-se a padrões internacionais de redução de emissões de carbono.

Um futuro promissor para o transporte ferroviário

O setor ferroviário brasileiro apresenta desafios consideráveis, mas também oportunidades significativas de crescimento e modernização. 

Com investimentos em infraestrutura, tecnologia e incentivos financeiros, as ferrovias podem transformar a logística nacional.

Acredita-se que o modal ferroviário, se receber o devido investimento, melhorará a competitividade do Brasil no mercado global e contribuirá para um desenvolvimento mais sustentável.

Como resumiu Baumgartner: “O transporte ferroviário é a chave para um futuro logístico mais eficiente, econômico e ambientalmente responsável no Brasil.”

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